BlaBlaCar faz do Brasil seu principal mercado e prevê expansão em LatAm, diz CEO

Empresa francesa de caronas e venda de passagens de ônibus chegou a 22 milhões de contas de usuários no Brasil e agora mira países como Argentina, Chile e Colômbia, conta o cofundador e CEO global, Nicolas Brusson, à Bloomberg Línea

Nicolas Brusson, CEO da BlaBlaCar: Queremos ser vistos como uma marca líder global na distribuição de ônibus de longa distância
30 de Outubro, 2025 | 06:01 AM

Bloomberg Línea — A BlaBlaCar, plataforma francesa de carona compartilhada e passagens de ônibus, prepara uma nova onda de expansão internacional com foco na América Latina e no Sudeste Asiático.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO e cofundador Nicolas Brusson delineou os próximos passos da empresa, que hoje opera em 22 países e tem no Brasil o seu maior mercado em número de usuários cadastrados.

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“Nos próximos 2 ou 3 anos, precisamos começar a abrir em alguns desses novos países na América Latina, como Argentina, Colômbia e Chile”, afirmou Brusson, que fundou a startup em 2006 com Frédéric Mazzella e Francis Nappez.

Na região, a plataforma está presente apenas no Brasil e no México, as duas maiores economias.

“E também muito no Sudeste Asiático, com Vietnã, Tailândia, Malásia e Indonésia, que são lugares em que eu adoraria entrar.”

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Os maiores investimentos da BlaBlaCar hoje estão direcionados para ampliar a oferta de passagens de ônibus, vertical lançada em 2019.

“Queremos ser vistos como uma marca líder global na distribuição de ônibus de longa distância”, disse o co-fundador.

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O produto está em expansão em mercados como o Brasil e a Europa, onde a plataforma também oferece bilhetes de trem, e deve ganhar novo ritmo na Índia, líder global em número de viagens de carona.

O plano da BlaBlaCar é adicionar conveniência para os usuários e, ao mesmo tempo, colocar o sistema de carona como uma espécie de “last mile” da mobilidade.

22 milhões de contas no Brasil

“Precisamos escalar isso e expandir para novas geografias, porque agora sentimos que temos um playbook muito forte que funciona muito bem em vários mercados”, afirmou Brusson, que ocupa a cadeira de CEO desde 2016.

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A plataforma desembarcou no Brasil um ano antes, nos últimos meses de 2015, e hoje possui 22 milhões de contas registradas dentro de uma base de mais de 120 milhões globalmente.

O perfil do brasileiro, em geral mais extrovertido e aberto a conversas, se conectou com o modelo de negócio da startup francesa.

De acordo com números internos da companhia, 80% das viagens de carona no país conectam áreas sem alternativas adequadas de transporte ou consideradas muito mal servidas por outros meios.

“Conectamos cidades que ou não têm alternativas - sem ônibus, sem aviões - ou que têm conexões muito ruins”, disse Tatiana Mattos, CEO da operação local desde 2022, na mesma entrevista.

“Às vezes para ir do ponto A para o ponto B você precisa de cinco diferentes conexões com ônibus, ou três diferentes conexões, levando mais de um dia, enquanto por carona você vai em 5 ou 6 horas”, exemplificou.

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A empresa lançou a integração com ônibus no Brasil em 2020 e começou a acelerar o ganho de escala em 2023.

No primeiro semestre de 2025, o segmento de ônibus da BlaBlaCar cresceu 77% na comparação ano a ano, enquanto o de carona avançou 19% - essa vertical ainda representa de duas a três vezes o volume total de ônibus.

Mais de 60% do crescimento na vertical de ônibus vem da base de usuários de carona, o que indica engajamento de quem já adota a plataforma.

Segundo os executivos, o crescimento no país também decorre da forma como a startup começou a ofertar o seu produto: sem cobrança de nenhuma taxa, seja para o usuário, seja para o motorista.

“No começo não queremos criar nenhuma fricção para que as coisas decolem”, disse Brusson. “É tão difícil no começo conseguir passageiros e motoristas suficientes que, se além disso você tem que pagar no início, talvez nunca decole.”

Na Europa, a BlaBlaCar cobra uma taxa dos passageiros por reserva há quase dez anos. No Brasil, a empresa começa a testar um modelo de assinatura do motorista, mensal ou anual.

“Isso elimina a fricção a cada publicação”, afirma Mattos. Outra opção, também em teste, é a cobrança a cada oferta de viagem.

A fonte de receita da operação local é baseada apenas na vertical de venda de passagens rodoviárias, o que garante uma taxa de serviço por transação.

Globalmente, a BlaBlaCar chegou ao breakeven em 2022 e opera no positivo desde então. Em 2023, último ano em que abriu dados financeiros, a empresa informou uma receita de € 253 milhões, alto de 29% em relação ao ano anterior.

Batalha regulatória e segurança

A expansão da empresa francesa no Brasil, por outro lado, precisa vencer a resistência do setor de ônibus em diversos estados.

Após uma liminar no Paraná que suspendeu temporariamente as operações por um mês devido a um “mal-entendido do modelo de negócios”, a BlaBlaCar conseguiu reverter a decisão em fevereiro.

Em São Paulo, a empresa levou o caso até o Supremo Tribunal Federal. No total, venceu em sete estados.

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“Carona é legal, ponto final. Não é que operamos como um modo clandestino de transporte”, disse a líder da operação local. “No Brasil, operamos hoje sob o Código Civil, há um artigo específico que trata sobre compartilhamento de custos na mobilidade e em transporte.”

Brusson disse que a regulação do modelo de negócios, muitas vezes associada com aplicativos de transporte, como Uber e 99, só foi aprovada na França em 2019. “Leva tempo - uns 10, 15 anos. Precisamos levar muita educação [sobre o modelo] junto a autoridades para definir exatamente os limites do que fazemos.”

O aplicativo também tem investido em mecanismos para coibir crimes e delitos, outra preocupação e ponto crítico do modelo de negócio. De tempos em tempos, surgem denúncias e notícias sobre assédios cometidos, principalmente por parte de motoristas.

Segundo a empresa, são reportados incidentes equivalentes a menos de 0,5% do total de viagens na plataforma e há investimento em verificação de identidade, monitoramento de conversas pré-viagem e sistema de avaliações públicas.

“No Brasil, tivemos que nos concentrar muito mais na segurança da confiança para elevar o nível de exigência. Por isso, fazemos muito mais verificações de identidade, por exemplo”, contou o CEO.

A BlaBlaCar também oferece o recurso “Women Only”, que permite que motoristas e passageiras optem por viagens exclusivamente femininas.

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M&As nos planos

A startup, que atingiu o status de unicórnio em 2015, quando foi avaliada em US$ 1,6 bilhão, convive com especulações sobre um eventual IPO (oferta pública inicial de ações), movimento que o CEO não entende como central na estratégia.

“Não acordo todo dia pensando em IPO. Sinto que há muito mais países para os quais devemos expandir e produtos que devemos desenvolver nos próximos dez anos”, disse Brusson. Segundo ele, não há pressão de investidores por uma abertura de capital.

Ele contou que, como a empresa já realizou rodadas diversas de captação, houve oportunidades de saída para investidores iniciais.

O francês comparou com a situação da Stripe, fintech da qual é acionista e continua privada. “Não somos tão líquidos quanto, mas a cada fundraising temos investidores comprando e vendendo.”

No ano passado, a BlaBlaCar levantou US$ 100 milhões em linha de crédito, recurso planejado para ser utilizado em novas aquisições - já foram dez transações desde a fundação.

“Agora, nós vemos aquisições como uma forma de expansão internacional ou, mais provavelmente, de expansão de vertical”, disse Brusson. Mas, por enquanto, não temos nada muito ativo no pipeline.”

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