Bloomberg — O presidente Donald Trump se reuniu com o CEO da Intel, Lip-Bu Tan, na Casa Branca para finalizar um acordo que concede ao governo americano uma participação acionária de quase 10% na fabricante de chips, que passa por uma fase de dificuldades.
Sob o acordo fechado nesta sexta-feira (22), os Estados Unidos receberão 433.323.000 ações ordinárias — representando 9,9% das ações ordinárias totalmente diluídas da Intel (INTC).
O governo americano se compromete a liberar quase US$ 8,87 bilhões em financiamento sob a Lei Chips and Science, disseram pessoas familiarizadas com os termos, que falaram com a Bloomberg News sob condição de anonimato para delinear o acordo antes de ser formalmente anunciado.
O valor representa o financiamento restante que foi concedido nos termos da lei, mas ainda não distribuído à Intel, disseram elas.
As ações não têm direito a voto e não há assento no conselho para o governo americano, segundo as pessoas. Tan estava no prédio do Departamento de Comércio na sexta-feira finalizando o acordo.
“Eles concordaram em fazer isso e acho que é um grande negócio para eles”, disse Trump a repórteres na sexta-feira na Casa Branca antes do encontro, apresentando o acordo como um que revitalizaria a empresa.
As ações da Intel estenderam seus ganhos para até 7,2% na sexta-feira.
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A posse parcial pelos Estados Unidos da fabricante de chips marca um raro nível de intervenção do estado numa empresa americana, indo contra os princípios do capitalismo de livre mercado que investidores e formuladores de políticas públicas há muito tempo consideram sagrados, exceto nas situações mais extraordinárias, como guerra ou crise econômica sistêmica.
Mas o acordo oferece uma nova forma para Trump usar o benefício fiscal da Lei Chips and Science, após criticar por muito tempo a lei assinada por seu antecessor, o ex-presidente Joe Biden.
Trump disse que os subsídios da lei para fabricantes de semicondutores não proporcionaram qualquer retorno aos contribuintes americanos. A Intel já estava destinada a ser a maior beneficiária do dinheiro da lei.
O presidente disse que a Intel havia sido “deixada para trás” por seus concorrentes fabricantes de chips e que sugeriu a ideia de tomar uma participação acionária quando se reuniu com Tan no início deste mês.
O acordo também representa uma reviravolta na relação do presidente com a empresa. No início deste mês, Trump pediu a demissão de Tan e o acusou de ter “grandes conflitos” devido a preocupações sobre suas ligações anteriores com a China. As críticas levaram ao encontro entre o presidente e o CEO da Intel.
“E eu disse: ‘Sabe de uma coisa? Acho que os Estados Unidos deveriam receber 10% da Intel’, e ele disse: ‘Eu consideraria isso’, e eu disse: ‘Bem, gostaria que você fizesse isso’”, disse Trump.
O secretário de Comércio, Howard Lutnick, sinalizou que Trump quer ver benefícios mais diretos para os Estados Unidos do financiamento de empresas-chave, em vez de apenas distribuir subsídios. Lutnick tem trabalhado para finalizar os detalhes do acordo desde a reunião de Tan e Trump.
Embora a Casa Branca tenha apresentado o acordo da Intel como possível modelo para outras empresas, as autoridades não disseram com quais companhias pode estar tendo discussões similares.
Um funcionário americano, no entanto, disse que empresas que estão aumentando compromissos de investimento nos EUA, incluindo Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC) e Micron Technology, não serão pressionadas a oferecer participação acionária em troca de financiamento.
Embora o governo tenha sinalizado suas intenções em se envolver com a Intel nas últimas semanas, a medida cria riscos incalculáveis que podem distorcer mercados e o fluxo de capital, além de levar a perdas massivas dos contribuintes.
Mas a aposta do governo também pode render muito para uma pioneira da indústria de tecnologia. A Intel enfrentou um período turbulento diante da preocupação de investidores de que a empresa estaria perdendo sua vantagem tecnológica e ficando muito atrás dos concorrentes.
A nova injeção de quase US$ 9 bilhões de capital aumenta as perspectivas de crescimento da empresa. Também abre a porta para parcerias que podem ser essenciais para o desenvolvimento de nova propriedade intelectual e tecnologia, áreas onde a Intel ficou para trás nos últimos anos.
Ainda assim, para que a capital do governo impulsione a Intel, Trump terá que fazer mais do que apenas tomar uma participação. Analistas de Wall Street não esperam que apenas dinheiro vire a empresa, que sofreu anos de vendas e participação de mercado em declínio. Mas há possibilidade de que pressão de Trump ajude a conseguir mais clientes para o braço de produção da Intel, potencialmente justificando o custo de expandir a manufatura doméstica.
“Trump meio que se torna seu vendedor”, disse Dan Morgan, gestor sênior de portfólio da Synovus Trust que acompanha a empresa desde os anos 1990.
Conseguir mais clientes da Intel pode ser uma venda difícil para Trump. O braço de fabricação de chips (foundry) da empresa é amplamente considerado inferior aos rivais e ainda deve construir novas instalações de ponta.
“Além de dinheiro, a Intel precisa de clientes”, disse o analista da Bernstein Stacy Rasgon numa nota aos clientes. “Financiar uma expansão sem clientes provavelmente não terminará bem para os acionistas, dos quais o governo americano seria o maior nesta situação”, disse ele.
O acordo da Intel exemplifica como Trump abraçou um novo estilo de diplomacia econômica em seu segundo mandato, enquanto busca impulsionar a indústria doméstica, reequilibrar laços comerciais e garantir dominância americana em setores críticos.
Trump no início de agosto anunciou um acordo legalmente questionável com a Nvidia e a Advanced Micro Devices (AMD), no qual as empresas concordaram em dar ao governo americano 15% da receita gerada das vendas de chips de inteligência artificial para a China.
Isso ocorreu depois de Trump garantir uma participação em “golden shares” da Nippon Steel que dá ao presidente poder para tomar decisões sobre a United States Steel, que a siderúrgica japonesa adquiriu.
O Departamento de Defesa no mês passado também anunciou que tomará uma participação acionária de US$ 400 milhões na pouco conhecida empresa americana de terras raras MP Materials.
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