Bloomberg — O bilionário Elon Musk afirmou que pretende continuar como CEO da Tesla (TSLA) nos próximos cinco anos e que planeja reduzir seu gasto financeiro com a política, o que deu alívio a preocupações de alguns investidores sobre o futuro de sua empresa mais valiosa.
Musk contou novos detalhes sobre seus planos - por ora - em uma entrevista abrangente à Bloomberg News, na qual também abordou sua remuneração, a queda nas vendas da Tesla e uma possível cisão do negócio de satélites Starlink da SpaceX.
Musk repetiu suas críticas a personagens já conhecidos, como Bill Gates e a juíza de Delaware que já decidiu contra seu pacote de remuneração da Tesla duas vezes.
Musk, cuja fortuna de US$ 375,5 bilhões o coloca no topo do Índice de Bilionários da Bloomberg, reiterou que deseja ter mais ações da Tesla não por dinheiro, mas questões por controle.
“Não se trata de dinheiro”, disse ele durante uma participação remota nesta terça-feira (20) no Fórum Econômico do Catar, em Doha. “É uma questão razoável de controle sobre o futuro da empresa.”
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Musk é CEO da Tesla desde 2008, uma das gestões mais longas entre as maiores montadoras do mundo.
Seu envolvimento com a empresa tem sido cada vez mais questionado, especialmente após a Tesla registrar sua primeira queda anual nas vendas em mais de uma década, seguida por declínios ainda mais acentuados no início deste ano.
Como reflexo, as ações da Tesla chegaram a cair mais de 50% do pico em dezembro passado até abril, antes de uma recuperação em linha com o mercado mais amplo desde que Donald Trump acenou com recuos de sua política tarifária agressiva.
O governo do Estado do Catar é o patrocinador do Fórum Econômico do Catar, realizado em parceria com a Bloomberg.
As ações da Tesla subiram após os comentários de Musk sobre sua permanência no cargo de CEO, chegando a valorizar até 3,6% antes de reduzir os ganhos. No ano, os papéis acumulam queda de 14%.
Musk, de 53 anos, minimizou os desafios enfrentados pela Tesla, dizendo que “a situação já virou”.
Ao ser pressionado sobre essa afirmação — já que as vendas de veículos da montadora continuaram em queda nos principais mercados de veículos elétricos da Europa em abril —, o CEO reconheceu que a região é a mais fraca para a empresa, mas afirmou que o desempenho é forte em outras partes.
“Nossas vendas estão indo bem neste momento”, disse ele. “Não prevemos nenhuma queda significativa nas vendas.”
Danos à marca
Musk contestou a percepção de que sua figura tenha prejudicado a marca da Tesla e afirmou que, embora a empresa possa perder vendas entre consumidores de esquerda e de centro, ganha entre os de direita.
Ele criticou manifestantes que, segundo ele, cometeram “violência em massa” contra suas empresas.
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“Eles estão do lado errado da história, e isso é uma coisa maligna de se fazer”, disse ele, referindo-se a pessoas que vandalizam carros e concessionárias da Tesla. “Algo precisa ser feito a respeito, e vários deles vão para a prisão — com razão.”
O presidente Donald Trump saiu em defesa de Musk e da Tesla, inclusive exibindo os carros da empresa em frente à Casa Branca em março.
O FBI formou uma força-tarefa para coordenar investigações sobre vandalismo e incêndios em lojas e estações de recarga da Tesla, e a procuradora-geral Pam Bondi anunciou acusações contra indivíduos acusados de usar coquetéis molotov para incendiar propriedades da empresa.
Situação da SpaceX
A SpaceX, de Musk, tem se mostrado relativamente resiliente durante o segundo mandato de Trump.
Governos ao redor do mundo vêm se abrindo ao Starlink, serviço de internet via satélite da empresa, desde que seu fundador investiu mais de US$ 250 milhões para ajudar Trump a retomar a presidência.
Musk disse que, embora seja possível que o Starlink abra capital no futuro, não há pressa para que isso ocorra. Embora uma abertura de capital possa gerar mais receita, ele disse que isso acarretaria mais burocracia e processos “muito irritantes”.
“Algo precisa ser feito em relação às ações derivadas de acionistas nos EUA”, disse Musk, acrescentando que escritórios de advocacia estão buscando “um acionista marionete com algumas ações” para iniciar processos contra empresas.
Ao ataque
As declarações de Musk estão alinhadas com suas críticas à ação judicial de acionistas que levou a juíza Kathaleen St. J. McCormick, do Tribunal de Chancelaria de Delaware, a decidir, em janeiro do ano passado, que seu pacote salarial na Tesla deveria ser anulado.
A empresa recorreu à Suprema Corte estadual, e o conselho da Tesla revelou no mês passado que criou um comitê especial para tratar de assuntos de remuneração relacionados a Musk.
Musk se referiu à juíza McCormick como “a ativista que está fazendo cosplay de juíza com uma fantasia de Halloween”.
Musk também respondeu a Bill Gates, que o criticou na semana passada pelo papel que desempenhou na decisão do governo Trump de cortar dezenas de bilhões de dólares em ajuda dos EUA a países em desenvolvimento.
O cofundador da Microsoft declarou ao Financial Times: “A imagem do homem mais rico do mundo matando as crianças mais pobres do mundo não é nada bonita.”
“Quem Bill Gates pensa que é para falar sobre o bem-estar das crianças?”, rebateu Musk.
Questionado se verificou se Gates estava certo ao dizer que os cortes na USAID podem custar milhões de vidas, Musk desafiou o colega bilionário: “Mostre qualquer evidência de que isso seja verdade. É falso.”
Gastos eleitorais
Quando o assunto virou para as eleições — incluindo as eleições legislativas de meio de mandato nos EUA em 2026 —, Musk disse que acredita que gastará “muito menos” com política no futuro.
“Acho que já fiz o suficiente”, afirmou.
Perguntado se isso se deve às reações negativas que tem recebido, Musk desconversou.
“Se eu vir um motivo para gastar com política no futuro, eu o farei”, disse. “Atualmente, não vejo nenhum.”
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