Na Mars, ‘liberdade é proporcional ao resultado’, diz general manager no Brasil

Adriana Hartmann diz em entrevista à Bloomberg Línea como o modelo de capital fechado e a cultura ‘hard on business, soft on people’ ajudam a impulsionar o crescimento da companhia no país, que dobrou de tamanho nos últimos anos

Kevin Carter/Getty Images
15 de Dezembro, 2025 | 04:30 PM

Bloomberg Línea — O Brasil se tornou uma das operações de crescimento mais rápido da americana de doces e chocolates Mars Wrigley, a tal ponto que a dona das marcas M&M’s, Snickers, Twix e Skittles dobrou de tamanho no país nos últimos anos.

Para a general manager Adriana Hartmann, a cultura organizacional e o modelo de empresa com capital fechado, sob controle da família norte-americana Mars, ajudam a explicar parte desse resultado.

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Hartmann, que chegou à empresa em abril de 2023, lidera a divisão de chocolates, balas e snacks da empresa no país desde então.

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Em agosto de 2024, a empresa anunciou a aquisição da Kellanova, dona das marcas Pringles e Pop‑Tarts, por US$ 36 bilhões, em transação que recebeu aval dos órgãos regulatórios responsáveis no fim da semana passada.

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Para a executiva, o modelo organizacional da empresa tem sido crucial para atravessar períodos de volatilidade e manter a consistência da operação.

“Trabalhamos muito no modelo ‘hard on business, soft on people’. O ambiente é leve, a liderança é próxima, zero hierárquica”, disse em entrevista recente à Bloomberg Línea.

“Estratégia boa cabe em uma mão: simples, comunicável, que todos entendam. E o terceiro é entregar. A liberdade é proporcional ao resultado.”

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Segundo a executiva, a estratégia no país é ancorada nos princípios da empresa: qualidade, responsabilidade, mutualidade, eficiência e liberdade.

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Confira a seguir a segunda parte da entrevista com Adriana Hartmann, general manager da Mars no Brasil, editada para fins de clareza (leia a primeira parte aqui):

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Quais são os principais desafios da liderança na Mars?

O primeiro desafio é o casting. Ou seja, ter as pessoas certas no lugar certo. Eu sempre acreditei nisso: ter pessoas certas e felizes. Um time em que confio, que tem conversas francas. Falamos de “rebeldia responsável”, que é desafiar o status quo com responsabilidade.

O segundo é ter uma estratégia clara. Estratégia boa cabe em uma mão: simples, comunicável, que todos entendam. E o terceiro é entrega.

A liberdade é proporcional ao resultado. Temos muita disciplina em entregar compromissos, antecipar movimentos e olhar para fora para conectar o mercado com a nossa performance.

Adriana Hartmann, general manager da Mars no país

O consumidor anda mais exigente e em busca de alimentos com menos açúcar e menos corante. Como a Mars incorpora essas exigências ao seu portfólio?

A indulgência vai sempre existir. É parte de uma visão holística de saudabilidade. O “momento eu mereço” sempre vai estar presente. Não é uma troca, é um balanço. Nossos produtos já têm porções bem calibradas em calorias. A qualidade dos ingredientes é inegociável.

Mesmo agora, com o custo do cacau em alta, não fizemos downgrade de formulação. Isso é um valor inegociável para a família Mars.

Em empresas de capital aberto, e eu já trabalhei em várias delas, às vezes são tomadas decisões muito direcionadas ao P&L [Profit & Loss, equivalente ao resultado]. A Mars, não. A decisão é de longo prazo.

Em relação a corantes e regulamentações, seguimos estritamente todas as normas brasileiras. E ouvimos o consumidor: há projetos em desenvolvimento para deixar os produtos cada vez mais alinhados às preferências do público.

Lançamento da empresa no país: Snickers de chocolate branco

Como funciona o diálogo com as lideranças globais em uma empresa de grande porte como a Mars?

Trabalhamos muito no modelo ‘hard on business, soft on people‘. O ambiente é leve, a liderança é próxima e zero hierárquica.

Eu reporto para o cluster de Global Emerging Markets: somos um time muito diverso, com culturas diferentes e um sistema de suporte incrível. Temos objetivos globais discutidos entre o mercado e o cluster, mas, uma vez definidos, cada mercado tem muita autonomia.

Na Mars, as estruturas regionais e globais existem para apoiar os mercados, e não o contrário. É um modelo de operação muito único. Toda vez que precisamos de suporte, ele vem: seja em aspectos técnicos, investimento ou talentos.

A Mars é uma empresa muito relacional, menos processual. Relações bem estabelecidas permitem decisões ágeis.

-- Nota da edição: a entrevista com Adriana Hartmann foi realizada antes da conclusão da aquisição da Kellanova pela Mars e da aprovação pelos órgãos regulatórios.

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