Louis Vuitton, Moncler e H&M: a expansão de marcas globais em shoppings no Brasil

Movimento ocorre em meio à resiliência do mercado de luxo no país; Shops Jardins, em São Paulo, terá nova loja da Louis Vuitton, enquanto Moncler amplia o espaço no JK Iguatemi

Loja da Louis Vuitton no Shopping Cidade Jardim: fase de expansão prevê nova loja no Brasil no Shops Jardins, em São Paulo
18 de Agosto, 2023 | 05:00 AM
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Bloomberg Línea — O interesse de marcas globais em lojas em shoppings centers focados no cliente de alta renda voltou a crescer em São Paulo, maior mercado consumidor do país, com a programação de aberturas de novos espaços de nomes do segmento luxo como a Louis Vuitton e a Moncler.

A francesa Louis Vuitton já realiza obras no Shops Jardins, centro comercial da JHSF (JHSF3) próximo ao endereço do Hotel Fasano, um dos mais luxuosos na capital paulista. Já a italiana de origem francesa Moncler está em fase de expansão de loja no Shopping JK Iguatemi. A rede sueca de varejo de moda H&M, que no exterior atua no segmento de fast fashion, mas que no Brasil pode ter posicionamento acima, negocia abrir sua primeira unidade do Brasil em shoppings dos grupos Multiplan e Allos (ex-Aliansce Sonae).

O movimento das marcas está só começando, segundo uma pessoa familiarizada com o setor ouvida pela Bloomberg Línea, que falou sob a condição de anonimato, pois a discussão é privada.

A recente valorização do real frente ao dólar, que desceu da casa dos R$ 5,30 no início do ano para ser negociado abaixo de R$ 5 desde o fim do primeiro semestre, ainda é um ponto de atenção dos grupos internacionais sobre a rentabilidade projetada das vendas, segundo a fonte.

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Há, no entanto, um outro movimento em paralelo que pode motivar novas apostas no mercado brasileiro. Na Rússia, em guerra contra a Ucrânia desde o começo de 2022, foram fechadas lojas de designers ocidentais devido às sanções impostas pelas principais economias do Ocidente, e o Brasil pode ser o novo destino das peças antes destinadas pelas maisons às unidades russas.

Por enquanto, as administradoras de shoppings de luxo mantêm em sigilo as negociações com as marcas globais. No mês passado, coube à H&M anunciar o plano de abrir lojas no Brasil em 2025. O Valor Econômico noticiou que o grupo sueco negocia com a Multiplan (MULT3) e a Allos (ALSO3), sem citar fonte.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Allos, Rafael Sales, classificou como sinais positivos o anúncio feito pela H&M. “É um processo de retomada de confiança, aproveitando que o real está voltando à estabilidade”, afirmou, sem detalhar o estágio das conversas com a H&M.

Já o CFO da Multiplan, Armando d’Almeida Neto, avaliou que o o interesse de marcas globais por consultar a disponibilidade de áreas nos shoppings de luxo é “grande”, o que tem estimulado a companhia a desenvolver projetos de expansão em seu portfólio.

“A demanda por espaços não está crescendo só no varejo da moda de luxo mas também no de alimentação”, disse o executivo à Bloomberg Línea.

Os balanços de operadoras de centros comerciais, incluindo o Iguatemi (IGTI3), nos últimos trimestres têm refletido a resiliência do mercado de luxo no país, com taxas de ocupação que chegam a superar 95%.

A Multiplan, dona de 20 shoppings (como o Morumbi em São Paulo e o BarraShopping no Rio de Janeiro), registrou uma taxa de 95,8% no final de junho, acima da taxa média do segundo trimestre (95,4%). O grupo lucrou R$ 247,2 milhões, alta de 43,3% em 12 meses, maior valor registrado em um segundo trimestre.

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Já o Iguatemi fechou o segundo trimestre com taxa de ocupação média de 92,4% e indicou tendência positiva para os próximos meses, após registrar um recorde de 151 assinaturas de contratos entre abril e junho (70 só neste mês).

O grupo controlado pela família Jereissati, detentor de participação em 14 shopping centers, obteve lucro de R$ 85,5 milhões entre abril e junho, com um crescimento de 86,6% em 12 meses.

Operação das lojas no Brasil

O mercado de luxo é fundamental para o Iguatemi, que funciona como uma espécie de incubadora de marcas internacionais por meio da i-Retail, empresa que opera lojas próprias de marcas globais. No começo de julho, por exemplo, a grife espanhola Balenciaga decidiu assumir a sua operação no Brasil.

“A saída da Balenciaga da i-Retail já estava programada a partir de 1° de julho. A Balenciaga assume a operação, e o nosso trabalho na i-Retail é trazer as marcas que querem vir para o Brasil e no primeiro momento não conhecem o país, principalmente na forma de operar, a logística, os impostos, a importação. E hoje a Balenciaga já está totalmente tranquila em passar a operar uma loja”, disse Guido Oliveira, CFO do Iguatemi, em teleconferência com analistas no último 10 de julho.

Em 2021, a Balenciaga abriu sua primeira loja na América Latina com a inauguração de uma unidade no piso térreo no JK Iguatemi. A i-Retail atua no desenvolvimento e na gestão do negócio no Brasil em todas as áreas, de operações, serviços financeiros, TI, marketing e merchandising.

Considerando apenas as operações do seu marketplace Iguatemi 365 e da i-Retail, a companhia apresentou receita bruta de R$ 39,5 milhões no segundo trimestre, alta de 22,1% em 12 meses.

A chegada das grifes tende a impulsionar a frequência dos shoppings devido ao interesse gerado em consumidores e entre fãs de ícones do mercado da luxo nos segmentos de moda, cosméticos e acessórios, como joias e relógios.

“Estamos colocando uma Zara no Pátio Higienópolis. Imagine a venda que isso traz. Estamos trazendo uma Gucci para o Iguatemi Porto Alegre”, informou Oliveira.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.