O sucesso na Nespresso credenciou o novo CEO da Nestlé. O mercado tem suas dúvidas

Philipp Navratil tem 20 anos no grupo e passou os anos recentes com foco no negócio de café. Mas analistas questionam se a maior empresa de alimentos do mundo não deveria conduzir um processo de escolha de CEO mais diligente

Nestlé
Por Sonja Wind
02 de Setembro, 2025 | 07:49 AM

Bloomberg — A Nestlé recorreu ao executivo que dirige seu império de café Nespresso para tentar estabilizar a maior empresa de alimentos do mundo, depois que ela foi abalada pela segunda demissão de CEO em pouco mais de um ano.

Philipp Navratil assume o cargo de CEO da empresa suíça, após a saída de Mark Schneider por fraco desempenho no ano passado e agora de Laurent Freixe, na segunda-feira (1), por não ter revelado um caso com uma pessoa subordinada direta.

PUBLICIDADE

Trata-se de uma turbulência sem precedentes para uma empresa que é conhecida por seu planejamento interno de sucessão e por sua cultura corporativa rígida.

Leia também: Movido a café: volta ao escritório alavanca negócios da Nespresso no Brasil

A demissão de Freixe “nos deixou chocados”, disseram os analistas do RBC, incluindo James Edwardes Jones, em uma nota.

PUBLICIDADE

“Pensamos nele como um veterano da Nestlé que restauraria a reputação da empresa de previsibilidade ligeiramente enfadonha. Como estávamos errados”, escreveram em referência ao executivo que estava na empresa desde 1986.

A rápida remodelação levanta a questão do motivo pelo qual a Nestlé nomeou imediatamente um CEO interno permanente, “em vez de dedicar tempo para realizar uma avaliação completa dos candidatos internos e externos”, disseram os analistas da Jefferies.

As ações da Nestlé caíram 3,6% no início do pregão de terça-feira (2), antes de reduzir a queda.

PUBLICIDADE

Agora, os olhos dos investidores estão voltados para Navratil, um veterano da empresa com mais de 20 anos de experiência que, aos 49 anos de idade, poderia dirigir a fabricante das barras de chocolate KitKat - e de dezenas de outras marcas globalmente famosas - por uma década ou mais.

Leia também: De cold brew a cápsulas: Nescafé investe R$ 500 mi para crescer no Brasil

Ele ingressou na Nestlé em 2001 e passou grande parte de sua carreira na América Central, inclusive no México, com foco no negócio de café.

PUBLICIDADE

Posteriormente, dirigiu a unidade global de café do grupo, supervisionando a marca Nescafé e o contrato de licença com a Starbucks, que os analistas consideram um dos negócios mais promissores da Nestlé.

Ele se tornou CEO da Nespresso, fabricante de máquinas de café e cápsulas de uso único, em julho de 2024.

A nomeação de Navratil, juntamente com a mudança de presidente do conselho da Nestlé no próximo ano - com a saída programada de Paul Buckle -, é “o verdadeiro passo geracional que provavelmente deveria ter acontecido 12 meses antes”, disse o analista do Baader, Andreas von Arx, em uma nota.

Mas os executivos ainda enfrentam ceticismo quanto à sua capacidade de “reiniciar”uma era dourada de uma empresa cujas ações caíram mais de 40% desde seu pico no início de 2022.

Navratil disse que “abraçará totalmente a direção estratégica da empresa”, sinalizando que dará continuidade à estratégia de Freixe de impulsionar a publicidade, apostar em menos iniciativas de produtos, porém maiores em receitas, e “se livrar” de unidades de baixo desempenho.

Ações da Nestlé caíram 17% sob a gestão de Laurent Freixe em um ano

Ele também herdará uma reestruturação em andamento, incluindo a possível venda de marcas de vitaminas - que está em dificuldades - e a busca de um parceiro em potencial para o negócio de águas engarrafadas da Nestlé, que Freixe separou em uma unidade autônoma.

“Estamos desapontados com o fato de o CEO estar próximo, por enquanto, à estratégia de seu antecessor, em um momento em que o mercado duvida do resultado”, disse Celine Pannuti, analista do JPMorgan, em uma nota.

Alguns dos desafios da Nestlé estão fora de seu controle direto.

Embora Freixe tenha observado com frequência que cerca de 90% de seus produtos vendidos nos EUA são fabricados internamente e, portanto, estão fora do escopo das tarifas do presidente Donald Trump, uma exceção importante são as cápsulas de café da Nespresso, fabricadas na Suíça.

Elas agora estão sujeitas a uma taxa de 39%.

É um negócio que Navratil conhece bem, pelo menos.

-- Com a colaboração de James Cone.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também

De olho na Geração Z: café gelado ganha espaço na estratégia da Nestlé