iFood faz nova aquisição e ganha força para crescer no salão dos restaurantes

Compra da vertical de softwares de alimentos da Videosoft, de totens de atendimento, reforça a vertical que projetada para responder por 10% da receita em três anos, conta o VP de novos negócios, Thiago Silva, à Bloomberg Línea

A empresa francesa Timeleft quer substituir o ‘swipe’ por conexões em jantares presenciais em cidades brasileiras (Foto: Divulgação/Timeleft)
02 de Junho, 2025 | 08:01 AM

Bloomberg Línea — Após a aquisição de três plataformas para a gestão de “salões dos restaurantes” no fim de abril, o iFood complementa a tese com uma nova transação. A empresa acertou a compra da divisão de software de alimentação da Videosoft, fabricante de totens de atendimento fundada em Santa Catarina.

A empresa é parceira da companhia liderada por Diego Barreto no iFood Salão, vertical lançada nos últimos meses de 2024 para aumentar as vendas nos restaurantes parceiros.

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O iFood projeta que a divisão de “salão” pode chegar a 10% das receitas da companhia no intervalo de três anos - hoje, gera 1,5%.

Com mais de 20 anos de mercado, a Videosoft nasceu em Balneário Camboriú e desenvolveu totens para locadoras - o nome da companhia vem dessa origem. O negócio evoluiu com um modelo verticalizado, em que oferece desde totens físicos para os pedidos a ferramentas de gestão, com softwares proprietários e times de manutenção e suporte.

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A empresa dispõe de mais de 25.000 totens, distribuídos por espaços físicos de marcas como Claro, Burger King, Beto Carrero, Cinemark, Pernambucanas e Unimed. Em alimentação, tem uma base de mais de 2.000 estabelecimentos.

O acordo foi fechado com a aquisição de 100% da vertical de software. Os valores da transação não foram revelados.

O comando da empresa, incluindo as áreas de softwares dos outros setores e a parte de hardware, continuará sob a liderança do fundador e CEO Israel Martins. O iFood passa a gerir o serviço de alimentação.

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Entre as quatro aquisições para os salões dos restaurantes, a Videosoft foi a que demandou mais tempo para ser concluída por causa das negociações.

Inicialmente, a previsão era de que o anúncio dessa transação ocorresse na mesma época das compras da Opdv, a Saipos e a 3S Checkout, reveladas com exclusividade pela Bloomberg Línea no fim de abril.

“Por mais que essas três empresas atendam bem o restaurante dentro do salão, autoatendimento é algo muito novo no Brasil e é zero trivial de fazer bem feito”, afirmou Thiago Silva, VP de novos negócios do iFood, à Bloomberg Línea.

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“O que a Videosoft colocou de implementação dentro do software deles torna a execução muito diferente em relação à média das pequenas empresas que temos visto no Brasil”, disse o executivo.

A Videosoft, adquirida pelo iFood, oferece os totens físicos e os softwares para diversos segmentos, como alimentação, varejo, entretenimento e saúde (Foto: Divulgação)

Empresas dentro do iFood, como a Saipos e a Anota Aí, plataforma de pedidos pelo WhatsApp adquirida pela companhia em 2022, contam com softwares do gênero, mas usam tecnologias mais básicas, como a oferta de cardápios digitais.

O iFood chegou a fazer testes internos de desenvolvimento, mas enxergou na aquisição um caminho mais rápido para oferecer uma experiência melhor.

“A Videosoft tem um cardápio que muda e uma estrutura que alterna conforme o tamanho da fila. Tem um modelo de up-sell [venda de produtos melhores e de valor mais alto] e de cross-sell [venda cruzada de produtos] para o consumidor bem desenvolvido”, disse o executivo do iFood.

“Quando a fila está longa em um estabelecimento, por exemplo, é possível desabilitar o cross sell e retomar apenas quando diminuir."

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O futuro da vertical

Com a conclusão do negócio, o iFood começa a integrar as plataformas para que não apenas os pedidos mas também as informações sobre gestão de estoque, inventário, fluxo de vendas e financeiras se conectem de modo a simplificar a vida de proprietários de estabelecimentos.

Ao comprar apenas a divisão de software da Videosoft, o iFood mantém o seu DNA de empresa asset light. Fica na dependência, porém, do braço de hardware para a oferta de novos totens para os restaurantes parceiros.

No lançamento do iFood Salão, a demanda pelos equipamentos foi além do esperado e gerou uma fila para entrega, o que impactou na esteira do software. A parceria conta com mais de 500 restaurantes atualmente.

Para evitar situações semelhantes, o iFood tem estruturado com o CEO da Videosoft um novo fluxo de trabalho.

“Nós temos apoiado a montagem de uma boa curva de demanda para garantir que não tenhamos uma repetição do que aconteceu”, disse Thiago Silva.

“É encontrar uma fórmula para que, efetivamente, tanto a venda dele para outros estabelecimentos continuem a acontecer e não seja bloqueada, assim como a parceria em software e hardware”.

Os investimentos da companhia nos salões de restaurantes, a despeito da receita incremental com os serviços de software, miram um valor maior: o acesso à “cozinha” dos negócios.

Com mais informações sobre o funcionamento e as finanças dos estabelecimentos, o iFood pretende oferecer mais produtos para a base, composta hoje por 380 mil bares e restaurantes. A expectativa é que ocorra um efeito multiplicador que conecte cerca de 80% desse número.

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“Nós batemos em abril R$ 130 milhões em empréstimos para o restaurantes, com um prazo médio de 18 meses. Não existe no Brasil ninguém com oferta para pequenos e médios restaurantes que empreste essa volumetria mensal em um prazo desse”, afirmou o CEO do iFood em entrevista à Bloomberg Línea ao anunciar as primeiras compras no fim daquele mês.

A estratégia amplia, portanto, o share of wallet de bares e restaurantes, o que permite ao iFood avançar muito além do delivery que o consagrou.

As vendas nos espaços físicos de bares e restaurantes responderam por 66,5% da receita dos estabelecimentos do país em 2024, de acordo com dados da consultoria Euromonitor International. O delivery ficou com o percentual restante.

O “salão” é a frente de atuação mais recente do iFood, que domina o setor de entregas com 70% de participação, segundo números da Euromonitor.

O mercado convive nos últimos meses com anúncios da chegada da chinesa Meituan e do retorno da 99Food, além de novos investimentos da Rappi, o que deve se traduzir em uma nova dinâmica mais competitiva de disputa entre plataformas.

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Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark