Bloomberg Línea — O crescimento do comércio entre a América Latina e a China levou a empresa dinamarquesa de logística integrada Maersk a fortalecer seus serviços aéreos na região a partir deste ano, com planos de expansão para o Brasil até 2026 para atender à crescente demanda por frete rápido do país asiático.
“Os clientes estão realmente pedindo que a carga chegue mais rápido. Portanto, observamos um grande aumento na carga aérea. A Maersk teve que trazer seus próprios aviões para a região. Os aviões já começaram a chegar“, disse Antonio Dominguez, presidente da empresa para a América Latina e o Caribe, em uma entrevista à Bloomberg Línea.
As aeronaves da empresa estão voando atualmente para mercados da região, como Chile, Colômbia e Panamá para atender ao fluxo comercial entre a América Latina e a China.
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A Maersk opera duas viagens por semana no Chile e na Colômbia, com planos de estender esse serviço ao Brasil em 2026, com o estado de São Paulo como hub.
“Já operamos há quatro meses e estamos crescendo 15% mês a mês” nesse serviço, disse o executivo.
Os clientes contratam desde um espaço específico da aeronave - medido em metros cúbicos - até uma aeronave completa em uma base de fretamento, dependendo de suas necessidades de entrega. Alguns solicitam capacidade semanal fixa, enquanto outros exigem voos exclusivos.
“Começamos a oferecer o serviço de importação, pois havia uma alta demanda por produtos de rápida movimentação do comércio eletrônico asiático que precisavam chegar mais rapidamente à América Latina”, disse Dominguez.
O serviço, que é prestado com as aeronaves 767 e 777 da própria Maersk Air Cargo, é voltado principalmente para importações de comércio eletrônico e produtos perecíveis, nos quais o transporte marítimo não é suficientemente rápido.
Produtos como flores, frutas e peixes se beneficiaram com a introdução dessa nova capacidade.
A aeronave faz uma escala no Panamá, o que permite que a carga seja distribuída para outros destinos na região.
A Maersk abriu recentemente um centro de logística de 20.000 metros quadrados no Panamá, de onde gerencia as operações e a logística integrada para seus clientes na região.
A empresa também observou que os clientes solicitam muito mais espaço de armazém e que há interesse em serviços de carga de menos de um caminhão.
Em vez de enviar contêineres cheios, muitas empresas têm optado por consolidar as mercadorias no país de origem e enviá-las diretamente para centros de logística como o Panamá, de onde são redistribuídas para vários destinos.
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Em alguns casos, o transporte marítimo e aéreo são combinados: a carga chega primeiro por navio em um porto regional e depois é transferida para uma aeronave para cumprir prazos de entrega rigorosos.
Há também um interesse na América Latina em diversificar os destinos de exportação, como tem sido o caso de produtos como o café, que, em meio às tarifas anunciadas pelos EUA para o Brasil, tem buscado novos destinos, como a Europa, de acordo com Dominguez, presidente da Maersk na região.
Consolidação do comércio
A China continua a se estabelecer como o principal impulsionador do comércio mundial de contêineres, de acordo com a Maersk.
Em particular, as importações chinesas para a América Latina aumentaram 17% no segundo trimestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano passado, especialmente em segmentos como tecnologia e maquinário.
“De tudo o que é importado para a América Latina, 38% já vem da China”, disse Dominguez.
“E também vemos muitas exportações da América Latina indo para a China. A quantidade de grãos que sai do Brasil, por exemplo, continua a crescer a cada trimestre, e tudo isso vai para a China.
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O executivo destacou que há muitas oportunidades, especialmente no transporte de cargas refrigeradas.
Ele explicou que cada vez mais frutas, legumes, carnes e aves são enviados diretamente dos mercados latino-americanos para a China.
Infraestrutura e integração regional

Antonio Domínguez também se referiu novamente ao atraso da infraestrutura portuária na América Latina, que limita a capacidade de aproveitar ao máximo o boom do comércio.
“Temos gargalos”, disse ele. “Muitos portos não têm o calado necessário para a última geração de navios e a maioria está operando perto de sua capacidade máxima.
O executivo avalia positivamente projetos como o Porto de Chancay, no Peru (com investimento chinês), e Puerto Antioquia, na Colômbia, que poderiam complementar a oferta regional.
Atualmente, o Panamá movimenta cerca de 10 milhões de TEUs (Twenty Foot Equivalent Unit, unidade equivalente a vinte pés) por ano, embora a capacidade do país já tenha atingido 20 milhões de TEUs, o que evidencia um atraso na infraestrutura portuária .
A Maersk acredita que há uma forte demanda na região para expandir a capacidade e destaca os projetos de expansão em andamento no México, Peru e outros países da América Latina como sinais positivos para o crescimento do setor.
Reordenação global
Perguntado sobre quais países têm o maior potencial para aproveitar esse novo ciclo comercial com a China, Domínguez menciona Brasil, México, Argentina, Colômbia, Chile e Peru, mas insiste que toda a região tem oportunidades se agir de forma coordenada.
A América Latina enfrenta uma grande oportunidade em meio à reordenação do comércio global, especialmente para fortalecer e expandir seus acordos de livre comércio.
Ele enfatiza a necessidade de a região atuar como um bloco integrado, capaz de negociar com maior peso em relação a outras economias.
Ainda há tarefas pendentes, como a conclusão do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul ou a atualização dos pactos com os Estados Unidos.
A Maersk também destaca o papel fundamental da região como fornecedora global de alimentos: A América Latina é responsável por cerca de 30% das exportações globais de carne resfriada.
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Nesse sentido, ele destaca a importância de aumentar a competitividade agrícola e facilitar o acesso dos produtores aos principais mercados internacionais.
A empresa também identifica oportunidades no setor de manufatura, onde o México continua sendo um centro importante, mas países como a Colômbia e o Brasil têm grande potencial, assim como outros mercados na América Central.
Além disso, há a riqueza mineral da região, com recursos estratégicos como lítio, cobre e terras raras, essenciais para a transição energética global.
Tudo isso, argumenta a empresa, reforça a necessidade de diversificar as exportações, atrair mais investimentos estrangeiros, melhorar a infraestrutura e avançar com novos acordos comerciais.
Contra a possibilidade de uma divisão permanente do comércio global entre os Estados Unidos e a China, Dominguez defende o princípio do comércio aberto.
“Para nós, obviamente, quanto mais houver troca de bens e serviços, mais as pessoas crescem, mais pessoas saem da pobreza, mais há crescimento social em todos os países”, disse Domínguez.
O executivo acredita que a América Latina deve se concentrar em “jogar suas cartas de forma inteligente”, aproveitando sua posição geográfica, diversificando os parceiros e fortalecendo seus acordos de livre comércio. “Em vez de ver o copo meio vazio, vamos vê-lo meio cheio”.
Comércio mundial de contêineres

A Maersk observa que o crescimento do PIB global permanece estável, próximo a 3%, pelo terceiro ano consecutivo.
Entretanto, o comércio mundial de contêineres avança em um ritmo mais rápido, com uma expansão de 4,9%, indicando uma recuperação mais dinâmica do que a da economia em geral.
Esse crescimento está concentrado principalmente no comércio da China com a Europa, a África e a América Latina
Para a América Latina, a Maersk projeta um crescimento do PIB regional próximo a 2% em 2025, um pouco abaixo dos 2,4% registrados em 2024.
No entanto, a empresa espera que o comércio entre a China e a região cresça a uma taxa muito maior, tanto em importações quanto em exportações, à medida que as condições do comércio global se normalizem.
A Maersk é a principal usuária do Canal do Panamá e sua subsidiária APM Terminals anunciou em abril passado a compra da Panama Canal Railway Company (PCRC), uma empresa que opera uma ferrovia de carga adjacente ao Canal do Panamá. “No caso de um possível fechamento, isso permite que você continue a movimentar contêineres nas ferrovias”, disse o executivo.