Por que a nova onda da IA generativa envolve um aumento de fusões e aquisições

Setor começa a entrar em fase de consolidação com a tecnologia mais integrada ao mercado, segundo especialistas; operações de M&A crescem 12% no 1º trimestre

Houve queda de 43% nos investimentos globais em IA no primeiro trimestre de 2023 em comparação com o trimestre anterior (Foto: Andrea Verdelli/Getty Images)
18 de Julho, 2023 | 05:05 AM

Bloomberg Línea — Há um mês, quando a Databricks anunciou um acordo para comprar a MosaicML por US$ 1,3 bilhão, o negócio não envolveu apenas uma concorrente da OpenAI com expertise em redes neurais para treinar Grandes Modelos de Linguagem (LLM). Representou também uma das tendências no mercado crescente de empresas que atuam com Inteligência Artificial (IA) generativa.

À medida que empresas como a Microsoft - que investiu US$ 10 bilhões no começo do ano na própria OpenAI - tentam se manter à frente na corrida para aproveitar o poder da IA, uma onda de fusões e aquisições (M&A) começa a tomar forma e promete remodelar o cenário competitivo.

É o que aponta um estudo da CB Insights, que mostra que a febre da IA generativa não foi capaz de salvar o financiamento da IA de uma queda acentuada no primeiro trimestre de 2023. Houve uma queda de 71,4% no investimento global no setor, que foi de US$ 5,4 bilhões ante US$ 18,9 bilhões no mesmo período do ano passado. Em comparação com os últimos três meses de 2022, o recuo foi de 43%.

Ao mesmo tempo, fusões e aquisições aumentaram 12% em relação ao trimestre anterior. Foram 75 negócios no setor. Embora ainda abaixo dos números de 2021, isso representa uma mudança significativa.

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Por outro lado, os IPOs permaneceram escassas no primeiro trimestre para empresas de IA: houve apenas duas ofertas públicas iniciais e nenhuma por meio de um SPAC - a bem da verdade, para o mercado inteiro.

Do lado do comprador, o risco diminuiu porque essas startups provaram que seus pilotos funcionam e agora é o momento de comprá-las antes que ampliem a escala e fiquem mais caras, disse Jorge Calvo, vice-reitor da GLOBIS School of Management Tokyo e professor da ESADE Business School. Essa também é uma oportunidade estratégica para evitar que empresas com grande potencial sejam adquiridas por concorrentes.

Número de negócios de fusões e aquisições (M&A) aumentam 12% no primeiro trimestre em relação ao anterior, enquanto IPOs permanecem em volume reduzido (Fonte: CB Insights)
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Do ponto de vista dos vendedores, o cenário macroeconômico mais desafiador, com o custo mais alto do capital, torna este um momento propício para recuperar os investimentos. “Além do fato de que a IA está começando a se tornar um pouco madura, os grandes fundos estão investindo menos porque estão focados em obter retornos e mitigar riscos”, complementou o especialista em IA.

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Planos para unicórnios da América Latina

A Aivo, da Argentina, que desenvolve software de atendimento ao cliente baseado em IA, tem avaliado ofertas de possíveis compradores, revelou seu CEO e fundador, Martín Frascaroli, à Bloomberg Línea.

“Temos duas maneiras naturais de crescer e ganhar participação no mercado: uma é levantar capital, formar uma equipe de vendas completa e procurar clientes. E a outra é procurar alguma empresa que já tenha clientes compatíveis com nossa solução e acelerar o processo de crescimento. Isso nos beneficia e pode beneficiar a outra empresa”, disse o empreendedor.

De acordo com Frascaroli, essa é uma decisão estratégica da empresa para aproveitar o momentum do mercado. A empresa, legalmente registrada nos Estados Unidos e com presença em 11 países da América Latina, espera faturar US$ 15 milhões neste ano.

“Estamos em um processo bastante exploratório. Não há conversas avançadas, mas estamos conversando com fundos de capital de risco e também com empresas que são estratégicas e para as quais nossa solução agrega valor”, explicou Frascaroli.

No caso da Globant, o plano é sair às compras, disse seu co-fundador e presidente para Europa, Oriente Médio e África (EMEA), Martin Umaran, à Bloomberg Línea. “Quando as empresas atingem um determinado tamanho, é mais difícil inovar. Às vezes, um M&A é a maneira mais rápida de capturar novas tecnologias e ganhar participação de mercado de forma mais eficiente”, disse Umaran, que observou que o objetivo da empresa é “continuar a crescer e gerar valor”.

O apetite da gigante argentina de software por aquisições não é novo. Nos últimos três anos, a Globant adquiriu cerca de dez empresas, explicou Umaran, sem revelar o valor investido.

O plano agora é investir em todos os processos da Globant que incluam inteligência artificial, especialmente aqueles relacionados aos Grandes Modelos de Linguagem (LLM) e aos setores financeiro, de varejo e de viagens e lazer.

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“Para isso, é claro que teremos que buscar aquisições e fazer com que algumas das empresas que criamos trabalhem de forma autônoma para aproveitar melhor a horizontalidade do produto”, disse.

Um oásis chamado Vale do Silício

Embora o financiamento global para empresas de IA tenha caído neste ano, mesmo nos EUA - onde houve queda de 27% no primeiro trimestre em comparação com os últimos meses de 2022 -, o Vale do Silício registrou uma recuperação.

No epicentro global para startups, os investimentos e o número de negócios cresceram 41% e 20% nessa base de comparação, respectivamente. De acordo com outro estudo da CB Insights, esse aumento no financiamento foi impulsionado por mega rodadas no valor de US$ 1,2 bilhão no total, com o capital sendo direcionado para empresas de IA generativa sediadas na região.

“O Vale do Silício já está na próxima onda de IA, dedicada ao desenvolvimento de aprendizagem multimodal, sistemas mais refinados que, além de texto, imagens e vídeo, terão a capacidade de interpretar e produzir outros formatos de conteúdo”, disse Jorge Calvo, acadêmico de IA e autor do livro Journey of the Future Enterprise.

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Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.