Bloomberg Línea — Cinco anos depois de começar a operar com a promessa de entregar compras em supermercado em 15 minutos, a Daki trabalha com uma nova meta: chegar a R$ 2 bilhões de receita anual até 2027.
O número não é apenas ambicioso pelo tamanho em si mas também pelo histórico de mercado de delivery de supermercado no Brasil.
Nos últimos anos, diferentes operações voltadas para o mesmo business acabaram suspendendo as atividades, como a mexicana Justo, a colombiana Frubana e a brasileira Mercado Diferente, além do Uber Eats.
Ao mesmo tempo, gigantes como iFood e Mercado Livre passaram a oferecer vendas e entregas de produtos de supermercado, aliando escala e preços competitivos para uma base com dezenas de milhões de clientes.
Mais do que uma sobrevivente nesse cenário, a Daki mostra disposição - e capital - para continuar a acelerar os negócios no setor, depois de chegar a 20 milhões de pedidos.
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A startup comandada por Rafael Vasto, co-fundador com Alex Bretzner e Rodrigo Maroja, acaba de inaugurar o terceiro centro de distribuição, elevando a capacidade logística de 24.000 para mais de 30.000 metros quadrados.
Os núcleos alimentam os 40 hubs urbanos de onde saem as entregas em São Paulo e Minas Gerais, os dois estados onde a Daki Opera atualmente.
“Todos os nossos hubs hoje geram um lucro de duplo dígito positivo e a Daki segue crescendo ano contra ano, semestre contra semestre, de uma forma super saudável desde que começamos”, afirmou Vasto à Bloomberg Línea. No consolidado, a operação ainda não opera no positivo.
A startup entrou no mercado com uma estrutura verticalizada de ponta a ponta, sem intermediários na cadeia de operação.
No plano estratégico, facilitar pequenas compras do dia a dia, como itens básicos que faltavam na geladeira ou no momento final de uma receita.
Do portfólio de 1.000 produtos iniciais, a startup saltou para 4.000. Hoje, cerca de 90% dos pedidos incluem pelo menos um item fresco ou refrigerado.
“Nós temos expandido não só o sortimento mas incluído muitos desses itens frescos do dia dia, perecíveis e condicionados”, disse o co-fundador sobre a ampliação do sortimento para a cestas de compras.

Para chegar ao modelo, a Daki tem combinado ferramentas proprietárias que usam machine learning e inteligência artificial para orquestrar o serviço em tempo real, sendo capaz de previsões mais certeiras sobre demanda e reabastecimento dos estoques.
“Do lado do cliente, o tema de personalização sempre foi uma fortaleza muito grande. E hoje temos motores que são baseados em IA, que criam vitrines e recomendações ajustadas para o perfil do cliente e para o horário”, afirmou o fundador.
“Obviamente, são temas que ampliam bastante o engajamento e a retenção do cliente.”
Caminho até os R$ 2 bilhões
De acordo com o CEO, essa nova abordagem fez o ticket médio da operação dobrar ao longo dos anos. A startup não abre os números.
Para avançar até o patamar de R$ 2 bilhões em receitas em dois anos, a foodtech tem investido em uma série de frentes.
As apostas incluem reforços no time, como a chegada de Eduardo Galanternick, ex-VP de Negócios do Magazine Luiza, que assumiu como CRO (Chief Revenue Officer), e a expansão do clube Daki, que responde por mais de 15% dos pedidos.
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Novos produtos também estão chegando à plataforma, na linha de saudáveis e funcionais, assim como a introdução de funcionalidades, como listas inteligentes e entregas agendadas.
“Hoje nós não fazemos entregas apenas em 15 minutos mas também agendadas. Naturalmente, a preferência dos clientes é pela velocidade, mas também temos reforçado a nossa proposta nessa direção”, disse Vasto, que vê uma participação crescente nesta modalidade, sem revelar os números.
A parceria com marketplaces é outro caminho quer a Daki pretende acelerar, com a presença em novos canais nos próximos meses.
A primeira experiência foi com o iFood, anunciada em fevereiro de 2024, com a inclusão da loja Daki no plataforma controlada pela Prosus.
O executivo não abre número sobre o impacto do acordo na receita da Daki, apenas que as vendas pelo próprio site continuam dominantes.
“O nosso canal é responsável pela grande maioria das vendas. As parcerias ainda têm um share bem minoritário na composição do negócio, mas é uma participação que imaginamos que aumentará nos próximos trimestres com as novas parcerias”, disse.
Se por um lado ajuda na geração de receitas, por outro, significa depender de terceiros e abrir mão de dados de clientes no momento da venda.
Neste momento, a expansão deve ficar concentrada na base atual da startup.
Apesar das oportunidades do setor, com um varejo de supermercados que movimenta mais de R$ 1 trilhão ao ano, de acordo com estimativa da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), o co-fundador adotou um discurso de cautela quando questionado sobre expansão geográfica e novas captações.
“É muito mais uma questão de qual é o timing e a forma correta de expandirmos essa proposta para cada vez mais clientes”, disse.
Em sua trajetória, a Daki recebeu investimento de fundos como Monashees, Tiger Global, G-Squared, GGV, Balderton Capital e Greycroft.
A última captação aconteceu em 2023, quando recebeu um cheque no valor de US$ 50 milhões em rodada Série D da Convivialité Ventures, braço de investimento da Pernod Ricard, a um valuation de US$ 800 milhões.
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