iFood Pago cresce acima do esperado e chega a R$ 1,6 bi em receita: ‘é só o começo’

Divisão de negócios em operação há um ano ganha força dentro da companhia, atinge uma carteira de R$ 1 bilhão em crédito para restaurantes e avança também em benefícios, diz o COO Thomas Barth à Bloomberg Línea

iFood cresce também com sua divisão de serviços financeiros para restaurantes (Foto: Jonne Roriz/Bloomberg)
27 de Junho, 2025 | 08:01 AM

Bloomberg Línea — Assim como a metáfora do “jet ski" explica o modelo de testes dentro da cultura do iFood, outro termo aparece como um mantra nas declarações de executivos da companhia a cada apresentação ou entrevista: “é só o começo”.

E o início do iFood Pago, um “braço” de negócios criado em junho de 2024, parece ter ganhado tração para um ritmo além do que o iFood costuma imprimir, o que sustenta o otimismo de quem está à frente da operação.

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O iFood Pago encerrou maio passado com um R$ 1,6 bilhão em receita, 60% acima dos valores projetados. Na conta, além dos serviços financeiros, conhecido internamente como o “banco dos restaurantes”, a divisão inclui o iFood Benefícios e a Zoop, startup que opera um modelo de Fintech as service.

“Cada negócio tem uma história, e o iFood benefício cresceu 260% no ano contra ano. E, na Zoop, o grande diferencial é que nós subestimamos o tap-to-phone e o efeito dessa tecnologia. Cresceu muito mais do que esperávamos”, afirmou Thomas Barth, COO do iFood Pago, em entrevista à Bloomberg Línea.

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A tecnologia Tap-to-phone dispensa a necessidade das maquininhas de cartões, ao permitir o uso de smartphones com NFC para a realização de pagamentos por aproximação.

E, segundo o executivo, tem atraído uma alta demanda dos clientes da Zoop, plataforma white label que é usada por empresas como Nubank, OLX, Itaú, Olist e Infracommerce, além do próprio iFood Pago e Benefícios.

O serviço avançou 1.900% no período e contribuiu para uma receita de R$ 500 milhões até o fim do ano fiscal, em março.

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“Outra frente que teve correlação com esse crescimento foi a de crédito, em que também aceleramos muito”, disse Barth.

Segundo o executivo, quando muitos bancos “fecharam a torneira” em concessões por causa dos riscos de inadimplência, o iFood decidiu seguir no caminho oposto.

A base para a decisão veio do conhecimento mais a fundo dos negócios dos estabelecimentos e de modelos internos de análise de risco de crédito, estruturados com dados operacionais e métricas que incluem as avaliações que usuários fazem dos pedidos e a pontualidade das entregas.

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“Conseguimos ser muito mais assertivos e pudemos acelerar o crédito”, contou.

A operação mantém uma carteira ativa de R$ 1 bilhão de crédito, tendo emprestado mais de R$ 2 bilhões para mais de 40.000 estabelecimentos. A nova meta da divisão de negócios é fechar o próximo ano fiscal com R$ 3,5 bilhões na carteira.

De acordo com números internos, 70% dos recursos foram destinados a empreendedores que haviam recebido negativas de bancos.

Os tíquetes variam de R$ 5.000 a R$ 1 milhão. O executivo não abriu a taxa de inadimplência da operação.

O iFood Pago também tem acelerado a expansão da sua maquininha de pagamentos, apelidada de “maquinona”, com um apelo de funcionar como uma ferramenta de CRM. Após um período de testes em São Paulo, a tecnologia foi levada a Goiânia, Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília.

A previsão do iFood é levar o modelo para mais de 4.000 restaurantes até março de 2026, ante uma base atual de 800 estabelecimentos.

No intervalo de um ano, a “maquinona” movimentou R$ 425 milhões em total de pagamentos processados (TPV).

“Quem opera com a ‘maquinona’ consegue um aumento de até 40% nas vendas por causa das dinâmicas de CRM”, afirmou Barth. Segundo ele, 25% das transações realizadas envolvem algum tipo de cupom ou desconto.

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Caminho para o breakeven

A plataforma também tem sido usada para que restaurantes possam identificar clientes - o número chega hoje a 550 mil.

“Se antes ninguém tinha ideia de quem visitava os espaços, agora o restaurante passa a ter ideia e ganha opções de como ativar esse cliente.”

Em outra frente do iFood Pago está o iFood Benefícios, o mais longevo entre os negócios da operação depois do delivery, é claro.

Com cinco anos de vida, a divisão cresceu 263% no TPV de maio na comparação com igual período do ano passado, para um montante de R$ 576 milhões.

Para o próximo ano fiscal, a meta é superar R$ 10 bilhões em TPV. A empresa também estima para o ano fiscal o seu primeiro breakeven operacional.

“Esse é um negócio de volume. Basicamente, ele requer um mínimo de escala para que a operação chegue a um patamar em que possa alcançar o breakeven”, afirmou Arthur Freitas, diretor-geral do iFood Benefícios.

“Com o nosso crescimento aqui ao longo dos últimos anos, chegamos a um volume operacional que nos permite continuar o investimento de marketing de forma agressiva, mas arcar com todos os custos e manter uma margem Ebitda saudável ao longo do ano inteiro”, disse o executivo.

O negócio, criado com o apelo de oferecer benefícios flexíveis assim como a Caju e a francesa Swile, para citar apenas dois players do segmento, procura combinar cupons e outras funcionalidades para atrair as empresas.

Uma novidade prevista para julho permitirá que o saldo livre do cartão - não vinculado ao PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador) - seja usado também em estabelecimentos fora do Brasil.

Com uma base que chega hoje a 38.000 empresas como clientes, incluindo OLX, CVC Corp, Petlove, Ambev e B3, o braço de benefícios avança em busca tanto de grandes quanto pequenos negócios.

O próximo passo no horizonte é buscar a marca de 1,5 milhão de usuários ativos - o número atual é de 856 mil.

“É um segmento muito grande e isso é só o começo. Estamos chegando a um tamanho relevante de operação, mas só o PAT movimenta R$ 150 bilhões. E estou falando de chegar a R$ 10 bilhões ou 12 bilhões. Ou seja, existe ainda um caminho grande pela frente”, afirmou Freitas.

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Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark