Bloomberg — As ações do Santander global recuavam nesta quarta-feira (30), depois que o maior banco da Espanha relatou um encargo inesperado em seus negócios no Brasil no segundo trimestre, o que ofuscou um lucro recorde e uma nova recompra de ações.
O papel Santander caiu até 2,8% na Bolsa de Madri, liderando a baixa dos bancos europeus, depois de registrar um encargo de € 467 milhões (US$ 540 milhões) para refletir “expectativas de um ambiente econômico mais complexo” no Brasil, seu maior mercado fora da Espanha.
O banco apontou “um encargo pontual de 467 milhões de euros no segundo trimestre de 2025, que fortalece o balanço patrimonial após a atualização dos parâmetros macroeconômicos nos modelos de provisionamento de crédito no Brasil, de acordo com as normas do IFRS 9, o que resultou em provisões maiores, refletindo expectativas de um ambiente econômico mais complexo”.
Segundo Mario Leão, CEO da divisão brasileira, trata-se de um movimento contábil relacionado à convergência entre padrões internacionais (IFRS-9) e a Resolução 4966, emitida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e adotada no Brasil.
“Esse reforço não afeta a contabilidade local, porque aqui já havíamos adotado práticas mais conservadoras”, disse Leão em coletiva com jornalistas nesta quarta-feira (30).
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O lucro líquido do grupo espanhol subiu para 3,43 bilhões de euros, em linha com as estimativas, e o banco anunciou uma recompra de 1,7 bilhão de euros para devolver parte do lucro obtido no primeiro semestre.
O programa faz parte de um plano anunciado pela presidente executiva Ana Botín em fevereiro para devolver pelo menos 10 bilhões de euros aos investidores em dois anos.
Botin acelerou as transações estratégicas, uma vez que os bancos de toda a Europa estão com excesso de caixa devido às taxas de juros mais altas.
O banco espanhol fez uma grande aposta nas Américas, com a construção de seu banco de investimento nos EUA e o lançamento de uma oferta de varejo digital.
Na Europa, dobra a aposta no Reino Unido com a compra do TSB, ao mesmo tempo em que reduz sua presença em mercados como a Polônia.
A ação do Santander caiu 2,7% às 9h39 em Madri no horário local.
Antes da sessão de hoje, as ações haviam se valorizado 73% neste ano.
Neste mês, pela primeira vez, subiram acima do patamar em que foram negociadas quando Ana Botín assumiu o controle, em setembro de 2014.

“Esses são resultados decentes”, escreveu Hugo Cruz, analista da KBW, em uma nota, acrescentando que os lucros foram superiores na Espanha e não atingiram as estimativas no Reino Unido e no Brasil.
O lucro nos EUA aumentou quase 10% em relação ao ano anterior, apesar de uma desaceleração no banco de investimento no segundo trimestre em meio à volatilidade desencadeada pelas tarifas dos EUA.
O Santander abriu recentemente um novo escritório de banco de investimento em Houston, após uma onda de contratações em Wall Street nos anos anteriores. O banco também está lançando sua oferta digital, o Openbank, em toda a América do Norte.
As tarifas estão “nos afetando muito menos”, disse o diretor financeiro Jose Garcia Cantera em uma entrevista à Bloomberg TV, porque grande parte dos negócios do Santander é de banco de varejo.
Ainda assim, o banco está exposto a oscilações cambiais, depois que o euro ganhou cerca de 12% em valor neste ano em relação ao dólar. Os efeitos da moeda também pesaram sobre os lucros no Brasil, disse o Santander.
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O acordo com o TSB - uma aquisição de £2,65 bilhões (US$ 3,53 bilhões), totalmente em dinheiro, do Banco Sabadell da Espanha - consolidará o lugar do Santander como um dos maiores credores do Reino Unido, ao lado do HSBC, do Barclays e do Lloyds Banking.
A compra pôs fim às especulações de que Botín estava considerando uma saída do país, em que um golpe de uma revisão do financiamento de automóveis aumentou as dores de cabeça.
Espera-se que a combinação do TSB com as operações existentes do Santander no Reino Unido resulte em uma economia de custos de pelo menos 400 milhões de libras.
O acordo foi anunciado pouco depois de o Santander ter concordado, em maio, em vender grande parte de suas operações na Polônia em uma transação de 7 bilhões de euros. Metade do capital liberado pela venda foi destinado ao crescimento em outras regiões, inclusive nas Américas.
A aquisição foi “cara, mas a transação é oportuna e bem dimensionada”, escreveu Benjamin Toms, do RBC, em uma nota. “O banco provavelmente realizará outras fusões e aquisições” nos próximos 12 meses.
-- Com a colaboração de Macarena Muñoz, Anna Edwards e Guy Johnson.
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