Bloomberg Línea — Em mais um movimento em sua agressiva estratégia de expansão, o iFood adquiriu 20% da CRMBonus, empresa especializada em soluções de cashback e produtos de engajamento para o varejo.
A startup brasileira foi avaliada em R$ 2,2 bilhões no ano passado, quando captou R$ 400 milhões em rodada liderada pela Bond Capital.
De acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg Línea, a transação foi estruturada com cláusulas que abrem caminho para que o iFood adquira a totalidade da empresa em até três anos. O acordo poderia chegar a um valor de até R$ 10 bilhões. Nem o iFood nem a CRMBonus confirmaram a informação.
A transação ainda depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para ser concluída.
O novo capital, sem valor divulgado, representou um upround para a CRMBonus. Para a acomodação do novo sócio no cap table da startup, os investidores atuais, que incluem nomes como Softbank, Valor Capital e Riverwood, concordaram com a diluição proporcional das suas participações.
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A CRMBonus é liderada pelo empreendedor serial Alexandre Zolko e já tinha uma relação de parceria com o iFood há pouco mais de um ano, quando a gigante de delivery começou a usar o produto Vale Bônus, uma moeda digital distribuída a consumidores via clubes de assinatura e campanhas promocionais.
“A parceria comercial começou muito bem, melhorou os KPIs [indicadores chave de performance] do iFood de maneira significativa e, no final do ano passado, o Diego Barreto, CEO do iFood, me chamou para uma conversa”, contou Zolko à Bloomberg Línea. Ele saiu do encontro com uma proposta de negócio.
Com a entrada do iFood no capital da empresa, as duas companhias planejam expandir a integração entre seus produtos, sejam eles com apelos digitais ou físicos.
O Vale Bônus, hoje um aplicativo da CRMBonus aos seus clientes, pode se tornar uma funcionalidade no app do iFood, por exemplo.
A incorporação da plataforma no ecossistema deve adicionar um novo ritmo na jornada física do iFood, área em que entrou no ano passado e na qual vem avançando por meios orgânicos e inorgânicos - leia-se M&As (fusões e aquisições).
Recentemente, a companhia adquiriu quatros negócios - três de softwares de gestão e um de software de totem - para marcar posição nos salões dos restaurantes, em movimento estratégico antecipado pela Bloomberg Línea.
Essa empreitada física conta ainda com a “Maquinona”, uma maquininha de pagamento que o iFood usa também como uma canal de CRM e no qual oferece descontos e cashbacks para a próxima visita.
“Na busca por fidelizar os usuários, nós começamos com um produto muito simples, que é o que tem hoje ‘embedado na maquinona’, mas que ajudou a elevar em até 40% o faturamento dos restaurantes”, afirmou Thiago Silva, VP de Novos Negócios do iFood.
“Quando entendemos o que Zolko estava construindo, percebemos que era um game changer. Eles [a CRMBonus] têm um volume de features e um volume de integração que levaria muito tempo para construirmos de forma similar.”
Com o conhecimento da CRMBonus e a extensa rede de clientes, os novos parceiros já estudam bônus “cruzados”, a partir do CRMAds, braço de publicidade e que usa a geolocalização para impactar potenciais consumidores.
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“Começaremos a dar a oportunidade de o restaurante oferecer descontos com os varejistas que estão ao redor”, disse Silva.
O CRM Ads, lançado no ano passado, é o produto mais novo da startup e tem clientes como a Azul, a Localiza e o Sem Parar. “Tem muita coisa para fazermos juntos e que podemos tocar a partir de agora, em que estamos do mesmo lado”, afirmou Zolko.
Momento da CRMBonus
Fundada em 2018, a CRMBonus tem uma receita recorrente anualizada de R$ 250 milhões e prevê crescer 100% neste ano, retomando o ritmo histórico do negócio, após uma desaceleração para 50% no ano passado.
O startup entrou no mercado com o modelo de cashback - ou giftback -, com a oferta de uma plataforma white label que conta hoje com mais de 35.000 clientes, como Arezzo, Vivara, Natura, Renner e Hering.
A base de dados montada ao longo dos anos, atualmente com mais de 100 milhões de usuários, levou à criação de produtos de Vale-Bônus, logo após a rodada Série A em 2021, quando levantou R$ 280 milhões com Softbank e Riverwood.
Esse produto, negociado no segmento enterprise e exclusividade por categorias, caso do Mastercard, entre bandeiras de cartões, e Safra, no mercado financeiro, acelerou os rumos do negócios.
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“Foi o Vale-Bônus que me permitiu crescer quase 10 vezes em faturamento entre a Série A de 2021 e a Série B de 2024, porque consegui atender clientes grandes, que pagam fees mensais para a emissão do produto de forma ilimitada dentro do evento de rede que temos ao plugar com o giftback”, disse Zolko.
A combinação entre os três produtos tem o potencial de levar a companhia ao primeiro R$ 1 bilhão em receitas em três anos, projetou o empreendedor. Ou até um valor maior, caso um novo serviço seja bem-executado.
A startup trabalha no lançamento do PresenteIA, uma quarta vertical que une contatos do WhatsApp, milhões de informações do data lake da CRM Bonus, base de varejistas cadastradas no sistema e uso de IA para recomendar presentes, que poderiam ser entregues pelo iFood.
“É um negócio pode ser muito maior do que isso. O mercado endereçável de presentes é maior do que o de food delivery no Brasil. Se vamos conseguir fazer de forma brilhante ou não, é a questão. Eu sou ‘bitolado’ em conseguir oferecer a experiência perfeita”, afirmou o empreendedor.
O produto deve ser apresentado ao público no último trimestre deste ano e a startup reservou R$ 100 milhões exclusivamente para essa nova divisão. O montante será empregado ao longo de 2026.
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