Ameaça? DeepSeek veio para democratizar o uso de agentes de IA, diz diretor da Nvidia

Chegada da plataforma chinesa chegou a fazer com que a tech de chips para IA perdesse mais de US$ 600 bi em valor de mercado em um dia, mas representa oportunidade, segundo Marcio Aguiar no Web Summit Rio

Marcio Aguiar, diretor executivo da Nvidia: “É difícil não sermos importantes. Não gostamos também de ser vistos como o importante porque existem várias empresas que estão desenvolvendo boas tecnologias”
28 de Abril, 2025 | 06:49 PM

Bloomberg Línea — Desde o anúncio do ChatGPT pela OpenAI, em novembro de 2022, a Nvidia teve o seu nome potencializado, com as ações com ganhos de mais de 500% de valorização no período.

A empresa fundada e liderada por Jensen Huang chegou a desbancar a Apple como a mais valiosa do mundo, com uma avaliação de mais de US$ 3,4 trilhões. O valor atual é de US$ 2,6 trilhões.

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Apontada por especialistas como a principal vencedora na corrida da IA generativa, a gigante de tecnologia sofreu um baque nos últimos dias de janeiro deste ano.

E a “culpa” foi de uma nova startup fundada em 2023, a chinesa DeepSeek. A plataforma chegou com um modelo de IA que promete consumir menos recursos financeiros e poder computacional.

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A reação do mercado e dos investidores foi imediata, e a Nvidia perdeu o equivalente a US$ 600 bilhões em apenas um dia de negociações na bolsa de valores, com o receio de que as suas GPUs e os chips de IA da companhia não teriam uma demanda tão elevada quanto projetada inicialmente.

De acordo com Marcio Aguiar, diretor executivo da Nvidia para a América Latina, no entanto, a reação foi desproporcional.

“Obviamente, nós também não esperávamos que o mercado fosse reagir de uma maneira tão negativa quanto reagiu. Só que esse mercado já está entendendo que as empresas podem começar [com modelos] pequenos e avançar”, disse Aguiar, em entrevista coletiva de imprensa no Web Summit Rio.

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“O DeepSeek simplesmente veio para democratizar o uso de agentes de IA nas empresas”, afirmou.

Segundo ele, muitos executivos se viam em uma encruzilhada quando liam matérias e artigos sobre a quantidade de GPUs que precisariam comprar para os seus modelos de inteligência artificial.

“O Deepseek é simplesmente o resultado da IA generativa em que você começa a treinar modelos menores, mas tão inteligentes quanto os grandes e que dão um resultado em muito curto prazo. Com o tempo, o resultado daquele treinamento abre caminhos para um large language model (LLM) como o que a OpenAI tem”, afirmou.

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Longe de ver como uma ameaça, o executivo disse que a Nvidia entende o desenvolvimento desses modelos como uma oportunidade.

Essas plataformas podem representar uma porta de entrada para empresas que estão começando os seus processos de adoção da inteligência artificial mais refinada e verticalizada, com o fine tuning, como são chamados os ajustes alinhados a cada modelo de negócio.

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Dessa forma, não deve impactar os planos da companhia, na perspectiva de Aguiar, que buscou ressaltar a imagem que foi conquistada ao longo dos anos como uma das mais inovadoras do mundo.

“É difícil não sermos importantes. Não gostamos também de sermos vistos como o mais importante porque existem várias empresas que estão desenvolvendo boas tecnologias”, afirmou o diretor executivo.

“Acontece que, como sempre estivemos focados em inovação e em unir esse ecossistema, temos o privilégio de, momentaneamente - mas algo que já perdura algumas décadas -, sermos vistos como a empresa que pode realmente ajudar as outras a inovarem.”

A empresa aproveitou para falar sobre o seu mais recente lançamento, a oferta de IA física: trata-se de um mercado estimado em US$ 1 trilhão, que combina as plataformas de softwares de IA da Nvidia com robôs em diferentes setores.

“Eles fabricam robôs e pegam a minha plataforma de softwares Isaac, botam dentro do robô e criam um humanoide usando técnicas de physical AI, em que o robô está ali com muito poder computacional aprendendo a trabalhar lado a lado com um ser humano”, contou.

- O texto original foi corrigido às 18h45 porque informava incorretamente que a avaliação da Nvidia havia passou de US$ 3,4 bilhões para US$ 2,6 bilhões. Os valores corretos são US$ 3,4 trilhões e US$ 2,6 trilhões.

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Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark