Stellantis planeja investir US$ 10 bi nos EUA para recuperar mercado, dizem fontes

De acordo com pessoas que falaram com a Bloomberg News, o grupo dono de marcas como Jeep, Fiat e Ram deve aplicar os recursos ao longo de vários anos; mercado americano é o mais lucrativo para a companhia

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Por Aaron Kirchfeld - Albertina Torsoli - Gabrielle Coppola
04 de Outubro, 2025 | 06:19 PM

Bloomberg — A Stellantis planeja investir cerca de US$ 10 bilhões nos Estados Unidos, em um esforço para recuperar terreno em seu mercado mais lucrativo, segundo pessoas com conhecimento direto do assunto que falaram com a Bloomberg News.

A montadora, dona das marcas Fiat, Jeep e Ram, enfrenta dificuldades e tenta reforçar sua presença no país que é crucial para seus lucros.

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Fontes afirmaram que a empresa deve anunciar, nas próximas semanas, cerca de US$ 5 bilhões em novos aportes — valor adicional a outro investimento de montante semelhante já reservado no início do ano.

Os recursos, que devem ser aplicados ao longo de vários anos, podem ser direcionados a fábricas nos estados de Illinois e Michigan, incluindo reaberturas, contratações e novos modelos.

A Stellantis (STLA) tenta recuperar o prestígio histórico da marca Jeep e avalia novos investimentos na Dodge — que podem resultar no lançamento de um novo esportivo com motor V8 — e, possivelmente, também na Chrysler no longo prazo, disseram algumas das fontes.

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As discussões seguem em andamento, e ainda não há uma decisão final. O valor e os projetos contemplados podem sofrer alterações.

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Os novos investimentos fazem parte do esforço do CEO Antonio Filosa, que assumiu o comando em maio, para reequilibrar a alocação de capital entre as regiões.

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Sob a gestão anterior de Carlos Tavares, a Stellantis havia priorizado a transferência da produção e das operações de engenharia para países de menor custo, como o México.

Tavares também direcionou investimentos significativos à Europa, onde a demanda por carros é menor e as margens são estreitas, nos anos que se seguiram à fusão que criou o grupo, em 2021.

“Como parte da preparação para a atualização estratégica da empresa e o Investor Day previsto para o próximo ano, o CEO está conduzindo uma revisão abrangente de todos os futuros investimentos. Esse processo ainda está em andamento”, disse um porta-voz da Stellantis em comunicado por e-mail, sem dar mais detalhes.

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Antonio Filosa, da Stellantis

As medidas da montadora refletem um movimento mais amplo de grandes empresas que têm anunciado planos bilionários de investimento nos Estados Unidos — tanto para se alinhar politicamente ao presidente Donald Trump quanto para reduzir o impacto das tarifas comerciais.

Em agosto, a sul-coreana Hyundai informou que aumentará seus investimentos no país em US$ 5 bilhões, para um total de US$ 26 bilhões até 2028.

Grandes farmacêuticas europeias também se comprometeram com novos aportes de bilhões de dólares.

Os recursos adicionais também podem ajudar a cumprir uma promessa feita pelo presidente do conselho, John Elkann, que já se reuniu com Trump para discutir investimentos no país.

A Stellantis pretende fabricar uma nova picape de médio porte na planta de Belvidere, em Illinois, atualmente ociosa, e já se comprometeu a recontratar cerca de 1.500 funcionários.

A iniciativa pode ajudar a aplacar o sindicato United Auto Workers (UAW), que havia cobrado a empresa sobre o tema em negociações anteriores.

O anúncio vem sendo preparado enquanto a Stellantis faz lobby junto ao governo norte-americano para tentar suavizar ou eliminar uma tarifa de 25% que pode incidir sobre picapes Ram de médio porte fabricadas no México.

Veterano da indústria automotiva e ex-executivo da Fiat Chrysler Automobiles, Filosa enfrenta o desafio de estabilizar um grupo que perdeu participação de mercado nos Estados Unidos e na Europa após uma série de erros estratégicos durante a gestão de Tavares.

Ele também tenta lidar com os efeitos das tarifas impostas por Trump, que têm redesenhado o cenário global do setor automotivo.

Alguns desses esforços começaram a dar resultado: as entregas da Stellantis nos Estados Unidos cresceram no terceiro trimestre, o que animou os investidores na quinta-feira.

Desde que assumiu, Filosa iniciou cortes em projetos europeus, incluindo a retirada do apoio a uma joint venture de veículos a hidrogênio com a Michelin e a Forvia.

A Stellantis também avalia vender seu negócio de compartilhamento de carros, o Free2move, segundo a Bloomberg News.

No início do ano, a empresa contratou a consultoria McKinsey para reavaliar as estratégias das marcas Maserati e Alfa Romeo. A empresa tem negado repetidamente qualquer intenção de vender a Maserati.

O foco maior nos Estados Unidos tem causado apreensão entre os sindicatos europeus. A Stellantis, dona de marcas como Fiat e Peugeot, já sofre com excesso de capacidade produtiva na região — um problema agravado pela expansão das montadoras chinesas, lideradas pela BYD, com modelos de preço mais competitivo.

A empresa suspendeu temporariamente a produção em oito fábricas na Europa, diante da demanda fraca por veículos como o SUV Alfa Romeo Tonale e o compacto Fiat Panda.

Filosa tem reunião marcada com representantes sindicais italianos em 20 de outubro, em meio à crescente preocupação com possíveis fechamentos de fábricas.

No fim do ano passado, a companhia havia apresentado um ambicioso plano de produção para a Itália — promessa que agora pressiona o novo CEO a mostrar resultados concretos.

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