Magazine Luiza: falha de R$ 829 mi na contabilidade amplia incerteza, dizem analistas

Varejista reduziu o patrimônio em quase R$ 1 bilhão após reconhecer ‘inconsistências contábeis’ em descontos a fornecedores; ação chega a cair mais de 8% na abertura nesta terça

Magazine Luiza reconhece falhas na contabilidade e gera questionamentos sobre práticas de governança em analistas de bancos
14 de Novembro, 2023 | 11:41 AM

Bloomberg Línea — O reconhecimento de “inconsistências contábeis” em fato relevante publicado na noite de segunda-feira (13) levou o Magazine Luiza (MGLU3) a reduzir o patrimônio líquido em R$ 829,5 milhões, parcialmente compensado por créditos fiscais (R$ 504,7 milhões).

As imprecisões foram identificadas, segundo a varejista, na contabilização de descontos a fornecedores em períodos anteriores.

A reserva indevida foi detectada no contexto da investigação relacionada com a denúncia anônima recebida no início de março de 2023, como Bloomberg Línea noticiou em 10 de março. A denúncia em si foi considerada infundada pela companhia no fato relevante de ontem.

As ações da companhia caíam 3,5% por volta das 14h30 depois de abrirem o pregão com queda de até 8,7% após a divulgação das inconsistências contábeis.

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A reação negativa de analistas ao conteúdo do documento esteve presente em relatórios sobre o balanço trimestral da companhia, também divulgado na noite de segunda-feira.

“Ainda que a denúncia tenha sido considerada improcedente, a necessidade de reapresentação de lançamentos contábeis e de implantação de medidas visando ao aprimoramento dos mecanismos de controles internos gera incertezas quanto à existência de outras inconsistências porventura ainda não evidenciadas e o nível de governança corporativa da companhia, o que adiciona mais riscos à tese de investimentos”, escreveu a analista Georgia Jorge, em relatório do BB Investimentos.

O risco adicional será incorporado ao modelo de avaliação do BB Investimentos nos próximos dias. “Por essa razão, colocamos nosso preço-alvo para o final de 2024 em revisão”, informou a analista.

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Já o Goldman Sachs afirmou que as imprecisões reconhecidas pela varejista não são tão materiais quanto outras observadas no setor recentemente. No caso da Americanas (AMER3), o rombo contábil foi da ordem de R$ 20 bilhões, considerada uma fraude ainda sob investigação pelas autoridades.

“[As inconsistências] não têm impacto no caixa. Dito isto, esperamos que os investidores reajam inicialmente com uma maior percepção de risco”, afirmou o Goldman Sachs, em relatório assinado pela equipe liderada pela analista Irma Sgarz.

Já a equipe do BTG Pactual destacou que o reconhecimento das imprecisões nos lançamentos contábeis abre espaço para questionamentos sobre as práticas de governança da varejista.

“Deve gerar algum ruído para MGLU, com investidores questionando os controles da companhia e o aumento da linha de fornecedores no balanço em decorrência de ajustes (R$ 1,2 bilhão em junho de 2023)”, disse o relatório do BTG, assinado pela equipe liderada por Luiz Guanais.

Um tom de cautela também foi adotado no relatório do banco Safra sobre o balanço trimestral do Magazine Luiza. “A queima de caixa continua sendo uma preocupação, pois houve um aumento de R$ 258 milhões na posição de dívida líquida da companhia no trimestre para uma queima total de caixa de R$ 1,2 bilhão nos últimos 12 meses, apesar do impacto positivo de R$ 836 milhões do contrato com a Cardif”, afirmou relatório do Safra, assinado pela equipe liderada por Vitor Pini.

Em maio, a companhia tinha anunciado acordo de R$ 1 bilhão com a seguradora BNP Parias Cardif para desenvolver novos produtos no ramo de seguros, voltados para canais digitais, com validade até o final de 2033.

“Os resultados do terceiro trimestre reforçam nossa visão cautelosa sobre o Magazine Luiza, principalmente no que diz respeito à dinâmica de seu fluxo de caixa, daí adotamos uma recomendação neutra”, escreveu a equipe do Safra, com preço-alvo de R$ 3,40.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.