Bloomberg Línea — Após a aquisição de três plataformas para a gestão de “salões dos restaurantes” no fim de abril, o iFood complementa a tese com uma nova transação. A empresa acertou a compra da divisão de software de alimentação da Videosoft, fabricante de totens de atendimento fundada em Santa Catarina.
A empresa é parceira da companhia liderada por Diego Barreto no iFood Salão, vertical lançada nos últimos meses de 2024 para aumentar as vendas nos restaurantes parceiros.
O iFood projeta que a divisão de “salão” pode chegar a 10% das receitas da companhia no intervalo de três anos - hoje, gera 1,5%.
Com mais de 20 anos de mercado, a Videosoft nasceu em Balneário Camboriú e desenvolveu totens para locadoras - o nome da companhia vem dessa origem. O negócio evoluiu com um modelo verticalizado, em que oferece desde totens físicos para os pedidos a ferramentas de gestão, com softwares proprietários e times de manutenção e suporte.
Leia mais: Exclusivo: iFood compra três empresas de gestão e avança pelo salão dos restaurantes
A empresa dispõe de mais de 25.000 totens, distribuídos por espaços físicos de marcas como Claro, Burger King, Beto Carrero, Cinemark, Pernambucanas e Unimed. Em alimentação, tem uma base de mais de 2.000 estabelecimentos.
O acordo foi fechado com a aquisição de 100% da vertical de software. Os valores da transação não foram revelados.
O comando da empresa, incluindo as áreas de softwares dos outros setores e a parte de hardware, continuará sob a liderança do fundador e CEO Israel Martins. O iFood passa a gerir o serviço de alimentação.
Entre as quatro aquisições para os salões dos restaurantes, a Videosoft foi a que demandou mais tempo para ser concluída por causa das negociações.
Inicialmente, a previsão era de que o anúncio dessa transação ocorresse na mesma época das compras da Opdv, a Saipos e a 3S Checkout, reveladas com exclusividade pela Bloomberg Línea no fim de abril.
“Por mais que essas três empresas atendam bem o restaurante dentro do salão, autoatendimento é algo muito novo no Brasil e é zero trivial de fazer bem feito”, afirmou Thiago Silva, VP de novos negócios do iFood, à Bloomberg Línea.
“O que a Videosoft colocou de implementação dentro do software deles torna a execução muito diferente em relação à média das pequenas empresas que temos visto no Brasil”, disse o executivo.

Empresas dentro do iFood, como a Saipos e a Anota Aí, plataforma de pedidos pelo WhatsApp adquirida pela companhia em 2022, contam com softwares do gênero, mas usam tecnologias mais básicas, como a oferta de cardápios digitais.
O iFood chegou a fazer testes internos de desenvolvimento, mas enxergou na aquisição um caminho mais rápido para oferecer uma experiência melhor.
“A Videosoft tem um cardápio que muda e uma estrutura que alterna conforme o tamanho da fila. Tem um modelo de up-sell [venda de produtos melhores e de valor mais alto] e de cross-sell [venda cruzada de produtos] para o consumidor bem desenvolvido”, disse o executivo do iFood.
“Quando a fila está longa em um estabelecimento, por exemplo, é possível desabilitar o cross sell e retomar apenas quando diminuir."
Leia mais: Guerra do delivery: Rappi aposta em taxa zero e novo app para ganhar mercado
O futuro da vertical
Com a conclusão do negócio, o iFood começa a integrar as plataformas para que não apenas os pedidos mas também as informações sobre gestão de estoque, inventário, fluxo de vendas e financeiras se conectem de modo a simplificar a vida de proprietários de estabelecimentos.
Ao comprar apenas a divisão de software da Videosoft, o iFood mantém o seu DNA de empresa asset light. Fica na dependência, porém, do braço de hardware para a oferta de novos totens para os restaurantes parceiros.
No lançamento do iFood Salão, a demanda pelos equipamentos foi além do esperado e gerou uma fila para entrega, o que impactou na esteira do software. A parceria conta com mais de 500 restaurantes atualmente.
Para evitar situações semelhantes, o iFood tem estruturado com o CEO da Videosoft um novo fluxo de trabalho.
“Nós temos apoiado a montagem de uma boa curva de demanda para garantir que não tenhamos uma repetição do que aconteceu”, disse Thiago Silva.
“É encontrar uma fórmula para que, efetivamente, tanto a venda dele para outros estabelecimentos continuem a acontecer e não seja bloqueada, assim como a parceria em software e hardware”.
Os investimentos da companhia nos salões de restaurantes, a despeito da receita incremental com os serviços de software, miram um valor maior: o acesso à “cozinha” dos negócios.
Com mais informações sobre o funcionamento e as finanças dos estabelecimentos, o iFood pretende oferecer mais produtos para a base, composta hoje por 380 mil bares e restaurantes. A expectativa é que ocorra um efeito multiplicador que conecte cerca de 80% desse número.
Leia mais: O iFood chegou a 100 milhões de pedidos no mês. O CEO diz por que é só o começo
“Nós batemos em abril R$ 130 milhões em empréstimos para o restaurantes, com um prazo médio de 18 meses. Não existe no Brasil ninguém com oferta para pequenos e médios restaurantes que empreste essa volumetria mensal em um prazo desse”, afirmou o CEO do iFood em entrevista à Bloomberg Línea ao anunciar as primeiras compras no fim daquele mês.
A estratégia amplia, portanto, o share of wallet de bares e restaurantes, o que permite ao iFood avançar muito além do delivery que o consagrou.
As vendas nos espaços físicos de bares e restaurantes responderam por 66,5% da receita dos estabelecimentos do país em 2024, de acordo com dados da consultoria Euromonitor International. O delivery ficou com o percentual restante.
O “salão” é a frente de atuação mais recente do iFood, que domina o setor de entregas com 70% de participação, segundo números da Euromonitor.
O mercado convive nos últimos meses com anúncios da chegada da chinesa Meituan e do retorno da 99Food, além de novos investimentos da Rappi, o que deve se traduzir em uma nova dinâmica mais competitiva de disputa entre plataformas.
Leia mais
Na batalha do delivery, chinesa Meituan chega ao Brasil com plano de R$ 5,6 bi
Guerra do delivery: 99 aposta em garantia de valor mínimo diário a entregadores
Prosus, liderada por Fabricio Bloisi, acerta compra da Decolar por US$ 1,7 bilhão