Vale mira novos mercados como a Índia em meio a disputa sobre preço na China

Mineradora tem diversificado vendas para Índia e Vietnã e explorado mercados no Sudeste da Ásia e no Oriente Médio, disse o CEO, Gustavo Pimenta, em entrevista à Bloomberg News

Vale mira novos mercados em meio à disputa sobre preço na China
Por Mariana Durão
10 de Novembro, 2025 | 12:25 PM

Bloomberg — A Vale se volta a novos mercados para diversificar suas vendas de minério de ferro em um momento em que o principal cliente da indústria, a China, intensifica os esforços para influenciar os preços da matéria-prima essencial para a produção de aço.

Enquanto a China ainda representa cerca de metade da receita operacional da Vale, a mineradora agora vende para a Índia e o Vietnã e tem explorado outros mercados no Sudeste da Ásia no Oriente Médio, disse o CEO da empresa, Gustavo Pimenta, em entrevista à Bloomberg News.

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É uma mudança natural da tradicional dependência da Vale em relação à China, à medida que outros mercados emergentes buscam fortalecer suas indústrias siderúrgicas e Pequim se concentra mais no consumo interno e na tecnologia.

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Questionado sobre as implicações de um rompimento nas negociações contratuais entre a China e outro grande produtor, a BHP, Pimenta disse que nem os vendedores nem os compradores estão em posição de controlar os preços no atual cenário do mercado de ferro.

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“Quando você não tem o mercado em equilíbrio, aí, sim, você abre margem para dar mais poder de negociação a uma das partes,” disse o executivo na sede da Vale no Rio de Janeiro.

“Mas esse é um mercado em equilíbrio e acho que todas as grandes mineradoras entendem que o seu produto tem um valor para o cliente final.”

Com a produção de aço da China prevista para permanecer em torno de 1 bilhão de toneladas métricas por ano até o final da década, a Vale quer crescer “de forma importante” na Índia, a partir dos níveis atuais de cerca de 10 milhões de toneladas de vendas anuais de minério, disse ele.

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A empresa brasileira também considera desenvolver usinas de blending ou acertar parcerias com empresas locais na Índia.

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Ao longo da próxima década, o mercado provavelmente permanecerá equilibrado, apesar do gigantesco complexo de Simandou, na Guiné, entrar em operação, disse Pimenta.

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Essa previsão tem como base uma redução anual de 50 milhões a 60 milhões de toneladas, com outras 150 milhões de toneladas se tornando inviáveis se os preços caírem abaixo de US$ 90 por tonelada, em comparação com cerca de US$ 100 atualmente.

Embora empresas chinesas estejam entre os donos de Simandou, assim como a Rio Tinto, o CEO da Vale não vê o projeto como um fator capaz de mudar significativamente o poder de precificação de Pequim.

A estatal China Mineral Resources tornou-se a maior compradora de minério de ferro do mundo, com o mandato de alterar o equilíbrio nas negociações com a Vale e seus concorrentes australianos, BHP e Rio Tinto.

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A CMRG instruiu as principais siderúrgicas e tradings a evitarem novas cargas marítimas denominadas em dólares da BHP, depois que as negociações contratuais estancaram.

“Simandou passa a ser uma oferta importante para o mercado chinês, mas o volume de demanda de minério da é muito superior ao volume que [Simandou] tem a capacidade de ofertar,” disse Pimenta.

A Vale está envolvida em negociações “estritamente” sobre volumes para o próximo ano com a CMRG e siderúrgicas, disse ele.

Logo após Pimenta assumir o comando, há cerca de um ano, a Vale finalmente chegou a um acordo em relação ao desastre de mineração de Mariana (Minas Gerais) em 2015, da Samarco, uma joint-venture com a BHP.

O ex-diretor financeiro recebeu a missão de maximizar a produção de minério de ferro e aumentar a eficiência, apesar do enfraquecimento da demanda chinesa pelo insumo siderúrgico.

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A empresa quer se tornar a principal fornecedora de minério de alta qualidade, que reduz as emissões nas usinas siderúrgicas.

Pimenta disse esperar que a Vale recupere o título de maior produtora de minério de ferro do mundo ainda neste ano, após uma retomada gradual após interrupções causadas por dois desastres em barragens de rejeitos (além de Mariana, em Brumadinho em 2019).

A previsão oficial de produção para o próximo ano é de 340 milhões a 360 milhões de toneladas, embora isso possa ser atualizado em seu encontro anual com investidores em Londres no próximo mês. Pimenta afirmou que a Vale não ultrapassará o limite superior dessa faixa.

A empresa também pretende dobrar sua capacidade de produção de cobre para 700 mil toneladas até 2035. O foco está no desenvolvimento dos próprios ativos da Vale, principalmente na floresta Amazônica brasileira, em vez de buscar novas aquisições.

“Hoje você vai ter que pagar caro, porque todo mundo quer cobre,” disse Pimenta. “A criação de valor que eu tenho em desenvolver meus próprios projetos é muito maior.”

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