Unicórnio americano escolhe o Brasil como motor de crescimento e acelera produtos

Fintech de gestão corporativa, a Jeeves transforma a operação no país em laboratório de inovação de soluções e acelera plano para se tornar ‘banco completo’, contam os CEOs global e local, Dileep Thazhmon e Gustavo Gorenstein, à Bloomberg Línea

Dileep Thazhmon, co-fundador & CEO da Jeeves: elogios ao potencial do mercado brasileiro (Foto: Harry Murphy/Web Summit via Sportsfile)
28 de Julho, 2025 | 05:20 AM

Bloomberg Línea — A fintech Jeeves, que atua com gestão de despesas corporativas e de pagamentos, encontrou no Brasil seu maior motor de crescimento.

Presente em mais de 20 países, a startup de origem americana vê o mercado brasileiro se descolar dos demais — e aposta que, em 2026, o país se tornará oficialmente o maior mercado da operação global.

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“A infraestrutura financeira no Brasil é única. Não dá para simplesmente adaptar o que funciona fora e esperar que dê certo aqui. Você tem que construir para o Brasil, que é um mercado muito grande”, afirmou Dileep Thazhmon, fundador e CEO da Jeeves, em entrevista à Bloomberg Línea em passagem por São Paulo na última semana.

“O que nos encoraja também é que o Banco Central é muito progressista na forma como enxergam a legislação financeira”, completou.

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A Jeeves tem uma base de clientes com cerca de 8.000 startups e médias e grandes empresas globalmente que movimentam volumes de recursos a partir de transações internacionais. Entram na lista nomes como Burger King, H&M, Kavak, Rappi e Hotmart.

A startup desembarcou em solo brasileiro em 2023, época em que oferecia apenas a solução de gestão de cartões corporativos, com foco em negócios com operação transnacional. O leque atual é bem maior e compreende um portfólio com crédito para pagamentos via PIX e TED e contas remuneradas com CDI.

O último produto, criado dentro da operação local, marca a entrada da startup em uma nova divisão de negócios: as viagens corporativas, com o lançamento do VCN (Virtual Card Number).

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A solução permite que agências de turismo e operadoras, como Onfly, BeFly e a Copastur, emitam cartões de crédito para viagens corporativas e os seus clientes possam personalizar informações sobre datas e limites e valores gastos dos funcionários em tempo real.

“Para o VCN, as operadoras podem enviar os cartões com o crédito que concebemos. Ajudamos a reconciliar todos esses os títulos a partir da nossa infraestrutura e, por fim, é mais seguro do que usar um único cartão para emitir vários tíquetes diferentes - é um para cada tíquete”, disse Gustavo Gorenstein, CEO da Jeeves no Brasil. “Nós não estamos competindo com eles, estamos servindo eles.”

O executivo lidera a operação há pouco menos de um ano, após duas experiências como co-fundador: na Digio, vendida para o banco CBSS, e na BX Blue, adquirida pela PicPay. Na Jeeves, comanda um time de 30 profissionais, número previsto para crescer em 50% nos próximos meses dado o ritmo de expansão do negócio.

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Tese da bancarização

As movimentações buscam posicionar a startup como uma espécie de “porto seguro” financeiro, no qual as empresas podem gerir e acompanhar o dia a dia das operações e, ao mesmo tempo, resolver sua vida financeira.

“Há bancos e há provedores de software do outro lado, certo? Nós fazemos as duas coisas. O cliente não precisa escolher nem pegar duas empresas diferentes e fazê-las conversar”, disse Gorenstein.

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A ampliação do leque de serviços acelerou o ritmo de expansão do negócio, que registrou um aumento em 250% no volume de transações - o valor bruto não é aberto pela empresa.

De acordo com o CEO da operação local, uma das alavancas de crescimento é o modelo de empréstimos, que permite que os clientes usem parte do limite dos cartões de crédito para pagamento por Pix ou boleto.

“Nós estamos crescendo com esse produto de pagamento, que é quase como uma solução de fluxo de caixa para o curto prazo, para ajudar nossos clientes no fechamento do final do mês”, afirmou.

Para complementar o avanço na jornada financeira, hoje disponibilizada a partir de APIs de parceiros, a Jeeves espera a aprovação de uma licença de SDC (Sociedade Direta de Crédito) pelo Banco Central brasileiro.

A credencial permitirá à startup expandir a sua operação de crédito, de modo que ela poderá emitir, por exemplo, FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) próprios para a captação de recursos, diminuindo o custo das operações atuais.

“Para nós, sem ter a licença completa, o produto não é tão forte. E, quando pensamos no Brasil, o objetivo aqui é ser capaz de oferecer esse serviço completo com a conta bancária, em que o cliente pode colocar fundos, obter cartão corporativo e também usar as soluções de pagamento que temos”, afirmou Thazhmon.

Dileep Thazmou, Jordan Bulkoski e Gustavo Gorenstein, da Jeeves: queremos oferecer uma solução completa de conta bancária

Preparação para novo aporte

O executivo esteve no Brasil nos últimos dias para apresentar o novo Chief Revenue Officer (CRO), Jordan Bulkoski, ex-contratado da fintech Brex, criada pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi nos Estados Unidos. O executivo chega para ajudar a startup a escalar a geração de receita globalmente.

Segundo o fundador, o processo passa também pelo uso de stablecoins na plataforma, uma das pautas mais “quentes” do momento no mercado de inovação.

“Considero que seria muito útil para as empresas no Brasil, especialmente para pagamentos e para o movimento de dinheiro para fora do Brasil”, disse.

O crescimento, estruturado até aqui organicamente, deve ganhar novos contornos. A Jeeves começa a olhar oportunidades de aquisição de empresas menores de sistemas de gestão (ERPs) que possam trazer uma base de clientes para os quais será possível agregar valor com os seus produtos atuais.

A manutenção do ritmo atual é feita com geração de caixa, dentro de modelo de negócio em que a margem bruta está em torno de 40%. Para acelerar globalmente, Thazhmon prevê uma nova captação a partir do segundo semestre do próximo ano.

O último aporte foi recebido em 2022, no valor de US$ 180 milhões, em rodada Série C liderada pela chinesa Tencent. Na ocasião, a startup foi avaliada em US$ 2,1 bilhões e entrou para a lista dos unicórnios de tecnologia.

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Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark