Bloomberg Línea — A Reag Investimentos (REAG3) divulgou novas informações adicionais da operação de venda do controle para alguns de seus principais executivos por estimados R$ 100 milhões, originalmente anunciada na noite de domingo (7).
A operação ocorre em um momento delicado para a gestora de recursos, que foi citada no fim de agosto na Operação Carbono Oculto da Polícia Federal como uma das empresas investigadas por suspeitas de ocultação de patrimônio relacionadas ao crime organizado - no caso, o PCC.
Procurado pela Bloomberg Línea, o fundador e controlador da Reag, João Carlos Mansur, não respondeu ao pedido de comentário sobre o assunto.
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A transação prevê que as acionistas controladoras – Reag Asset Management Ltda. e Reag Alpha Fundo de Investimento Financeiro em Ações – transfiram 87,38% do capital social para a Arandu Partners Holding S.A., entidade controlada pelos principais executivos da Reag.
A Arandu tem como controladores Dario Graziato Tanure, Felipe Oppenheimer Pitanga Borges e Cedro Participações Ltda. (controlada por Rubens Elias Zogbi Filho), segundo divulgado em novo fato relevante na segunda-feira (8), em atendimento a um ofício da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Além do valor estimado em R$ 100 milhões e de uma parcela simbólica de R$ 1.000, o acordo inclui um componente variável vinculado à receita operacional líquida da companhia pelos próximos cinco anos (em 60 parcelas mensais).
A adoção do mecanismo demonstraria tanto a confiança dos compradores quanto a incerteza sobre a avaliação atual da empresa.
Os R$ 100 milhões se referem a dívidas que Reag Asset atualmente possui em razão das aquisições da Quasar Holding, da Empírica Holding, da Reag Berkana Investimentos e Gestão de Recursos, da Reag WM Gestora de Patrimônio e da REAG Hieron Investimentos, também de acordo com o novo fato relevante.
Para que a operação seja efetivada, a Arandu Partners deverá cumprir diversas condições precedentes usuais para esse tipo de transação, embora a empresa não tenha detalhado quais são esses requisitos.
Mais significativo ainda é a obrigatoriedade de realizar uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) aos acionistas minoritários, conforme exigido pela legislação brasileira, pelas regras do Novo Mercado da B3 e pelo estatuto social da companhia.
Essa OPA pode representar um desembolso adicional considerável para os compradores, a depender da adesão dos minoritários - leia-se a determinação de aproveitar um evento de saída da companhia.
O que disse a Reag
No fato relevante no domingo, a empresa disse que a decisão foi tomada “com o objetivo de proteger a integridade e a reputação da Reag Investimentos, seus colaboradores, clientes e acionistas, diante das recentes e infundadas especulações às quais a companhia foi submetida".,
E completou dizendo que essa medida é a “mais prudente para assegurar que a condução dos negócios e a governança corporativa permaneçam inabaláveis, sem qualquer interferência de tais narrativas".
Questionamentos da CVM
O contexto regulatório adiciona camadas de complexidade ao negócio anunciado.
A CVM tem questionado ativamente as operações da Reag, especialmente após a divulgação de que fundos geridos por suas subsidiárias movimentaram cerca de R$ 1,2 bilhão em CDBs (Certificados de Depósito Bancário) do Banco Master em 2024, período em que a instituição financeira fundada e controlada por Daniel Vorcaro já enfrentava a perspectiva de desafios de liquidez.
Na semana passada, o Banco Central rejeitou o acordo de aquisição de 49% das ações ordinárias e de 100% das ações preferenciais do Banco Master pelo estatal BRB (Banco de Brasília).
O fundo Reag Growth 95 chegou a deter R$ 1,28 bilhão em CDBs do Master em novembro de 2024, enquanto o Hans 25 possuía R$ 123 milhões desses títulos em outubro do mesmo ano, segundo questionamento feito pela CVM.
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A Reag respondeu aos questionamentos da CVM dizendo que não é proprietária dos fundos citados na investigação, mas apenas gestora de recursos por meio de suas 13 subsidiárias autorizadas.
A empresa alegou que o patrimônio dos fundos não se confunde com seu próprio patrimônio, pertencendo exclusivamente aos cotistas.
Disse que o fundo Hans 95 é gerido por uma de suas controladas e confirmou as operações com o Master, defendendo que se tratavam de negociações dentro do curso normal dos negócios, sem atipicidades.
Extinção de conselho consultivo
Em paralelo aos desafios regulatórios, a empresa passa por mudanças estruturais internas depois de revelada a investigação conduzida pela Operação Carbono Oculto.
O membro independente Altair Tadeu Rossato renunciou ao cargo no conselho de administração, conforme registrado na ata de reunião de 6 de setembro.
E a controlada Reag Capital Holding extinguiu seu conselho consultivo, criado em abril de 2025, após a renúncia de todos os seus membros.
A aprovação da operação de controle da Reag pelo seu conselho de administração, embora unânime, ocorreu com a abstenção dos conselheiros João Carlos Mansur (fundador) e Dario Tanure (CEO), que possuem interesse direto na transação.
Essa situação evidencia os potenciais conflitos de interesse inerentes a operações de management buyout (quando os próprios executivos de uma empresa compram o controle da companhia em que trabalham).
Apesar das incertezas, a Reag mantém uma posição relevante no mercado de gestão de recursos, administrando mais de 330 fundos por meio de suas subsidiárias, com patrimônio total superior a R$ 225 bilhões em agosto de 2025.
Esse valor já representa uma queda em relação ao recente avanço meteórico que a tornou a oitava maior gestora do país - e primeira entre as independentes -, com mais de R$ 340 bilhões em ativos sob gestão, segundo dados de julho deste ano da Anbima, associação de entidades e instituições do mercado.
Pouco menos de cinco anos antes, em dezembro de 2020, a Reag tinha R$ 25,3 bilhões em ativos, sendo a 29ª maior gestora do país por esse critério; e, quase uma década atrás, em dezembro de 2015, era R$ 1,6 bilhão (92º lugar).
O salto no volume de ativos sob gestão entre dezembro de 2020 e julho deste ano foi da ordem de 1.250%.
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