Cinco conclusões do último relatório da ONU sobre mudanças climáticas

Relatório publicado no início desta segunda-feira atesta responsabilidade humana sobre aquecimento global

Apesar da sensação de resfriamento causada pelas partículas de combustíveis fósseis na atmosfera, o mundo está mais quente, e alguns efeitos seriam irreversíveis por décadas mesmo se as emissões fossem reduzidas hoje
Por Eric Roston e Akshat Rathi
09 de Agosto, 2021 | 09:23 AM

Bloomberg — O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas entregou nesta segunda-feira (9) o mais recente relatório sobre o estado da ciência climática global – o sexto em mais de 30 anos de história do órgão.

Os mais de 200 autores do relatório destilaram 14 mil estudos individuais para produzir o documento. Até mesmo o chamado “resumo para autoridades” do IPCC, um filtro das principais conclusões do relatório aprovadas pelas delegações de 195 nações, chega a 42 páginas.

Eis aqui cinco principais conclusões do relatório:

1. A última década foi mais quente do que qualquer período em 125 mil anos

Não é só isso; o nível de CO₂ atmosférico está atualmente em um pico de dois milhões de anos. O consumo de combustíveis fósseis se combinou com a agricultura para levar os índices de metano e óxido nitroso – também gases de efeito estufa – para recordes de pelo menos 800 mil anos.

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Todos os gases de efeito estufa elevaram a temperatura média global em cerca de 1,1°C acima da média do final do século XIX. Na verdade, os humanos já despejaram gases de efeito estufa na atmosfera para aquecer o planeta em 1,5°C – uma das metas de redução estabelecidas pelo Acordo de Paris – mas a poluição por partículas finas de combustíveis fósseis está mascarando esse aumento, proporcionando um efeito de resfriamento.

A contribuição da combinação com fatores naturais, como o sol e os vulcões, para o aquecimento global agora é estimada em quase zero.

2. Os cientistas agora podem vincular eventos climáticos específicos às mudanças climáticas causadas pelo homem

Nem sempre foi assim. Há 20 anos, por exemplo, era virtualmente impossível atribuir qualquer tempestade ou aumento de temperatura ao aquecimento global. Mas a ciência do clima viu especialidades inteiras surgirem e amadurecerem desde o megarrelatório anterior do IPCC em 2013.

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Nenhum campo é mais importante que a capacidade de analisar eventos climáticos extremos em tempo real para determinar o papel que a mudança climática está desempenhando. A onda de calor mortal que atingiu a costa oeste da América do Norte em junho tinha evidências detectáveis de responsabilidade humana – e essa determinação veio rapidamente. O World Weather Attribution – grupo internacional de pesquisas – precisou de apenas alguns dias após o início da onda de calor para concluir que as temperaturas extraordinárias seriam “virtualmente impossíveis” sem as mudanças climáticas.

3. Os cientistas reduziram o intervalo estimado de resposta das temperaturas às emissões de gases de efeito estufa

Este é um marco no campo da sensibilidade climática que levou quatro décadas. Com base em pesquisas sobre climas antigos, bem como em tecnologia avançada de satélite que monitora nuvens e emissões, os novos modelos diminuíram as projeções da provável resposta da atmosfera às emissões industriais. Isso permitiu que os autores do IPCC focassem suas projeções de temperatura para o resto do século, dando à humanidade uma ideia mais clara do que pode acontecer se não agirmos rapidamente para reduzir as emissões.

A resposta da Terra a uma teórica duplicação de níveis pré-industriais de CO₂ está atualmente entre 2,5°C e 4°C – um intervalo muito menor do que aquele estabelecido em relatórios anteriores do IPCC – entre 1,5°C e 4,5°C. Essas constatações descartam a possibilidade de que as emissões irrestritas tenham um efeito moderado nas temperaturas globais, uma esperança que poucos observadores dos eventos dos últimos meses poderiam ter. Mas esse intervalo menor também fornece evidências poderosas do melhor caminho para a segurança do mundo: encerrar rapidamente a liberação de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa.

4. A Terra recompensa bom comportamento

Praticamente no momento em que as emissões cessarem, o aquecimento também cessará, e as temperaturas se estabilizarão em algumas décadas. Mas alguns efeitos – como o aumento do nível do mar – permanecerão irreversíveis por séculos. É uma corrida entre o evitável e o inevitável, e a humanidade está atrasada.

Os cientistas abriram novos caminhos neste relatório do IPCC ao projetar o que acontecerá quando nossas emissões chegarem a zero. Conforme o mundo reduz o uso de combustíveis fósseis, por exemplo, o efeito de resfriamento dos aerossóis começará a diminuir. Os cientistas estão confiantes de que uma forma de conter essa diminuição seria buscar “reduções fortes, rápidas e sustentadas” para as emissões de metano. Além de CO₂, metano e óxido nitroso, existem quatro outros gases de efeito estufa que também oferecem oportunidades para frear o aquecimento.

5. Os cientistas voluntários do IPCC chegaram a um consenso com todos os governos da ONU antes de divulgar o relatório

Às vezes é difícil, mas o acordo unânime entre as nações do mundo, que devem afirmar que as descobertas estão resumidas com precisão, é uma ferramenta muito poderosa. É isso que torna o IPCC o órgão com mais autoridade quanto ao aquecimento global.

O novo relatório começa com uma declaração definitiva: “É incontestável que a influência humana aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra”. Tom Evans, pesquisador de diplomacia climática do think tank E3G, resumiu a implicação: “Nenhum governo tem desculpa para se esquivar de sua responsabilidade de agir.”

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