Bloomberg Línea — A Uber Technologies acaba de dar novo passo em sua estratégia de se tornar cada vez mais uma plataforma que oferece múltiplos serviços aos usuários, para além do aplicativo de mobilidade urbana que fez a sua fama.
A gigante de tecnologia acertou uma parceria com a brasileira Loggi para expandir o seu serviço de entregas de pequeno porte para cerca de 5.500 municípios do país, com a marca Flash Nacional, em informação antecipada pela Bloomberg Línea.
O serviço já está disponível em duas cidades, Curitiba (Paraná) e Campinas (São Paulo), e será gradualmente expandido para 16 localidades nos próximos meses.
Pelo aplicativo da Uber, será possível selecionar a opção Flash Nacional para o envio - o que inclui escolher o local de coleta e o de entrega - de pacotes de itens de moda, cosméticos, artigos esportivos, brinquedos, livros, documentos, eletrônicos, perfumaria e acessórios para pet, entre outras categorias.
Os itens serão coletados no ponto designado pelo usuário pela Loggi e entrarão na operação e na malha da empresa, para distribuição e entrega nacional.
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Na prática, o novo serviço passa a concorrer com o que é oferecido por players de abrangência nacional como os Correios e amplia as alternativas de envio para pessoas físicas e para vendedores que hoje dependem de plataformas de e-commerce.
“A parceria com a Loggi fortalece nossa estratégia de ampliar o Uber Flash para entregas intermunicipais e interestaduais, conectando pessoas e empresas”, disse Silvia Penna, diretora-geral da Uber para o Brasil, em nota.
“Juntos, as duas empresas vão criar uma nova alternativa logística para o envio de pequenas encomendas em todo país”, completou a executiva. Esse é o primeiro produto da Uber voltado para entregas interestaduais no mundo.
Para a Loggi, o acordo significa a possibilidade de potenciar a expansão de sua base de usuários, a partir pelo menos dos que já conhecem ou fazem uso da Uber. Os números não são revelados, mas a tech americana diz que o Brasil é o seu maior mercado em número de viagens realizadas.
“A parceria é uma oportunidade de levar o serviço único que a Loggi criou de entregas nacionais de forma simples e integrada, conectando a expertise logística e abrangência de nossa malha e a facilidade de fazer os pedidos pelo aplicativo da Uber, sem necessidade de múltiplos contratos ou plataformas distintas”, disse Thibaud Lecuyer, CEO da Loggi, em entrevista à Bloomberg Línea.
“A expectativa é oferecer o serviço da Loggi para os milhões de usuários da Uber e ampliar o acesso para entregas nacionais para todos os perfis de pessoas e ou pequenas empresas”, afirmou o executivo.
Os executivos não abrem projeções, mas indicaram que tanto a Uber como a Loggi têm convicções elevadas sobre o potencial do serviço com base em pesquisas feitas com os usuários de cada companhia.
As empresas tampouco revelaram se a parceria inclui um acordo de revenue share e o que ele prevê.
Segundo Lecuyer, o novo serviço Flash Nacional tem o potencial de representar até 10% da receita da Loggi até o fim de 2026.
A Loggi está em uma fase que descreve como de crescimento com saúde financeira desde o início de 2024. Depois de alcançar o Ebitda positivo no quarto trimestre de 2023, a empresa vinha crescendo em um ritmo de 25% a 30% na base anual, segundo contou o CEO à Bloomberg Línea há cerca de um ano.
Os planos na ocasião previam triplicar as receitas até 2028.
Na nova fase, a Loggi elegeu como uma das avenidas de crescimento com maior potencial justamente o atendimento a pequenas e médias empresas (PMEs).
E os resultados já têm sido impactados pelo direcionamento do foco: o segmento de pequenos e médios negócios cresceu 290% em 2024.
Para empresas médias, a Loggi já oferece o serviço com integração com algumas das maiores plataformas de vendas do país, como Nuvemshop e Shopify, ou com sistemas de gestão. São quase 40 plataformas e sistemas integrados.
A tech também começou a atuar na modalidade conhecida como Pudo (Pick up and Drop off Points), que consiste em usar pequenas lojas próprias ou de terceiros espalhadas pelas cidades que funcionam como ponto de coleta de pacotes, integradas com tecnologia ao sistema de logística da startup.
Para avançar no segmento, a startup investiu em tecnologia - são cerca de R$ 150 milhões por ano - para desenvolver uma plataforma que permite que esse cliente consiga contratar as entregas, deixar os pacotes nos pontos citados e usar o celular como scanner para inseri-los no sistema da malha de logística.
Uber: nova parceria após o iFood
Esse é o segundo acordo em pouco mais de um mês anunciado pela Uber que amplia o rol de serviços oferecidos aos usuários por meio de seu aplicativo.
Em meados de maio, a tech revelou uma parceria com o iFood, app líder em entregas de refeições do país - e que cresce em categorias como farmácias -, para viabilizar pedidos cruzados: que usuários do app da Uber possam também pedir alimentos e outros produtos pelo iFood, e que os destes possam pedir corridas.
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“Hoje, apenas cerca de metade dos clientes do iFood e da Uber no Brasil usa as duas plataformas. Por isso, essa parceria representa um grande marco em nossa missão de ajudar as pessoas a irem a qualquer lugar e obterem qualquer coisa com um toque”, disse Dara Khosrowshahi, CEO global da Uber, na ocasião.
O serviço de entregas Uber Flash foi lançado no Brasil no início da pandemia de covid, em 2020, no momento em que muitas pessoas desejavam enviar itens e artigos pessoais para amigos e familiares na mesma cidade - São Paulo -, mas estavam impossibilitados pelas medidas de restrição à circulação.
Desde então, em cinco anos de operação no país, a modalidade cresceu e incluiu o lançamento do Uber Flash+, que permite solicitar ações extras, como retirar encomendas em uma loja, e do Flash Utilitário, para transporte de itens maiores.
A empresa não abre números de pedidos ou de receitas com o serviço, realizado por meio de motoristas de carros e de motos de sua base.
Mas, segundo pesquisas, muitos clientes que usam o serviço Uber Flash local não tinham uma solução considerada simples para fazer envios nacionais.
As conversas entre Uber e Loggi foram iniciadas no ano passado, e a construção do Flash Nacional movimentou dezenas de pessoas das empresas do Brasil e da matriz da tech americana para o desenvolvimento e a integração das plataformas.
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O conceito de integração de plataformas ou de ampliação das verticais de produtos e serviços oferecidos se insere na visão de muitos líderes da indústria tech de que os usuários vão concentrar sua “jornada” em poucos aplicativos.
Esse movimento tem sido conduzido por alguns dos maiores players, como Nubank (NU) e Mercado Livre (MELI), além da Uber (UBER), e avança entre aqueles com múltiplas plataformas que possam ser integradas, caso da Prosus, liderada globalmente há cerca de um ano pelo brasileiro Fabricio Bloisi.
No fim de 2024, ao anunciar a aquisição da Despegar - Decolar no Brasil -, a Prosus disse que o negócio reforçava a tese de ecossistema de negócios relacionados a lifestyle na América Latina, citando outras empresas que integram seu portfólio, como o iFood, o iFood Pago, a OLX e a Sympla.
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