Na disputa entre UE e China sobre carros elétricos, conhaque pode ser a vítima

Fabricantes como Rémy Cointreau e Pernod Ricard podem ser afetados com tarifas de 35% sobre a bebida exportada ao país asiático como retaliação a taxas sobre os carros chineses

A bottle of Remy Martin XO Excellence Cognac is arranged for a photograph at the Remy Cointreau SA headquarters, in Cognac, France, on Thursday, May 31, 2012. France's second-biggest distiller said it expects to report a "substantial increase" in full-year results. Photographer: Balint Porneczi/Bloomberg
Por Sabah Meddings
09 de Setembro, 2024 | 12:36 PM

Bloomberg — A Rémy Cointreau, a Pernod Ricard e outros fabricantes de bebidas alcoólicas premium têm enfrentado uma demanda fraca na China e nos Estados Unidos após o boom de consumo durante a pandemia perder força - uma desaceleração que tem durado mais do que alguns produtores previam.

Outro ponto de atenção no horizonte vem do recente anúncio da China de que, embora não vá impor imediatamente tarifas sobre o conhaque da União Europeia, estuda penalidades severas futuras.

As autoridades chinesas iniciaram uma investigação antidumping sobre os fabricantes de conhaque depois que a UE começou a examinar os subsídios do governo do país asiático para veículos elétricos.

Embora a China tenha afirmado que encontrou evidências de dumping em uma investigação preliminar, não impôs tarifas, um sinal de que Pequim vê espaço para negociações com a UE sobre várias questões comerciais que abrangem múltiplas indústrias.

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A Pernod, que publicou os resultados anuais no dia 29 de agosto, disse que suas perspectivas para o trimestre atual continuam fracas, mas que espera uma recuperação e projeta voltar a crescer neste ano fiscal.

Independentemente do que acontecer com relação à investigação, “a China continua sendo uma oportunidade de longo prazo muito importante para nós”, disse o CEO Alexandre Ricard em uma entrevista.

“Obviamente estamos desapontados”, disse ele. “Ainda acreditamos fundamentalmente que não estamos praticando dumping com nosso conhaque na China. Dito isso, continuamos a cooperar plenamente com as autoridades”.

O Ministério do Comércio da China, em seu relatório sobre a investigação no dia 29 de agosto, afirmou que o dumping do conhaque da UE ajudou a aumentar sua participação de mercado na China para mais de 50%, prejudicando os produtores domésticos. Tais práticas também mantiveram os estoques em níveis elevados.

Investigação prolongada

Embora a Rémy, a Pernod e outros produtores tenham evitado tarifas por enquanto, isso não significa que estão livres de dificuldades. Investigações semelhantes normalmente levam um ano ou mais, de modo que a China ainda pode implementar medidas em uma data posterior.

Se as tarifas sobre o conhaque, com uma média de alíquotas de 34,8%, entrarem em vigor, elas “constituiriam uma barreira injustificada ao acesso ao mercado”, de acordo com Ulrich Adam, diretor-geral do grupo de lobby SpiritsEurope.

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Enquanto isso, a União Europeia avançou com planos de impor tarifas sobre veículos elétricos chineses. O bloco único europeu deve publicar um regulamento final sobre essas taxas até 30 de outubro, a menos que as duas partes cheguem a uma solução negociada. A China ameaçou retaliar com tarifas próprias sobre diversos setores, incluindo carne suína e carros com grandes motores.

“Nossa indústria parece ser uma vítima colateral de um conflito comercial mais amplo, que limitará o acesso dos consumidores chineses a produtos que eles valorizam e apreciam muito, se não for resolvido como uma prioridade,” disse Adam em um comunicado.

A Comissão Europeia afirmou que os méritos da investigação da China são questionáveis e que as exportações de conhaque do bloco estão de acordo com todas as regras da Organização Mundial do Comércio.

“A comissão, portanto, acompanhará a investigação de perto para garantir que as regras da OMC estão sendo seguidas, examinando detalhadamente a base dessas medidas, e não hesitará em tomar todas as ações necessárias para defender os exportadores da UE,” disse o porta-voz Olof Gill em um comunicado.

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