Bloomberg Línea — A JBS (JBSS3), maior empresa de processamento de carnes do mundo, entrou com pedido de registro na Securities and Exchange Commission (SEC) do mercado de capitais americano para listar ações na Bolsa de Nova York (NYSE).
Segundo comunicado da empresa controlada pela família Batista ao mercado nesta manhã de quarta-feira (12), o plano é que, além de ações de Classe A listadas na NYSE, haja a negociação de BDRs (certificados de ações) na B3, com lastro nessas papeis da bolsa americana.
As ações negociadas no Brasil subiram 9,05% nesta quarta-feira, como reação de investidores ao anúncio.
Pela proposta, investidores que hoje possuem ações da JBS na bolsa brasileira deverão fazer a conversão para BDRs, com direito à um subsequente processo - facultativo - de migração para ações de Classe A na NYSE, até o fim de 2026.
A listagem será de um veículo de investimento na Holanda, a JBS NV, que, por sua vez, terá o controle da empresa.
O plano de dupla listagem prevê ainda ações de Classe B que não serão negociadas na Bolsa de Nova York e que ficarão de posse dos atuais controladores, a família Batista - incluindo os irmãos Joesley e Wesley, que são os principais acionistas -, hoje com 48,8% do capital.
Outros 20,8% estão de posse do BNDES, por meio do BNDESPar, depois de aportes realizados há mais de uma década, enquanto cerca de 30% das ações estão no free float da B3.
Os planos da listagem em Nova York haviam sido confirmados pelo CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, em entrevista à Bloomberg News há dois meses.
Segundo o executivo na ocasião, os planos para abertura de capital nos Estados Unidos seguiam intactos. A previsão de registro de seus títulos na SEC era naquele momento até agosto, o que significa que todas as questões operacionais deveriam ser resolvidas até lá.
“O grande trabalho operacional foi feito”, disse Tomazoni na ocasião. “A estratégia nós vamos discutir ainda.”
A decisão de longa data tem a ver com os objetivos declarados em diferentes momentos de aumentar a liquidez das ações da JBS no maior mercado de capitais do mundo, com acesso ampliado a um custo de capital mais baixo.
O plano, no entanto, foi adiado em mais de uma vez em razão de condições adversas do mercado ou da própria companhia, em momentos como as investigações da Operação Lava Jato, por exemplo.
Nesta quarta, a empresa citou três razões principais para a decisão da listagem em Nova York:
- Adequar a estrutura societária da JBS ao perfil global e diversificado das operações da companhia;
- Potencial destravamento de valor das ações da companhia; e
- Ampliar a capacidade de investimento para fortalecer as condições de crescimento e competição com concorrentes globais.
Outro objetivo, relacionado com o de destravar valor aos acionistas, é o de reduzir o desconto com o qual a ação é negociada, como expressado por executivos da JBS - incluindo o CFO Guilherme Cavalcanti e a diretora de RI, Christiane Assis -, em encontro recente com os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin, da equipe de research do BTG Pactual.
“A listagem nos EUA continua sendo uma prioridade para a empresa, com o objetivo principal de fechar o desconto de avaliação que a JBS experimenta em comparação com seus pares internacionais”, escreveram Duarte e Brustolin em relatório no começo de junho.
“Nos níveis atuais de preço das ações, não acreditamos que a JBS buscará uma injeção primária de capital, e não achamos que a empresa precisaria. Mas, uma vez que as ações reavaliem, acreditamos que isso pode até acabar ajudando em futuras ambições de crescimento”, apontaram os analistas do BTG.
A JBS encerrou o pregão na terça-feira com valor de mercado de US$ 7,8 bilhões (cerca de R$ 38,2 bilhões), enquanto a americana Tyson Foods, uma de suas principais concorrentes, valia US$ 18,4 bilhões. As receitas da JBS totalizaram mais de R$ 370 bilhões nos 12 meses até março, enquanto as vendas da Tyson ficaram na ordem de US$ 53 bilhões.
Há muitos anos, a JBS na prática é uma empresa mais internacional do que brasileira do ponto de vista de suas principais operações. Cerca de 25% das receitas e do Ebitda da companhia vieram do Brasil nos dados do primeiro trimestre (critério dos últimos 12 meses), enquanto Estados Unidos, Austrália e outros responderam pela maior parte.
Quase 90% da dívida da companhia está tomada também em moeda estrangeira, em dólar, e a avaliação dos executivos é a de que será possível reduzir o custo de capital com a listagem em Nova York.
- Matéria atualizada às 19h com as cotações da JBS no pregão desta quarta-feira (12).
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