Gerdau paralisa fundo de US$ 80 mi para startups e negocia portfólio, dizem fontes

Gigante do aço montou um portfólio que chegou a 11 investidas, negócios para os quais busca compradores no momento, disseram fontes à Bloomberg Línea; Gerdau disse em nota que ‘revisa continuadamente os ativos de fundo de CVC’

Visitors walk past Gerdau SA's booth at the 22nd Brazilian Steel Congress in Sao Paulo, Brazil, on Wednesday, June 1, 2011. Gerdau SA, Latin America's largest steelmaker, considered and then abandoned plans to invest in China because local regulations don't allow foreign owners to control steelmaking projects, Chief Executive Officer Andre Gerdau Johannpeter said. Photographer: Paulo Fridman/Bloomberg
08 de Julho, 2025 | 05:30 AM

Bloomberg Línea — A Gerdau está revisando as operações de seu fundo de corporate venture capital (CVC), o Gerdau Next Ventures, que foi criado em 2019 com capital comprometido de US$ 80 milhões, de acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg Línea.

Ao longo dos anos, a gigante do aço montou um portfólio que chegou a 11 startups investidas, negócios para os quais a empresa procura compradores no momento, segundo as mesmas fontes. As negociações estão a cargo da Primus Ventures, anteriormente conhecida como Catarina Capital.

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Procurada pela Bloomberg Línea, a Gerdau enviou uma nota em que afirmou “revisar continuamente o portfólio de ativos de seu fundo de corporate venture capital (CVC) com o objetivo de gerar valor para seu negócio”.

E apontou para dois investimentos recentes em energia solar na esfera da Gerdau Next, hub dentro do qual o fundo de CVC está inserido (veja a íntegra da nota mais abaixo).

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O fundo Gerdau Next Ventures foi um dos primeiros do país, antes de uma onda de empresas que criaram os seus respectivos CVCs, entre 2020 e 2021.

Com mandato global, o veículo aportou cerca de metade do capital comprometido e está paralisado desde meados do ano passado.

Entre as investidas da Gerdau Next Ventures estão startups como as brasileiras Docket, de gestão de documentos jurídicos, e InstaCasa, uma proptech; e as americanas aifleet, de automação de frotas, e a 3DEO, de manufatura 3D.

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O fundo ainda aportou nas gestoras ONEVC, focada em startups em early stage, e na Terracotta Ventures, com foco no setor imobiliário.

Como citado, o fundo opera dentro da Gerdau Next, um hub criado para olhar para inovações e projetos de diversificação de receita e que reúne negócios como a construtech de fundação de obras G2Base, a empresa de logística G2L e a Addiante, joint-venture de locação de pesados com a Randon.

Para a liderança, a Gerdau contratou Juliano Prado como vice-presidente em 2020.

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O executivo, com passagens por empresas como Shell, Raízen e Cosan, chegou como a missão de ajudar a Gerdau a atingir o objetivo de gerar “20% das receitas provenientes de novos negócios relacionados à cadeia do aço e adjacentes”, conforme afirmou Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, em nota à época.

Prado deixou a empresa em abril do ano passado e hoje está na Vibra como novo vice-presidente comercial. Em período semelhante, Arthur Alves, responsável pela gestão dos investimentos do CVC, deixou a companhia rumo ao Grupo Boticário e não foi substituído por nenhum profissional de mercado.

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Combinação de fatores

Segundo fontes ouvidas pela Bloomberg Línea, a decisão de paralisar o fundo está ligada a uma combinação de fatores: erros na condução inicial do veículo, problemas de gestão na Gerdau Next, mudança no ciclo da indústria do aço e ainda a falta de engajamento dos executivos de longa data na companhia com novos negócios.

Um caso emblemático - é definidor para os rumos do CVC, segundo fontes - foi o da Plant Prefab, startup americana de construção modular em madeira e uma das primeiras investidas.

“No fundo, eles faziam ali uma correlação com a Gerdau, mas não havia correlação. A Gerdau é uma empresa de aço, não de madeira”, disse uma fonte das fontes.

O CVC da Gerdau co-liderou os aportes na Plant Prefab em duas rodadas: na Série B em 2021, quando a startup levantou US$ 30 milhões, e na Série C em 2022, quando aportou US$ 19,35 milhões dos US$ 42 milhões captados, segundo comunicado à época, ao informar que assumiria 15% do negócio.

A sequência de decisões de aportes fez com que o Plant Prefab em dado momento representasse mais de 50% de todo o capital investido nas startups. Mas a tese não se confirmou e a startup capitulou.

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“Acho que ali começou o fim do venture capital da Gerdau”, disse uma fonte. O fundo fechou apenas mais investimento depois disso, na americana aifleet.

O alegado erro na condução do negócio de CVC e na Gerdau Next “casou” com uma mudança no ciclo do aço, o que levou a companhia a priorizar investimentos com retornos mais previsíveis.

“O humor da companhia mudou porque o ciclo do aço começou a apertar”, afirmou uma das pessoas com acesso ao tema que falou com a Bloomberg Línea. “A performance da companhia no Brasil influenciou a decisão.”

Após pico de resultados em 2021 e 2022, a companhia apresentou uma correção em 2023, com queda de 16,4% na receita líquida e de 40,9% no lucro líquido ajustado, fechado em R$ 6,8 bilhões. O ano de 2024 também foi de recuo nos números gerais da companhia.

Além do cenário macroeconômico adverso com taxas de juros mais elevadas e das mudanças internas, a cultura corporativa da Gerdau – uma empresa centenária e de perfil considerado conservador – foi apontada como um desafio estrutural para a manutenção de um CVC no longo prazo, segundo as fontes.

O CEO Gustavo Werneck tem sido um dos principais entusiastas, mas esse ânimo não foi compartilhado por outros executivos do alto escalão.

“É difícil para uma companhia aceitar que vai alocar US$ 80 milhões e que provavelmente US$ 70 milhões vão ‘virar pó’, mas que os US$ 10 milhões restantes podem pagar os US$ 70 milhões e ainda gerar retorno. Essa é a lógica do venture capital”, disse uma fonte familiarizada com o ambiente da companhia.

Em outra frente, a companhia tem aberto novos programas de inovação aberta em parceria com startups para buscar soluções para determinadas demandas.

Um dos mais recentes, em parceria com o Conecta Caldeira, programa do Instituto Caldeira, prevê a busca de uma solução tecnológica que contribua com a transformação da gestão fiscal da empresa.

A Gerdau não respondeu às questões da Bloomberg Línea sobre o fim efetivo do CVC nem sobre o andamento do processo da venda dos ativos.

Veja a nota da Gerdau na íntegra

“A Gerdau revisa continuamente o portfólio de ativos de seu fundo de corporate venture capital (CVC) com o objetivo de gerar valor para seu negócio, acompanhando também os ciclos de investimento inerentes a este mercado.

A companhia ainda reforça que, por meio da Gerdau Next, sua divisão de novos negócios adjacentes ao aço, inaugurou recentemente o parque solar de Arinos junto à Newave Energia, na qual é sócia investidora e possui 40% do capital social, fortalecendo o crescimento e a expansão da empresa no mercado de energia renovável e sua busca por maior competitividade e sustentabilidade de suas operações no Brasil.

Uma nova planta solar, de Barro Alto (Goiás), está atualmente em construção pela Newave Energia, com previsão de conclusão em 2026.”

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Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark