Bloomberg Línea — A Kamino, plataforma que almeja se tornar o “sistema operacional” das finanças das médias empresas brasileiras, anunciou a captação de R$ 54 milhões em rodada Seed liderada pelos fundos Quona Capital e Flourish Ventures.
A startup nasceu da constatação de que companhias de médio porte – responsáveis por boa parte do PIB nacional – ainda operam suas finanças em planilhas de Excel ou softwares legados de gestão.
É um quadro distinto ao de mercados como o dos Estados Unidos, em que fintechs como Bill.com ou Ramp contribuíram para o processo de automação dos negócios.
A Kamino entrou em operação de fato em 2023 reunindo em uma única plataforma os controles de contas a pagar, contas a receber, conciliação bancária, conta digital e cartão corporativo, com simplificação do trabalho dos times financeiros.
“Era um produto muito complexo, que precisava nascer robusto. Nos primeiros meses, fomos devagar, mas, a partir de 2023, com a plataforma madura, o crescimento ‘explodiu’”, disse Gonzalo Parejo, co-fundador e CEO da Kamino, em entrevista à Bloomberg Línea.
“As empresas agora possuem um controle do caixa que antes não tinham e, com isso, conseguem dar essa visibilidade para os gerentes.”
O empreendedor espanhol construiu o negócio com os sócios Benjamin Gleason, cofundador do GuiaBolso, Guto Fragoso, ex-líder de produto da Amazon, e Rodrigo Perenha, ex-diretor de tecnologia do Mercado Pago, em 2021.
Aos quatros se uniu Juliana Strohl, ex-Head de legal, regulatório e compliance no Guiabolso e na Tino, no ano passado.
De 2023 para 2024, a Kamino cresceu sete vezes em receita e, de 2024 para 2025, mais que triplicou, ritmo que deve ser mantido neste ano fechado.
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Atualmente, atende mais de 400 empresas, que juntas somam cerca de 2.400 CNPJs ativos.
Mais de 70% da base usa a conta digital e o cartão corporativo da startup, enquanto a integração com bancos tradicionais como Itaú, Bradesco, Santander e cooperativas como Sicredi e Sicoob permite que os clientes concentrem toda a operação em um único painel.
Destino dos novos recursos
O foco da startup está em empresas que faturam entre R$ 5 milhões e R$ 300 milhões por ano. Segundo os cálculos da Kamino, trata-se de uma oportunidade de US$ 14 bilhões em soluções de gestão financeira.
“Essas empresas não podem esperar 15 dias para fechar um balanço nem correr o risco de perder controle do caixa em planilhas. O que oferecemos é eficiência de grande corporação, mas acessível e fácil de implantar”, disse Parejo.

A entrada dos novos recursos tem como um dos destinos a expansão comercial, com aumento do marketing e de vendas para ampliar a base de clientes.
Mas o foco estará no desenvolvimento de um novo produto dedicado a CFOs, que, no caso de médias empresas, é o diretor financeiro ou mesmo o dono do negócio.
A Kamino pretende ir além dos processos gerenciais e prover mais acesso à perspectiva macro dos negócios para os times financeiros, com alertas preditivos e dashboards em tempo real alimentados por dados e com uso de IA.
“Se antes o ERP era apenas um repositório estático de dados, vamos conseguimos transformar informações em ações inteligentes para o CFO, com recomendações personalizadas sobre pagamentos, recebimentos e fluxo de caixa”, afirmou Parejo.
“Nós teremos condições de fornecer informações muito assertivas usando IA para que esse CFO possa gerenciar o caixa de forma mais inteligente. E isso vai ajudar no seu crescimento.” A previsão é lançar a versão inicial desse novo produto no primeiro semestre de 2026.
Também no radar da Kamino está a entrada em crédito em um futuro próprio, estratégia que tem se tornado mais comum na trajetória de fintechs.
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Hoje, a startup se posiciona como empresa de software-first, mantendo 80% da receita oriunda de SaaS (Software-as-a-Service). O restante vem da monetização de cartões e contas digitais.
“Nossa vantagem é começar pela operação, não pelo crédito. Isso nos dá um conhecimento muito mais profundo e em tempo real da saúde financeira dos clientes”, disse o CEO.
Com sede em São Paulo e atuação proporcional à distribuição do PIB brasileiro, segundo ele, a Kamino prevê triplicar novamente a receita em 2025 e se aproximar de um faturamento anual entre R$ 55 milhões e R$ 60 milhões em 2026.
A startup contabiliza, com a entrada dos novos recursos, mais de R$108 milhões captados desde o início do negócio. Na nova rodada, a Endeavor Catalyst, fundo de co-investimento da rede global Endeavor, foi a novidade entre os investidores.
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