Os planos da Nuvini, startup de Pierre Schurmann, após a estreia na Nasdaq

Empresa de software levantou US$ 18 milhões com a estreia na bolsa americana; CEO e fundador falou à Bloomberg Línea sobre os próximos passos

Pierre Schurmann ao centro com funcionários da Nuvini na cerimônia de abertura do pregão da Nasdaq, em Nova York, no último dia 2 de outubro (Foto: Reprodução/Nasdaq)
12 de Outubro, 2023 | 05:10 AM
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Bloomberg Línea — A startup brasileira Nuvini (NVNI) estreou na Nasdaq no início do mês por meio da fusão com uma SPAC (empresa de propósito especial, na sigla em inglês) e, agora, busca oportunidades no mercado para acelerar o plano de crescer o portfólio com aquisições, segundo o fundador e CEO, Pierre Schurmann.

“Nós continuamos focados em comprar novas empresas. Espero que neste ano a gente consiga anunciar alguma das empresas que pretendemos comprar”, disse Schurmann em entrevista à Bloomberg Línea. Segundo ele, o plano é realizar 17 transações de aquisição.

A companhia que atua no segmento de SaaS (Software as a Service) procura identificar empresas menores ou concorrentes que podem ser consideradas estrategicamente valiosas, de acordo com Schurmann. O plano inclui a gestão e o desenvolvimento das adquiridas.

Atualmente, o grupo Nuvini já inclui um portfólio de sete empresas de SaaS adquiridas anteriormente: Leadlovers, Ipê Digital, Effecti, Datahub, Onclick, Mercos e SmartNX.

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É uma estratégia comum entre empresas de tecnologia que desejam crescer rapidamente, adicionar novos ativos ao portfólio ou consolidar o mercado, a exemplo do que fazem no Brasil a Totvs (TOTS3) e a Stefanini, de capital fechado, para citar dois exemplos.

Os papéis da empresa encerraram a quarta-feira (11) com alta de 9,22% no dia, cotadas a US$ 3,50. A ação acumula desvalorização de 45% desde o início das negociações na Nasdaq em 2 de outubro.

A empresa de Pierre Schurmann concluiu no mês passado uma fusão com a Mercato Partners, uma SPAC, que é uma companhia criada com o único propósito de se fundir com outra e levá-la para bolsa. A Nuvini levantou na operação US$ 18 milhões (aproximadamente R$ 90 milhões).

Segundo Schurmann, o valor ficou “bem abaixo” do esperado pela empresa, de US$ 60 milhões, o que pode ser explicado pelo alto número de investidores originais do SPAC que optaram por não participar da fusão e preferiam receber de volta o capital investido, algo que é chamado de redemption no jargão do mercado. O valor mínimo para garantir a fusão era de US$ 12 milhões.

O negócio com a Mercato avaliou a Nuvini em US$ 283 milhões, segundo dados da plataforma SPAC Research.

Mesmo com o valor captado abaixo das expectativas, a Nuvini decidiu seguir com a transação. Schurmann disse que o acesso ao mercado de capitais americano e a maior facilidade na obtenção de linhas de crédito são aspectos atraentes para a empresa, o que justificou manter a fusão.

“Temos uma visão de longo prazo de dois, três, cinco anos que nos dão alguma tranquilidade, de que nós conseguimos gerar e mostrar o valor da companhia para o investidor”, afirmou. “Isso aqui é uma uma forma de acesso a capitais e de investidores de longo prazo.”

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Com os recursos levantados na estreia da bolsa, a Nuvini também planeja expandir sua presença geográfica na América Latina, além das já citadas oportunidades de aquisição.

O modelo seguido pela Nuvini para abrir capital, por meio de uma fusão com uma empresa SPAC, já havia sido adotado também por outras empresas brasileiras, entre elas a Semantix (STIX), que se fundiu com a Alpha Capital e estreou na Nasdaq em agosto de 2022.

As SPACs existem desde os anos 1990, mas o modelo de abertura de capital por meio de uma fusão atraiu mais interesse no mercado americano a partir de 2014 até atingir o auge em 2021, quando mais de 600 SPACs originaram ofertas públicas iniciais, levantando US$ 162,5 bilhões.

Em 2022 e 2023, no entanto, a retração do mercado de capitais com o aumento das taxas de juros fizeram o modelo perder força e muitas SPACs não conseguiram encontrar companhias interessadas em uma fusão dentro do prazo estipulado e tiveram que devolver o dinheiro aos investidores.

O que faz a Nuvini

Fundada em 2019 por Schurmann, a Nuvini foi criada com o objetivo de comprar empresas de Software as a Service (SaaS) B2B, que servem outros clientes no Brasil e na América Latina, e atuar na consolidação do setor.

As empresas que são parte do grupo Nuvini atuam nas áreas de gestão de vendas, ERP, soluções de marketing, desenvolvimento de produtos digitais e acompanhamento de licitações públicas.

A estratégia da Nuvini está baseada na visão de funcionar como uma solução de liquidez para startups e uma alternativa de investimento em valor. Entre seus concorrentes estão companhias como o grupo Movile, por trás do iFood, a Totvs e a Stefanini.

Em 2022, a empresa teve receitas de R$ 124,5 milhões e prejuízo líquido de R$ 114,2 milhões, um avanço em relação aos resultados de 2021, quando as receitas haviam sido de R$ 89,9 milhões, e o prejuízo, de R$ 77,7 milhões.

Desde sua fundação, a Nuvini completou duas rodadas de investimento com family offices e captou uma debênture na B3.

Quem é Pierre Schurmann

Schurmann é um investidor reconhecido por sua ativa participação em startups brasileiras por meio da Bossa Invest (ex-Bossa Nova Investimentos), uma das mais longevas empresas de venture capital do Brasil, com mais de 1.500 investidas, que conta com João Kepler como sócio.

Muitos anos antes, Pierre Schurmann se tornou famoso pela origem familiar. Ele e sua família - incluindo os pais velejadores Vilfredo e Heloísa Schurmann e os irmãos - foram os primeiros brasileiros a dar uma volta ao mundo em um veleiro nas décadas de 1980 e 1990.

Depois de estudar administração de empresas na Flórida, Schurmann fundou a Zeek, uma plataforma de busca online, em 1997. Em 2000, com 30 anos, vendeu a empresa para a americana Star Media Network, provedora de internet concorrente da AOL (America Online, uma das primeiras empresas de serviço de internet), e assumiu a posição de diretor de desenvolvimento de novos negócios no Brasil.

Para Schurmann, o negócio deu certo: a Star Media acabou fazendo uma oferta pública na Nasdaq em 1999, levando investidores americanos a prestar atenção nos provedores de internet focados na América Latina.

Schurmann e a Star Media surfaram a onda da “bolha das pontocom” à época, quando Yahoo!, Microsoft, AOL, PSINet, Telefónica e os locais UOL e Grupo Globo disputavam as páginas da web no Brasil.

O período de euforia com empresas da nova economia da internet atingiu o auge no final dos anos 1990, com o pico em 2000, com grandes avaliações de mercado e IPOs.

A bolha estourou no final de 2000, quando investidores perceberam que muitas empresas estavam mais valorizadas do que geravam lucros, o que levou a uma queda significativa nas ações.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups