Na Danone, primeiro veio o corte de açúcar no Danoninho. Agora é o restante da linha

VP de Operações e Sustentabilidade, Mário Rezende, e diretor de P&D para LatAm, Gustavo Álvarez, dizem à Bloomberg Línea como a empresa reduziu o teor de açúcar da linha infantil e planeja atingir metas de reciclagem de embalagens até 2030

Danone 0% é lançamento da empresa no país
31 de Outubro, 2025 | 12:48 PM

Bloomberg Línea — Mais de cinquenta anos separam o discurso de Antoine Riboud, então CEO da empresa que viria a se tornar a Danone, dos dias de hoje.

“Existe uma terra, vivemos apenas uma vez, a única coisa que é infinita é a criatividade das pessoas”, disse Riboud na Conferência Nacional do Conselho Nacional do Patronato Francês (CNPF) em Marselha.

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Em 1972, o executivo falou sobre a responsabilidade empresarial com a terra e a importância da preservação. Algo que hoje é relembrado como “icônico”, segundo o Vice-Presidente de Operações e Sustentabilidade do grupo, Mário Rezende.

A Danone começou a atuar no Brasil na mesma década do discurso de Riboud.

A empresa tem buscado acelerar nos últimos anos projetos que combinam redução de emissões de CO₂ e apoio técnico a produtores com investimentos na capacidade industrial.

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Esse foco estratégico se reflete tanto na cadeia de leite de baixo carbono quanto nas metas da companhia para os próximos anos. Atualmente, 20% do leite fresco processado pela Danone no Brasil é de origem de baixo carbono.

O resultado vem de programas de assistência técnica e sustentabilidade que hoje envolvem 167 dos 235 fornecedores da empresa.

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Segundo a companhia, as propriedades participantes já reduziram em 43% as emissões de gases de efeito estufa desde 2020.

Além disso, em outra frente, a empresa também tem buscado reduzir o teor de açúcar das linhas de produtos “queridinhos” de seu portfolio.

Em 2024, o país se tornou o primeiro mercado da Danone no mundo a atingir 100% do portfólio infantil com no máximo 10% de açúcar total.

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A redução em Danoninho foi de 11,50% para 10%. O teor de açúcar era de 20% em 1999.

Em uma entrevista à Bloomberg Línea em meados deste ano, o CEO da Danone Brasil, Tiago Santos, disse que a redução de açúcar da linha infantil representava 45% menos desse insumo do que o principal concorrente.

Leia também: Como esta fazenda se tornou exemplo na produção de leite de baixo carbono da Danone

Após reduzir o açúcar da linha infantil, a empresa mira o restante de seu portfólio. Assim como foi feito anteriormente, a mudança será “gradual”.

“A jornada de redução de açúcar não começou agora. Vem acontecendo há mais de 20 anos, especialmente no portfólio infantil”, disse Gustavo Álvarez, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Danone LatAm, durante uma visita guiada à fábrica de Poços de Caldas (Minas Gerais) com jornalistas.

“A meta é que todos os produtos, não apenas os infantis, tenham no máximo 10% de açúcar”, contou Álvarez.

Mário Rezende, vice-presidente de Operações e Sustentabilidade

“O consumidor brasileiro gosta de doce, portanto as mudanças precisam ser graduais. Mas conseguimos chegar ao limite de 10% [do Danoninho] sem perder aceitação”, disse Álvarez.

A empresa também visa aumentar a capacidade produtiva diante da maior demanda por alimentos proteicos, como a linha YoPRO, e o recém-lançado Danone Zero, sem lactose, açúcar, gordura, colesterol ou gordura trans.

Da fábrica ao consumidor

Na outra ponta da cadeia, a única fábrica de lácteos da Danone no Brasil, localizada em Poços de Caldas, abriga 19 linhas de produção e tem capacidade de processar 30.000 toneladas mensais.

Para o ano que vem, a empresa pretende ampliar em 50% a capacidade da fábrica de Poços, disse o VP de Operações e Sustentabilidade do grupo.

A unidade opera com energia 100% renovável e caldeira a biomassa de madeira, o que reduz em 85% as emissões de dióxido de carbono, segundo os executivos. O consumo de energia por tonelada caiu 10% nos últimos anos, e o de água, 12%.

Gustavo Álvarez, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Danone Latam.

O soro ácido gerado na produção do Danoninho é reaproveitado como fertilizante em fazendas da região. “Nada aqui vai para o aterro”, disseram os gestores da planta.

Atualmente, 78% das embalagens da Danone são recicláveis e 15% das garrafas já utilizam PET reciclado (rPET). Até 2030, o objetivo é chegar a 100% de reciclabilidade e reduzir em 30% o uso de plástico virgem.

“Já conseguimos reduzir bastante o peso das embalagens. Hoje temos as garrafas mais leves do mercado e lançamos uma linha biomimética, inspirada na natureza, que permite cortar em 8% o uso de plástico”, disse Rezende, que disse que o maior desafio de reciclagem no momento está nas embalagens do Danoninho.

“Há materiais, como o poliestireno [utilizado no Danoninho], que ainda são desafiadores em termos de reciclabilidade”, disse o executivo, que contou que a empresa avalia novas destinações para o material.

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