Bloomberg — A Apple (AAPL) avança no desenvolvimento de um dispositivo doméstico de mesa de preço elevado que combina uma tela semelhante à do iPad com um membro robótico.
A empresa liderada por Tim Cook, em busca de novas fontes de receita, tem uma equipe com várias centenas de pessoas que trabalham no dispositivo, que usa um braço robótico fino para se movimentar em torno de uma tela grande, de acordo com pessoas com conhecimento do assunto que falaram à Bloomberg News.
O produto, que depende de mecanismos para inclinar a tela para cima e para baixo e fazê-la girar 360 graus, ofereceria uma reviravolta em produtos domésticos como o Echo Show 10 da Amazon (AMZN) e o Portal descontinuado da Meta Platforms (META).
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O dispositivo foi concebido como um centro de comando doméstico inteligente, máquina de videoconferência e ferramenta de segurança doméstica com controle remoto, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque o trabalho não é público.
O projeto — de codinome J595 — foi aprovado pela equipe executiva da Apple em 2022, mas cresceu formalmente nos últimos meses, disseram eles.
A mudança para a robótica faz parte de um esforço mais amplo para impulsionar as vendas e capitalizar a Apple Intelligence, um conjunto de tecnologia de Inteligência Artificial (IA) que chegará ao iPhone, ao iPad e ao Mac neste ano. A empresa também buscando novas oportunidades de crescimento depois de encerrar os esforços para desenvolver um carro autônomo no início deste ano.
Um porta-voz da Apple, com sede em Cupertino, na Califórnia, não quis falar sobre o assunto.
A equipe de design industrial da Apple vem explorando conceitos de robótica de mesa há anos, mas não houve consenso dentro da empresa - incluindo a organização de engenharia de software e as equipes de marketing - sobre a possibilidade de continuar.
O grupo de marketing da Apple, por outro lado, estava preocupado com o fato de que os consumidores não estariam dispostos a pagar por um produto desse tipo.
Os principais executivos de engenharia de software, por sua vez, estavam preocupados com os recursos de pessoal que seriam necessários para criar o software necessário. Mas o CEO Tim Cook é visto como um defensor do dispositivo - assim como John Ternus, chefe de engenharia de hardware da empresa.
Agora, a Apple decidiu priorizar o desenvolvimento do dispositivo e pretende lançá-lo já em 2026 ou 2027, de acordo com as pessoas. A empresa tenta baixar o preço para cerca de US$ 1.000. Mas, a alguns anos para o lançamento previsto, os planos poderiam, teoricamente, mudar.
Em um sinal de apoio, a Apple tornou o projeto de responsabilidade exclusiva de Kevin Lynch, um executivo veterano. Ele atua como vice-presidente de tecnologia e supervisionou o carro autônomo e, até recentemente, o smartwatch da Apple e os esforços de engenharia de software de saúde.
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Lynch recentemente recrutou “tenentes” importantes que ajudaram a lançar o Apple Watch para trabalhar no robô de mesa, bem como pesquisadores e engenheiros de robótica conhecidos. Lynch se reporta a John Giannandrea, chefe de inteligência artificial da Apple.
Resposta a comandos de voz
A ideia é que o produto de mesa seja controlado principalmente por meio do assistente digital Siri e dos próximos recursos do Apple Intelligence.
O dispositivo poderia responder a comandos, como “olhe para mim”, reposicionando a tela para focar na pessoa que está dizendo as palavras - por exemplo, durante uma chamada de vídeo.
Ele também poderia entender vozes diferentes e ajustar seu foco de acordo com elas. Os modelos atuais em teste executam uma versão personalizada do sistema operacional do iPad.
O grupo de engenharia de hardware também está envolvido. Matt Costello, um executivo que lidera o desenvolvimento do alto-falante inteligente HomePod da Apple, supervisiona a parte de hardware do projeto.
A empresa também trabalha em robôs que se movimentam pela casa e já discutiu a ideia de uma versão humanoide. Esses projetos são liderados, em parte, por Hanns Wolfram Tappeiner, um especialista em robótica que agora tem cerca de cem ex-engenheiros da equipe de automóveis subordinados a ele.
Em uma lista de empregos publicada neste mês, a Apple disse que tem uma equipe “trabalhando para alavancar e desenvolver pesquisas inovadoras em robótica de aprendizado de máquina, permitindo assim o desenvolvimento de sistemas de robôs generalizáveis e confiáveis”.
A empresa disse que está à procura de especialistas com experiência em “manipulação de robôs” e criação de modelos de IA para controle de robôs.
Do Apple watch ao carro autônomo
Lynch foi encarregado de alguns dos maiores projetos da Apple. Ele foi fundamental para trazer o primeiro Apple Watch ao mercado em 2015 e foi escolhido em 2021 para supervisionar o esforço do carro.
Sob o comando de Lynch, o projeto do carro progrediu — embora as ambições do produto também tenham sido reduzidas ao longo do caminho.
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Mas, em 2024, os custos somaram pelo menos US$ 10 bilhões e a indústria automotiva sofreu uma desaceleração. Havia preocupações sobre a capacidade da Apple de se destacar em um mercado já muito disputado, e a gestão decidiu encerrar a iniciativa em uma rara retirada de alto nível.
Os recursos do dispositivo de mesa também estão em momento de mudança. Algumas pessoas envolvidas no projeto dizem que os recursos foram reduzidos em relação às ambições iniciais, com uma pessoa descrevendo o processo de desenvolvimento como uma “montanha-russa.
Outros dentro da Apple ainda questionam se o dispositivo atrairá os consumidores e se a empresa realmente precisa de outro produto semelhante a um tablet. Embora o novo fone de ouvido Vision Pro combine realidade virtual e aumentada, ele acaba duplicando os recursos de um iPad.
A Apple também nfrenta problemas para entrar no mercado de dispositivos para casas inteligentes. Seus alto-falantes HomePod não venderam tão bem quanto os modelos da Amazon e do Google, da Alphabet (GOOGL), e o set-top box da Apple TV fica atrás dos dispositivos da Roku e de outros rivais.
O esforço de robótica é um dos poucos caminhos que a Apple busca para gerar novas fontes de receita.
A empresa também trabalha em óculos de realidade aumentada (AR), bem como explora produtos menos ambiciosos, como óculos inteligentes que seriam semelhantes aos óculos Ray-Ban da Meta.
Esse produto - que a Meta descreveu como um sucesso - não chega a oferecer uma verdadeira experiência de AR, mas permite que os usuários façam chamadas telefônicas e capturem vídeos.
Além disso, a Apple procura criar uma versão de seus fones de ouvido AirPods que incluam câmeras, permitindo que eles percebam melhor o mundo exterior. E trabalha em um iPad gigante e dobrável - algo que pode não chegar até 2027 ou 2028, no mínimo, de acordo com pessoas com conhecimento do esforço.
A Apple ainda obtém cerca de metade de sua receita com o iPhone, que teve vendas consideradas fracas - ou aquém do desejado - nos últimos trimestres. A empresa planeja lançar novos modelos em setembro, com câmeras, processadores e telas melhores. Mas espera-se que isso gere um crescimento modesto.
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