Bloomberg — Christian Klein entra correndo no palco da conferência anual de vendas da SAP vestindo um agasalho cinza como se estivesse dando uma volta da vitória. E, de certa forma, ele está.
O CEO de 45 anos assumiu o comando há seis anos, justamente quando as vendas da empresa começavam a estagnar.
A SAP — que desenvolve softwares para finanças, vendas e outras funções corporativas — perdeu a migração do setor para a nuvem e tentava recuperar o atraso.
Em um de seus primeiros balanços como CEO, Klein apresentou uma perspectiva sombria, e as ações da empresa despencaram mais de 20%. “Eu precisava de uma ou duas ou três taças de vinho”, disse em entrevista para a Bloomberg TV.
Foi então que Klein decidiu dar um ultimato aos seus clientes corporativos: migrem seus dados para nossos produtos em nuvem, ou não ofereceremos mais suporte.
A aposta valeu a pena.
As vendas na nuvem começaram a disparar e a SAP é hoje a empresa de software mais valiosa da Europa.
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Agora, Klein precisa de uma segunda chance.
O aumento das vendas decorrente da transição para a nuvem começará a cair em 2027, quando a SAP anunciou que começará a reverter o suporte para o software mais antigo.
Os clientes precisam migrar seus sistemas até lá, então a maior parte dos gastos virá nos próximos anos.
Depois disso, a SAP terá que oferecer novos serviços para manter o crescimento.
A empresa mira aplicações de inteligência artificial como seu futuro, mas enfrenta a concorrência de praticamente todas as outras gigantes da tecnologia no mundo.
Muitos clientes já estão insatisfeitos com a custosa transformação para a nuvem. Analistas da consultoria de tecnologia Gartner relataram, neste ano, preocupações de que a empresa esteja perdendo participação de mercado para alguns produtos mais novos fora de seu negócio principal e afastando clientes devido às táticas agressivas de vendas.
Neste ano, as vendas de nuvem da SAP devem atingir quase € 22 bilhões (US$ 26 bilhões), quase o triplo dos níveis de 2019. Mas entrevistas com mais de 20 executivos, funcionários, clientes e parceiros da SAP deixam claro que há sérios desafios pela frente.
Internamente, alguns executivos temem que a SAP não consiga encontrar uma estratégia para atrair clientes para os novos produtos de IA. Investidores, que estavam otimistas com o crescimento da SAP na nuvem, venderam as ações nas últimas semanas, diante de preocupações com a possibilidade de a empresa ser abalada pela IA.
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Não é apenas o futuro da SAP que está em jogo.
Na Europa, a gigante alemã é uma das poucas empresas de software que conseguiram se tornar uma referência mundial em seu segmento. Seu valor de mercado ultrapassou em muito o de sua antiga rival dos Estados Unidos, a Salesforce, e a posição dominante da SAP significa que as empresas europeias não dependem tanto de outras partes do mundo para a inovação.
A força da SAP, juntamente com algumas outras empresas de destaque – como a ASML, Spotify e Arm – é motivo de orgulho em um continente que cedeu a liderança tecnológica aos EUA e à Ásia.
No imenso Orange County Convention Center, em Orlando, nos EUA, nesta primavera do hemisfério Norte, Klein expôs sua visão para o futuro.
Ele explicou aos 11.000 funcionários, clientes e parceiros revendedores no evento anual de vendas Sapphire da SAP como a empresa integrará a IA em seus produtos.
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Há assistentes para ajudar a coletar e interpretar informações e agentes para automatizar o trabalho em diferentes aplicativos — tudo vendido em um pacote conveniente. “Juntos”, disse Klein ao encerrar sua fala principal, “vimos como o conjunto de soluções SAP, reforçado com IA de negócios, ajuda em tempos de incerteza e como ajudamos vocês a chegarem lá de forma mais rápida, mais simples e com menor custo”.
Mas muitos dos clientes que compareceram à feira naquela semana ainda digeriam o último avanço tecnológico da empresa. Alguns expressaram frustração e cansaço com a atualização para a nuvem — um processo caro e complexo que a maioria ainda nem começou.
O evento deveria ser uma vitrine da proeza da empresa.
O valuation da SAP já ultrapassou todas as outras 39 maiores empresas de capital aberto da Alemanha no DAX. É a única empresa alemã com valor superior a € 200 bilhões e tem uma avaliação de mercado cerca de 50% superior à segunda colocada, a Siemens.
Analistas esperam que as vendas de nuvem e software da empresa continuem a crescer nos próximos anos, atingindo 15% em 2027, de acordo com dados compilados pela Bloomberg News.
A tendência é de desaceleração depois disso, embora a perspectiva média dos analistas projete um crescimento acima de 10% até 2030.
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