Bloomberg Línea — Quem tem capital tem tempo.
Com essa premissa, a construtora e incorporadora SKR aposta no que descreve como curadoria – da escolha do terreno aos serviços agregados — para atingir R$ 3,7 bilhões em Valor Geral de Vendas (VGV) de 2025 a 2027 com lançamentos de alto padrão na cidade de São Paulo, maior mercado do país.
O entendimento é que o cliente com esse perfil não tem necessariamente pressa para comprar.
“Nesse mercado, temos que focar nos detalhes e manter o padrão de qualidade, arquitetura e design. Nosso cliente já mora bem e em uma boa localização e isso significa que ele não tem pressa para comprar”, afirmou o CEO e fundador da SKR, Silvio Kozuchowicz, em entrevista à Bloomberg Línea.
Neste ano, a empresa projeta VGV de R$ 800 milhões. Para 2026, o indicador deve alcançar R$ 1,3 bilhão e, em 2027, R$1,6 bilhão.
O crescimento esperado ao ano da SKR é da ordem de 20% a 30% ao ano.
Kozuchowicz disse que a SKR tornou-se parceira preferencial de gestoras como SPX, Kinea e Porto Fino para desenvolver empreendimentos imobiliários.
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No segmento de prédios voltados 100% para locação, conhecido como multifamily, a parceria já envolveu o fundo de pensão canadense CPPIB.
“Somos uma empresa tradicional. Esses fundos veem na SKR uma plataforma para investir que agrega qualidade e confiança”, afirmou o executivo. “Sozinho ninguém mais cresce nesse mercado”, acrescentou.
Apesar dos desafios do setor imobiliário nos últimos anos, com aumento expressivo dos custos de terrenos, insumos e mão de obra, o executivo defendeu a visão de que houve avanços importantes, como a profissionalização crescente.

Nesse cenário, a SKR está amplamente ligada a family offices.
“Algumas décadas atrás, famílias importantes e com recursos se juntavam, compravam terrenos e erguiam seus empreendimentos imobiliários. Hoje, os family offices dessas e de outras famílias são canais de investimentos no setor”, disse Kozuchowicz.
“Estamos falando de filhos, netos e bisnetos que perpetuaram o modelo de negócio com um nível de profissionalização muito maior.”
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Kozuchowicz disse que a SKR está saudável financeiramente, sem abrir números do resultado financeiro, e apontou que o número de parceiros que são investidores institucionais é uma prova disso. “Hoje, somos procurados para avaliar terrenos tanto por family offices quanto por outras empresas”, disse.
A SKR nasceu em 1985 e, para manter o seu crescimento, o executivo disse que a empresa precisou desenvolver expertise, tecnologia, conhecimento e governança .
“Para sobreviver nesse mercado, é preciso crescer não só em volumes mas também financeiramente e com qualidade. Tive uma importante percepção alguns anos atrás de que, se ficássemos de um tamanho muito maior, eventualmente iríamos estagnar, pois esse é o ônus de gerir sozinho a responsabilidade”, dsse.
Ele ressaltou a importância da escolha dos parceiros da empresa. “A SKR tem parcerias com fundos maduros, com chancela de governança.”
‘Arquitetura viva’
Com um tempo médio de 36 a 48 meses entre a compra do terreno e a entrega do empreendimento, a SKR aposta no conceito criado internamente de “arquitetura viva”, que afirma combinar curadoria com melhores profissionais para desenvolver projetos “singulares e atemporais”, o que acaba se traduzindo em benefícios reais para os clientes, principalmente ao longo do tempo.
Dentro desse modelo também se encaixa um conceito arquitetônico que ficou conhecido como “fachada ativa”, em que o térreo dos edifícios abriga atividades comerciais, culturais ou de serviços voltadas para a rua - prática estimulada por meio de incentivos pelo Plano Diretor e pela Lei de Zoneamento.
O intuito é promover a interação entre o empreendimento e o espaço público, além de contribuir para a vigilância coletiva, o que ficou conhecido como “olhos da rua” no jargão de urbanistas.
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“Pinheiros, Jardins, Cerqueira César, estes são bairros que funcionam 24 horas, temos que criar vida nestes espaços”, disse Kozuchowicz.
Ele afirmou que a SKR vem trabalhando em projetos cujos estabelecimentos comerciais instalados no térreo devem servir tanto à rua quanto aos moradores, por meio de uma entrada dedicada.
A SKR também tem um braço de hospitalidade e gestão de propriedades chamado Skinn, de empreendimentos voltados exclusivamente para quem busca geração de renda, como investidores, e que incluem recepção e serviços por demanda em um aplicativo próprio.
“Temos uma visão do universo SKR que vai desde a compra até a gestão de serviços. Estamos tentando fazer um ciclo imobiliário completo”, disse o empresário e executivo.

A Skinn já tem algumas dezenas de apartamentos sob gestão e de 500 a 600 unidades em desenvolvimento atualmente. “Em três anos, o nosso pipeline prevê de 3 mil a 4 mil unidades sob gestão”, relata Kozuchowicz.
Como se trata de um segmento relativamente jovem no Brasil, com novos entrantes, o executivo acredita que a SKR pode despontar. “Este mercado conta com empresas novas, mas que ainda não vimos entregando a qualidade que imaginamos.”
Em sua visão, o acompanhamento – próprio ou terceirizado – da gestão dos edifícios faz com que os empreendimentos se perpetuem com valorização. “Não dá mais para construir projetos ruins na cidade, São Paulo não é reconstruível tantas vezes”, diz.
Ele acrescenta que diante da escassez de bons terrenos, a oportunidade de construir em determinados locais é única. “Vamos fazer o melhor possível. Temos orgulho de ver que as entregas que fizemos ao longo de 40 anos se mantêm valorizadas.”
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Reengenharia de custos
Em um cenário extremamente volátil, Kozuchowicz quer “dobrar a aposta”. “Não estamos vivendo tempos normais no negócio de real estate, a taxa de juro real é desumana. Estamos trabalhando para não perder e também para conseguir crescer. Vamos trabalhar em dobro, se não seremos engolidos”, disse.
Uma vez que São Paulo figura no centro da disputa entre as maiores construtoras do país, o executivo relatou que a SKR vem fazendo uma “reengenharia” para viabilizar empreendimentos com a mesma qualidade, mas com redução de custos. “Estamos completando 40 anos. Este mercado é para poucos.”
Ele afirmou que o público da empresa gira em torno da população com faixa etária acima de 30 anos: são muitas vezes famílias que descreveu como cosmopolitas, que buscam viver em comunidade com uma “boa arquitetura”.
Para ele, o lucro é importante e mantém o negócio vivo, mas não é o único objetivo. “Não podemos visar somente um crescimento rápido e desenfreado. Equilíbrio é fundamental. E deixar um legado é entender que podemos ocupar um espaço muito maior no mercado, mas não se faz isso sozinho.”
Kozuchowicz contou também que a sucessão dentro da SKR já vem acontecendo há cerca de cinco anos. “Temos um corpo diretivo que começou mais jovem, mas que hoje está amadurecido”, afirmou. “A sucessão tem sido um processo natural e isso me enche de alegria”, acrescentou, sem abrir os nomes.
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