Medline supera atrasos e avança em IPO que pode se tornar o maior do mundo em 2025

Fabricante de suprimentos médicos busca levantar até US$ 5,37 bilhões em listagem nesta terça-feira; oferta deve ser precificada na metade superior da faixa de US$ 26 a US$ 30 por ação, segundo a Bloomberg News

Medline
Por Anthony Hughes
16 de Dezembro, 2025 | 02:35 PM

Bloomberg — A oferta pública inicial da Medline, adiada por um longo período, caminha para levantar mais recursos do que qualquer outra abertura de capital neste ano, à medida que investidores interessados no modelo de negócios da empresa de suprimentos médicos deixam de lado a trajetória turbulenta de retorno ao mercado acionário.

A companhia, na qual Blackstone, Carlyle e Hellman & Friedman adquiriram uma participação majoritária por meio de um negócio de US$ 34 bilhões em 2021, busca levantar até US$ 5,37 bilhões na listagem desta terça-feira (16). Esse montante faria da operação o maior IPO dos EUA no ano no piso da faixa indicativa de preço e, no teto, o maior do mundo em 2025.

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Mesmo após atrasos provocados pela reação do mercado às tarifas comerciais dos Estados Unidos e pelo mais longo shutdown do governo americano já registrado, a fabricante e distribuidora de produtos como luvas de exame, máscaras, swabs e seringas parece conquistar os investidores.

Quase metade do valor pretendido já está assegurada por investidores âncora, e a oferta deve ser precificada na metade superior da faixa de US$ 26 a US$ 30 por ação, segundo a Bloomberg News.

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Além de produtos médicos e cirúrgicos com a marca Medline, a empresa distribui itens de terceiros. De acordo com executivos, um diferencial central está na estratégia de substituir, ao longo do tempo, muitos desses produtos por itens próprios.

Doug Golwas, diretor comercial da Medline, chamou isso de “efeito volante”, que impulsiona a expansão de margens.

A participação de produtos da marca Medline vendidos a clientes sob contratos de distribuição plurianuais geralmente começa em cerca de 10% no início de um novo contrato, disse Golwas em uma apresentação online a investidores.

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À medida que os clientes se familiarizam com o valor gerado pela migração para produtos da marca Medline, esse percentual pode chegar a 60% ao longo do tempo.

O portfólio mais amplo de produtos e o forte fluxo de caixa da Medline lhe dão vantagem sobre concorrentes, segundo Jonathan Palmer, analista de saúde da Bloomberg Intelligence, criando um círculo virtuoso que permite investir em mais produtos e se entranhar ainda mais na cadeia de suprimentos médicos.

Esse modelo torna comparações diretas com pares — como distribuidoras de saúde, a exemplo da Cardinal Health e da McKesson, e fabricantes de equipamentos médicos como a Medtronic — mais difíceis, afirmou Palmer.

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“Pela natureza do negócio, a empresa acaba entrando no grupo de cobertura de serviços de saúde, mas, no fim das contas, trata-se mais de uma companhia de produtos médicos com distribuição do que o contrário”, disse Palmer em entrevista.

Esperado antes

A listagem da Medline, que deve figurar entre as maiores aberturas de capital apoiadas por private equity de todos os tempos, era esperada bem antes.

A empresa protocolou confidencialmente o pedido de IPO junto à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) em dezembro do ano passado, mas a incerteza em torno de tarifas adiou os planos de listagem no primeiro semestre de 2025.

A Medline acabou protocolando o pedido de forma pública no fim de outubro, semanas depois de o shutdown do governo americano complicar os IPOs de muitas companhias. Em seguida, aguardou o fim do acúmulo de ofertas e a passagem do feriado de Ação de Graças, em novembro, para iniciar formalmente o marketing da operação no começo deste mês.

Ao levar o IPO adiante, tanto a Medline quanto os investidores que apoiam a oferta desde o início optam por olhar além do impacto negativo das tarifas.

Apenas 16% do custo total de mercadorias vendidas pela empresa tem origem fora dos EUA, o que limita o efeito no lucro antes de impostos a algo entre US$ 325 milhões e US$ 375 milhões neste ano e entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões no próximo, segundo a apresentação de marketing.

Os investidores estão mais confortáveis com a capacidade dos fornecedores de saúde de mitigar impactos tarifários do que estavam seis meses atrás, e a Medline conseguirá repassar eventuais aumentos de custos aos clientes à medida que os contratos forem renovados ao longo do tempo, disse Palmer.

A empresa registrou lucro ajustado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de US$ 2,66 bilhões e lucro líquido de US$ 977 milhões sobre receita de US$ 20,6 bilhões nos nove meses encerrados em 27 de setembro, ante Ebitda ajustado de US$ 2,55 bilhões e lucro líquido de US$ 911 milhões sobre receita de US$ 18,7 bilhões no mesmo período do ano anterior, segundo os documentos apresentados.

Risco tarifário

Ainda assim, tarifas não são o único risco para as perspectivas da companhia. A empresa precisa manter novos relacionamentos como fornecedora principal e convencer esses parceiros a adotar produtos da marca Medline, escreveu Kyle Bauser, analista sênior de research da Roth Capital Markets, em relatório de 11 de dezembro.

Bauser também citou a necessidade de redução do endividamento. A administração planeja usar o excesso de caixa para diminuir o índice de alavancagem líquida de 3,25 vezes para menos de três vezes, de acordo com a apresentação.

“A alavancagem está no topo da faixa observada para a maioria das empresas do setor, mas não é excessiva de forma alguma, e eles têm capacidade de reduzir a dívida muito rapidamente”, disse Palmer.

A natureza de “volante” do modelo de negócios ajuda a justificar o múltiplo de Ebitda projetado para os próximos 12 meses, na casa dos meados de dois dígitos, que a empresa busca com os termos do IPO, bem como suas projeções de crescimento de lucro na faixa de um dígito alto, afirmou Palmer — ainda que isso represente um prêmio em relação aos pares de distribuição.

“No papel, a empresa foi preparada e lapidada para parecer o mais atraente possível para o baile, e tudo caminha na direção certa, mas manter esse ritmo é fundamental para sustentar a avaliação premium daqui para frente”, disse ele.

-- Com a colaboração de Bailey Lipschultz.

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