Bloomberg Línea — O mercado brasileiro de canetas emagrecedoras deve saltar de R$ 11 bilhões em 2025 para R$ 20 bilhões em 2026, segundo análise em novo relatório recém-divulgado pela equipe de research do UBS BB.
O crescimento será impulsionado pelo vencimento da patente da semaglutida em março de 2026, que abre caminho para a entrada no mercado de genéricos com preços estimados entre 30% e 50% menores.
“Vemos 2026 como um ano decisivo para a popularização do [hormônio] GLP-1, apoiado pelo aumento da conscientização, o alívio nas restrições de oferta e o vencimento da patente de Ozempic/Wegovy”, escreveu o analista Vinicius Strano, que lidera a equipe do UBS BB responsável pelo relatório.
Trata-se da classe de medicamentos com princípios ativos que regulam a glicose no sangue, reduzem o apetite e promovem, portanto, perda de peso.
Leia mais: Pílula da Eli Lilly para obesidade avança após estudos indicarem perda de peso
Em novembro, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou o pedido da dinamarquesa Novo Nordisk para estender a proteção da semaglutida, princípio ativo presente no Ozempic e no Wegovy.
A decisão colocou o Brasil no grupo restrito de países em que a molécula perderá exclusividade já em 2026, ao lado de Índia, China e Canadá.
A expectativa é que versões genéricas ampliem sobremaneira o acesso aos medicamentos, para além das classes A e B, público atual que concentra a adoção de tais tratamentos por causa dos valores que chegam a superar R$ 1.000 para uma “caneta emagrecedora”.
Para o quarto trimestre de 2025, o UBS BB estimou vendas totais de GLP-1 em R$ 4 bilhões no Brasil.
O Mounjaro, da Eli Lilly, lançado em maio, que adota a tirzepatida como princípio ativo, deve responder por 57% do total, enquanto produtos baseados em semaglutida ficarão com 43%.
O crescimento representa uma alta em valores absolutos de R$ 2,4 bilhões na comparação anual e de R$ 1 bilhão no trimestre.
A penetração atual no Brasil permanece baixa comparado a países desenvolvidosd.
Cerca de 1 milhão de caixas são vendidas mensalmente, equivalente a 1,1% da população adulta com sobrepeso e a 2,5% dos obesos, segundo o relatório.
Nos Estados Unidos, a penetração em diabéticos e pessoas com sobrepeso alcança 4,4%.

RD concentra 35% do mercado
A RD Saúde (RADL3), grupo que controla as redes Raia e Drogasil, detém cerca de 35% das vendas de GLP-1, proporção significativamente superior aos 17% de participação no mercado farmacêutico geral, segundo a equipe do UBS BB.
A concentração reflete exposição desproporcional a consumidores de classes A e B, como citado anteriormente.
Leia mais: Mais potente que Mounjaro? Retatrutida é novo alvo de mercado clandestino no Brasil
Para o quarto trimestre, o UBS BB projeta que GLP-1 representará 12% das vendas no varejo da RD Saúde e contribuirá com 2 a 3 pontos percentuais para crescimento sequencial de vendas no conceito “mesmas lojas”, estimado em 11%.
Os analistas do UBS BB mantêm recomendação de compra para a ação, com preço-alvo de R$ 29, segundo o relatório.
As ações da RD Saúde (RADL3) acumulam alta de 8,02% em 2025, desempenho que fica abaixo da valorização de 33,94% do Ibovespa no mesmo período, segundo dados de 26 de dezembro.
Produtos com princípios ativos análogos ao GLP-1 geram atualmente margem bruta de 12% para farmácias, com potencial de expansão para próximo de 40%, patamar similar ao de genéricos, segundo o relatório.
A Hypera (HYPE3), fabricante de marcas como Benegrip e Engov, planeja lançar a sua caneta com semaglutida genérica em parceria com um fabricante indiano.
A equipe do UBS BB avaliou a iniciativa como incrementalmente positiva em receita, mas alerta para risco de intensificação competitiva que pode pressionar preços e margens. O relatório mantém classificação neutra para a ação, que acumula alta de 31,02% em 2025, pouco abaixo dos 33,94% do Ibovespa.
Já a EMS, de capital fechado, investe R$ 1 bilhão em uma nova fábrica em Hortolândia, no interior paulista, para produção de medicamentos GLP-1 com capacidade para fabricar 750 mil canetas.
O laboratório liderado por Carlos Sanchez já lançou a Olire e a Lirux, versões nacionais com o princípio ativo da liraglutida, e prepara sua própria versão de semaglutida para 2026.
A Eurofarma, por sua vez, firmou parceria com a Novo Nordisk para distribuir no Brasil versões de segunda marca de semaglutida: a Poviztra, indicada para tratamento de obesidade e sobrepeso, e a Extensior, para diabetes tipo 2.
Leia mais: ‘Canetas emagrecedoras’ made in Brazil da EMS chegam às farmácias a partir de R$ 307
Mercado paralelo pressiona preços
A demanda no mercado brasileiro é tamanha que, mesmo com a perspectiva de entrada de medicamentos genéricos mais acessíveis, versões “paralelas” ganham força.
O Paraguai emergiu nos últimos anos como fonte de versões alternativas. Um medicamento com tirzepatida de 2,5 mg custa cerca de R$ 294 no Paraguai, enquanto o Mounjaro na mesma dosagem sai por R$ 1.407 no Brasil.
Em novembro, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) reforçou a proibição de canetas para emagrecimento sem registro no país.
O mercado ilegal de semaglutida manipulada também ganhou força, a exemplo do que ocorre em outros países. A Anvisa esclareceu que moléculas biotecnológicas complexas não podem ser manipuladas no Brasil devido a riscos sanitários, inclusive para a saúde de quem toma.
Pesquisa do UBS Evidence Lab nos Estados Unidos mostra que a busca por perda de peso segue como principal motivação, sendo citada por 73% dos usuários.
A sensibilidade a preço, por outro lado, é elevada: 46% optam por alternativas manipuladas quando mais baratas.
Leia também
Efeito Ozempic? Molson Coors cita remédio para emagrecer em queda na venda de cerveja









