Empresas latino americanas resistem a divulgar dados sobre riscos climáticos

Índice global medido pela EY mostra que a região encontra-se abaixo da média mundial, tanto na abrangência dos indicadores cobertos quanto na qualidade das informações apresentadas

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São Paulo — As empresas da América Latina ainda não se mostram tão dispostas a divulgar dados que apontem para o nível de exposição aos riscos das mudanças climáticas. O Global Climate Risk Diclosure Barometer, divulgado pela Agência EY, indica que tanto do ponto de vista da abrangência dos indicadores analisados quanto da qualidade das informações disponíveis, as empresas latino-americanas encontram-se abaixo da média mundial.

O relatório deste ano mostra que, globalmente, as empresas analisadas receberam uma nota de 70% no que se refere à cobertura das recomendações feitas pela Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD), uma força-tarefa criada pelo Financial Stability Board (FSB), órgão internacional que monitora e faz recomendações ao sistema financeiro global. No caso das empresas da América Latina, a nota obtida foi de 64%.

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Pela metodologia da EY, uma nota 100% é dada às empresas que divulgaram algum nível de informação compatível com cada uma das recomendações, independentemente da qualidade. No total, são 11 recomendações, sendo duas ligadas à governança das empresas, três à estratégia, três à gestão de risco e outras três às métricas e metas.

Do ponto de vista da qualidade das informações, a situação é ainda mais crítica. Enquanto a nota global ficou em 42%, as empresas da América Latina obtiveram a pontuação de apenas 29%. Pela metodologia da EY, uma empresa recebe a pontuação máxima quanto demonstra ter adotado todas as recomendações da TCFD e a qualidade dos dados divulgados também atendem os requisitos da força-tarefa.

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“Em geral, os relatórios mais avançados são de países que lideram com fortes regulamentações de divulgação do clima e sinais de política claros. No entanto, mesmo em regiões menos engajadas no debate sobre o clima, a pressão dos investidores tem impulsionado o progresso”, diz o Global Climate Risk Diclosure Barometer.

Situação no Brasil

Apesar da situação pouco confortável da América Latina, o relatório coloca o Brasil em uma posição de destaque. De acordo com a análise, o país tem um alto desempenho na região por conta do papel do sistema financeiro local e pela condução da agenda climática. “É provável que isso continue, especialmente porque o Banco Central do Brasil colocou uma regra que se inspira na TCFD para regular a divulgação de riscos climáticos em consulta pública, para implementação até 2030”, diz.

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Melhores do mundo

Os mercados de melhor e pior desempenho não mudaram significativamente em relação aos anos anteriores. Em média, as pontuações mais altas de cobertura das empresas continuam associadas à maturidade dos mercados onde governos, acionistas, investidores e reguladores locais têm maior atuação.

As empresas sediadas no Reino Unido apresentaram a pontuação mais alta na qualidade das divulgações, com uma média de 67%, com uma melhoria significativa de 28 pontos em comparação com 2019. Segundo a EY, o avanço pode ser atribuído à possibilidade de as empresas estarem se preparando com antecedência à possibilidade de as recomendações da TCFD se tornarem obrigatórias.

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Na Europa, Estados Unidos, Oceania, Japão e África do Sul, a maior maturidade dos relatórios reflete o envolvimento crescente das autoridades locais de mercado e seus reguladores sinalizando suas expectativas em relação à gestão de risco climático e divulgações.

Os piores desempenhos foram registrados na China, América do Sul e Sudeste Asiático. Segundo o relatório, a situação dessas regiões reflete a falta de foco nos riscos e oportunidades climáticas por parte das empresas e reguladores de mercado, apesar da intensidade relativamente alta de carbono de suas economias.

“Quase 50% das organizações na pesquisa têm 100% de cobertura, mas apenas 3% receberam uma pontuação de 100% de qualidade, demonstrando claramente espaço para melhorias. Os dados indicam que, embora mais empresas estejam de fato relatando riscos e oportunidades relacionados ao clima, eles podem estar fazendo isso como um exercício de ‘caixa de seleção’”, diz o relatório.

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