Bloomberg — Uma ofensiva digital está a caminho para os bancos mexicanos, à medida que empresas financeiras online com licenças bancárias recém-emitidas buscam conquistar os clientes da classe média com suas cobiçadas contas-salário.
A Revolut e o Banco Plata devem iniciar suas operações no primeiro semestre do próximo ano, enquanto o Nubank pretende se tornar um banco ainda em 2026, e a fintech do Mercado Livre, o Mercado Pago, aguarda aprovação dos órgãos reguladores.
A startup mexicana Klar optou por um caminho mais rápido e acertou a compra da unidade digital Bineo, do Grupo Financiero Banorte, para conquistar diretamente sua licença.
Juntos, esses players acirram a disputa de um dos mercados financeiros mais competitivos da América Latina e pressionam os maiores bancos do México — BBVA, Santander e Banorte — a se modernizarem e a reduzirem as suas taxas.
O Nubank e a Revolut experimentam anos de crescimento acelerado e se transformaram em gigantes financeiros em outros mercados, como Brasil e Europa, mas o México não será um território fácil para os recém-chegados.
Ambos têm valor aproximado: US$ 84 bilhões para o Nubank, listado na NYSE, nesta sexta-feira (28) e US$ 77 bilhões para a Revolut, que acaba de fechar nova rodada de investimento juntos a grandes fundos globais de venture capital.
Ambos enfrentarão um ambiente regulatório menos propício a novos entrantes de fora, uma infraestrutura precária e uma forte concorrência com grandes bancos tradicionais e fintechs locais, o que indica uma batalha árdua pela frente.
“O capítulo mais empolgante da história do setor bancário digital mundial será escrito aqui no México nos próximos anos, com a transformação tanto dos players tradicionais quanto dos concorrentes digitais chegando”, disse Juan Miguel Guerra, CEO da operação mexicana da Revolut, à Bloomberg News.
Eles terão a mesma oportunidade, afirmou Guerra, “mas, como é a tendência no mercado de produtos digitais, o vencedor leva a maior parte”.
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Fintechs têm atraído, há anos, os mexicanos que não têm acesso a bancos ou crédito. Agora, elas se voltam a clientes que estão em setores mais consolidados da economia, mas que ainda são pouco atendidos pelas instituições financeiras tradicionais.
Esses players executam suas estratégias com marketing “pesado” e miram as contas-salário, em que os pagamentos mensais das pessoas são depositados automaticamente.
Essas contas, disponíveis apenas em bancos regulamentados, são consideradas a joia da coroa do setor bancário de varejo do México, pois alimentam produtos de crédito, poupança e investimento.
Os bancos digitais apostam na crescente classe média do México, antenada em tecnologia, como Mitzi Martínez.
Moradora da Cidade do México, hoje com 31 anos, ela abriu uma conta no Nubank há um ano e meio, somando-a às suas duas contas bancárias já existentes para poupar e investir parte do seu salário.

“Abri o Nubank porque facilitava muito o investimento”, disse Martínez.
“Era realmente fácil: obter rendimentos sobre o dinheiro mantendo-o lá, tudo em um único sistema.”
Para alguns novatos em fintech, ela afirmou que “a variedade de serviços às vezes pode ser esmagadora, e talvez nem sempre tenhamos informação para saber qual é a melhor opção. Em vez disso, simplesmente escolhemos aquela que vende melhor.”
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A Finnovista, empresa de capital de risco especializada em fintechs, estima que existam mais de mil provedores online no México. Não há uma estimativa pública confiável de seu valor ou de seus ativos, mas o setor cresce a uma taxa de quase 20% ao ano, de acordo com a Associação Mexicana de Fintech.
Entre todas as empresas financeiras, o número de contas de depósito subiu para 162,6 milhões no final de 2023, com um saldo médio de 48.672 pesos mexicanos (cerca de US$ 2.650), aumento em relação aos cerca de 126 milhões de contas em 2020, informou a Comissão Nacional Bancária e de Valores Mobiliários do país.
Cerca de 70% dessas contas estão em bancos comerciais, e o restante em bancos de desenvolvimento locais e em fintechs.

Esses números atraíram empresas como a Revolut, com sede em Londres, uma das startups mais valiosas do mundo e a líder na Europa, que escolheu o México como seu primeiro mercado com licença completa na América Latina - está no Brasil desde 2023, mas sem a autorização para operar como banco, por exemplo.
O Plata, liderado por um ex-executivo do Tinkoff Bank, Neri Tollardo, recebeu aprovação para uma licença bancária em dezembro e planeja adicionar produtos vinculados a débito e a folha de pagamento.
O Ualá, da Argentina, comprou a ABC Capital, sediada em Monterrey, em 2021, e o mexicano Kapital adquiriu o Banco Autofin em 2023 — negócios que permitiram a ambos contornarem o processo lento e arriscado de solicitar uma licença do zero.
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O México tem apenas 52 licenças bancárias ativas, e garantir uma pode levar anos: o Ualá precisou de aproximadamente dois anos para adquirir uma licença, enquanto a Revolut levou quase cinco anos para receber a aprovação.
“O processo regulatório é longo, lento e caro”, disse Gustavo Méndez, líder de Serviços Financeiros da Deloitte Latam.
“Por outro lado, é mais seguro tanto para a empresa quanto para o consumidor”, afirmou, porque o resultado geralmente é uma instituição mais forte.
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O México, a segunda maior economia da América Latina, oferece um contraste marcante com o Brasil, o caso de sucesso das fintechs na região.
No país, instituições financeiras digitais como o Nubank prosperaram sob regras mais flexíveis que lhes permitiram oferecer cartões de crédito, pagamentos e alguns tipos de contas sem a necessidade de licenças completas.
Isso contribuiu para que a inclusão financeira no Brasil subisse de 68% em 2014 para 84% em 2021, segundo dados do Banco Mundial.

Em contrapartida, o acesso a serviços financeiros no México permanece profundamente desigual.
No nordeste do país, região mais próspera, cerca de 85% dos residentes possuem conta bancária, em comparação com apenas 68% nos estados do sul, como Chiapas, Guerrero e Oaxaca, segundo um estudo da NTT Data.
Maior banco digital da América Latina, com 127 milhões de clientes em três mercados - Brasil, México e Colômbia -, o Nubank obteve sua aprovação preliminar para o México em abril e aguarda uma segunda aprovação para começar a operar como banco.

A mudança dará ao Nubank a oportunidade de construir laços mais sólidos e lucrativos com seus clientes do que apenas com cartões de crédito, em que as perdas com inadimplência tendem a ser maiores.
“Tornar-se um banco no México é um passo natural em nossa estratégia de longo prazo”, disse Armando Herrera, CEO da operação mexicana do Nubank.
“O México é um pilar-chave da nossa estratégia global, sendo um dos mercados mais dinâmicos e com maior potencial de inclusão financeira na região”.
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