Bloomberg — A Moonshot Factory, divisão do Google que trabalha em projetos de tecnologia de longo prazo, vai fazer uma revisão a rede elétrica do Rio de Janeiro antes da possível construção de data centers que poderiam colocar a cidade na vanguarda da indústria de inteligência artificial da América Latina, segundo o vice-prefeito Eduardo Cavaliere.
O trabalho será feito com a Tapestry, uma divisão da Moonshot Factory voltada à gestão de redes elétricas, e deve ser uma das quatro iniciativas que o Rio pretende anunciar no início de novembro, durante um evento paralelo à Cúpula Mundial de Prefeitos do C40, afirmou Cavaliere em entrevista à Bloomberg News.
O acordo com a Tapestry, segundo ele, não incluirá investimento direto em data centers.
Demonstrar a confiabilidade da rede de energia é um passo essencial para convencer gigantes globais de tecnologia a escolher o Rio como destino para novos centros de dados. O projeto Rio AI City, quando concluído, exigirá uma quantidade de eletricidade equivalente ao consumo atual de toda a cidade.
“A Tapestry é muito importante para o projeto Rio AI City porque certifica a qualidade da distribuição de energia”, disse Cavaliere. “Data centers e grandes provedores de nuvem precisam confiar na infraestrutura energética.”
Um porta-voz da Tapestry preferiu não comentar.
Leia também: BlackRock e MGX compram Aligned Data Centers, dona da Odata no Brasil, por US$ 40 bi
O Rio AI City fica ao lado do Parque Olímpico, próximo à Barra da Tijuca. O projeto pretende aproveitar parte da infraestrutura legada dos cabos de alta velocidade usados nas transmissões dos Jogos Olímpicos de 2016, explicou Cavaliere.
A Moonshot Factory, antes conhecida como Google X, foi criada em 2010 e deu origem a algumas das iniciativas mais ambiciosas da Alphabet, como a empresa de carros autônomos Waymo e a companhia de ciências da vida Verily, que mais tarde se tornaram empresas independentes do grupo.
Nos últimos anos, porém, a divisão passou a atuar como uma incubadora que transforma seus projetos em startups — movimento impulsionado por pressões financeiras e pela prioridade crescente da companhia em inteligência artificial.
A Elea Data Centers, desenvolvedora do Rio AI City, estruturou o projeto para atrair as maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos, disse o CEO Alessandro Lombardi. A recente aprovação de incentivos fiscais para data centers tem ajudado a aumentar o interesse, afirmou.
A expansão do Rio AI City exigirá grandes investimentos na transmissão e geração de energia no Brasil. Atualmente, a matriz elétrica do país depende fortemente da hidreletricidade e, em 2021, uma seca chegou a levantar preocupações sobre o risco de racionamento.
Segundo Lombardi, uma nova usina nuclear no estado do Rio de Janeiro e uma linha de transmissão que trará energia eólica e solar do Nordeste ajudarão a Elea a garantir o fornecimento necessário até o fim da década.
Ele calcula que o custo para levar o projeto a uma capacidade de 1,5 gigawatt até 2028 ou 2029 será de cerca de US$ 50 bilhões. Aproximadamente 20% desse valor será destinado à infraestrutura básica dos data centers, e o restante, ao hardware de computação, disse Lombardi. A expectativa é que a capacidade total do projeto chegue futuramente a 3,2 gigawatts.
“É ambicioso”, afirmou. “Quais são as cidades do futuro? São aquelas que conseguem construir capacidade computacional nessa escala.”
O Brasil é considerado o país mais bem posicionado da América Latina para aproveitar o boom global de investimentos em data centers, por contar com diversas fontes de energia renovável e a maior rede de cabos de fibra óptica de alta velocidade da região.
Ainda assim, apenas um terço dos data centers anunciados no país deve realmente sair do papel, já que muitos não têm conexão com a rede elétrica e outros estão muito distantes de São Paulo, o principal centro financeiro brasileiro, disse Inês Gaspar, líder de pesquisa da Aurora Energy para a América Latina.
“A demanda projetada é bastante inflada porque há sobreposição de pedidos e muitos anúncios especulativos”, afirmou.
Lombardi destacou que o Rio AI City fica próximo a linhas de transmissão e subestações e está relativamente perto de São Paulo.
Ele disse esperar anunciar o investidor da primeira fase do projeto no início do próximo ano.
-- Com a colaboração de Davey Alba.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Nvidia forma parceria de US$ 2,9 bilhões para construção de data centers na Austrália
Brasil entra na mira de gestora global em plano de US$ 8 bi para data centers
©2025 Bloomberg L.P.