Madero mantém cautela para 2024 e dá o tom do setor de restaurantes no país

CFO Ariel Szwarc diz à Bloomberg Línea que foco é a disciplina na gestão do caixa e a redução do endividamento, a fim de criar condições para retomar a abertura de lojas em 2025

Madero no Shopping Cidade de São Paulo (Foto: Divulgação)
08 de Novembro, 2023 | 06:59 AM

Bloomberg Línea — O Grupo Madero, fundado e controlado pelo chef Junior Durski, manteve o seu projeto de expansão engavetado em 2023 e vai entrar em 2024 ainda com o tom de cautela devido ao endividamento elevado e às incertezas econômicas - e isso é um exemplo das dificuldades que predominam no setor de restaurantes de maneira ampla e que devem dar o tom dos resultados do terceiro trimestre.

A rede de restaurantes de estilo casual, que renegociou uma dívida de quase R$ 1 bilhão neste ano, espera um sinal dos bancos credores para retomar o plano de abertura de capital com um IPO (oferta inicial de ações), a fim de captar recursos com menor custo do que no mercado de dívida.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CFO do Madero, Ariel Szwarc, disse descartar acelerar o projeto de expansão, que previa dobrar o número de unidades para 500 lojas em 2026. A rede deve encerrar o ano com 275, número igual ao de dezembro de 2022.

Existe apenas a possibilidade de abertura de uma unidade em Maringá, cidade do noroeste do Paraná, em dezembro, mas o grupo ainda não decidiu se posterga ou não a inauguração para o ano que vem. Para 2024, o CFO projeta abrir pelo menos três novas lojas, que podem no máximo chegar a quatro ou cinco.

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“Não fechamos nenhuma operação em 2023. Apenas transformamos três unidades do Jeronimo em Madero, que tem uma margem de lucro maior”, disse o executivo.

A cautela do Madero não é postura isolada.

Diferentes empresas do setor de restaurantes, com capital aberto na bolsa ou fechado, ainda buscam recuperar os níveis de vendas registrados antes da pandemia. Em alguns casos, as companhias enfrentam situações financeiras delicadas, a exemplo da SouthRock Capital, operadora das franquias de Starbucks, Subway, TGI Fridays e Eataly, que pediu recuperação judicial há uma semana com dívidas de R$ 1,8 bilhão.

Concorrentes do Madero, o grupo Zamp (ZAMP3), que opera as redes Burger King e Popeye’s no Brasil, e o IMC (MEAL3), das redes Frango Assado, KFC e Pizza Hut, divulgam o resultado do terceiro trimestre nesta quinta-feira (9).

“Esperamos que a Zamp entregue mais um trimestre desapontador, com crescimento de vendas em lojas comparáveis (SSS) e contração de margem insatisfatórios (ano a ano e trimestre a trimestre), apesar das campanhas de marketing bem-sucedidas”, escreveram os analistas Rodrigo Almeida e Laura Hirata, do Santander, em relatório enviado a clientes há uma semana.

“Acreditamos que os ventos contrários macroeconômicos no Brasil provavelmente ofuscaram as iniciativas de marketing da empresa e que a fraca movimentação nos shoppings provavelmente levou a um crescimento insatisfatório das vendas em lojas comparáveis para o Burger King e o Popeyes”, apontaram.

No caso do Zamp, a divulgação ocorre após o prejuízo líquido ter dobrado para R$ 63,5 milhões no segundo trimestre. Já o IMC reverteu o prejuízo e registrou lucro de R$ 35,1 milhões no período.

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Sondagem de outubro da Abrasel, associação que representa o segmento de bares e restaurantes, indica que 24% das quase 2.000 empresas pesquisadas relataram operar com prejuízo, um aumento de 5% em relação à pesquisa de julho.

Queda nas vendas (82%), redução do número de clientes (67%) e dívidas com impostos e taxas (43%) são apontadas como as principais razões para o resultado negativo por essas empresas.

Diante dessa situação, o foco em aumentar a geração de caixa para reduzir o nível de alavancagem vai seguir como mantra no Madero em 2024, segundo Szwarc. A melhora operacional da companhia se deve, por exemplo, às unidades do Madero em aeroportos movimentados - Congonhas, em São Paulo, Santos Dumont, no Rio de Janeiro, Curitiba, no Paraná, e Brasília, no Distrito Federal.

“Em Congonhas, é impressionante o fluxo de consumidores, que continua a crescer. Colocamos um painel na entrada do restaurante com a contagem para a entrega em oito minutos. O cliente visualiza o tempo restante. Essa loja está indo muito bem no faturamento”, afirmou o CFO.

Outra medida positiva para o desempenho das vendas foi, segundo o executivo, a adoção do menu executivo e a inclusão do cardápio italiano da marca Legno nas unidades do Madero Steak House.

O CFO também destacou a iniciativa de melhorar o fluxo de clientes com a instalação de totens e painéis que informam a localização dos dois restaurantes do grupo (Jeronimo e Madero) no segundo andar do aeroporto do Santos Dumont.

O grupo ainda registra um fluxo de clientes 15% abaixo do patamar de 2019, antes da pandemia de covid-19. O CFO afirmou que o grupo tem negociado reduções de preços de proteínas com seus fornecedores, embora a melhoria na planilha de custos não seja verificada em todos os itens.

2023 foi um ano de redução de custeio, mas devemos lembrar que os custos cresceram muito nos anos anteriores. Chegamos a aumentar os preços dos produtos um pouco, mas pretendemos mantê-los no mesmo patamar no primeiro semestre de 2024″, disse o CFO.

Redução da alavancagem

O início do ciclo de redução da taxa Selic, que caiu de 12,75% para 12,25% ao ano no último dia 1º de novembro, no terceiro corte consecutivo promovido pelo Banco Central, ainda é insuficiente para gerar um impacto positivo significativo nas despesas financeiras do Madero no curto prazo, segundo o executivo.

“Os juros ainda estão em um patamar muito elevado. A remuneração de nossa dívida ainda é muito cara. Por isso, temos de continuar gerando um forte Ebitda para pagar os juros”, disse Szwarc.

O resultado financeiro do terceiro trimestre, divulgado em 30 de outubro, apontou um nível de alavancagem de 2,11 vezes a dívida líquida/Ebitda em setembro, abaixo dos 2,5 vezes definidos como covenant (cláusula dos credores que fixa limite para a alavancagem). Outro limite também foi cumprido no período pelo Madero, como manter a dívida abaixo de R$ 1,2 bilhão.

“Continuamos cumprindo os covenants. Além de a relação dívida/Ebitda ficar melhor do que o covenant, não superamos o segundo covenant definido no reperfilamento da dívida, que era não superar o limite de R$ 1,2 bilhão. Isso ocorreu devido à melhora operacional. Estamos gerando dinheiro e convertendo em caixa”, disse o executivo.

Só existe um cenário, segundo ele, em que o Madero poderia retomar o ritmo mais intenso de inaugurações antes do previsto.

Só devemos retomar o plano de expansão no segundo semestre de 2025 se tudo continuar como está. O que poderia antecipar a retomada da nossa expansão? Seria fazer o IPO. Tenho falado com frequência com os bancos e os investidores. Só o Ibovespa (IBOV) acima de 130 mil pontos abriria uma janela para a abertura de capital.”

Em 52 semanas, o pico do principal índice do mercado brasileiro de ações foi de 123.009 pontos. Na terça-feira (7), o benchmark da bolsa brasileira encerrou o pregão em 119.268 pontos.

“Em 2024, temos que continuar a focar em reduzir o nosso nível de endividamento. Mesmo com a tendência de queda nos juros, devemos continuar pagando caro pela dívida que está vencendo e seguimos com cautela no gerenciamento de caixa. Dificilmente vamos retomar a expansão antes do segundo semestre de 2025. Está fora do nosso controle a conjuntura econômica”, disse o executivo.

No final de outubro, o Madero fez uma nova emissão no valor de R$ 150 milhões, a fim de reforçar o caixa e pagar uma dívida com vencimento em 15 meses, em operação coordenada pelo BTG Pactual (BPAC11).

O banco de investimento é um dos principais credores da rede de restaurantes, juntamente com o Banco do Brasil (BBAS3), o Itaú (ITUB4) e o Bradesco (BBDC4).

O Madero reportou um prejuízo líquido de R$ 18,2 milhões no terceiro trimestre, acumulando R$ 89,7 milhões nos primeiros nove meses do ano.

O Ebitda ajustado cresceu 16,2% em 12 meses, totalizando R$ 107,5 milhões entre julho e setembro, com a margem alcançando 25,3%, um ponto percentual acima do mesmo trimestre do ano passado. A dívida financeira líquida encerrou setembro em R$ 834,1 milhões, queda de 5,5% na base anual.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.