Housi vai levar seu modelo de moradia por assinatura para o mercado de luxo

Em entrevista à Bloomberg Línea, Alexandre Frankel, CEO da proptech, detalha os planos de criação de bandeira que pretende rivalizar com hotéis de alto padrão em projetos de uso misto: primeira unidade será no bairro dos Jardins, em SP

Vista a partir do Parque Ibirapuera, em São Paulo: mercado de hospedagem de alto padrão segue aquecido e com novos projetos (Foto: Victor Moriyama/Bloomberg/Bloomberg)
19 de Maio, 2025 | 04:50 AM

Bloomberg Línea — A Housi, proptech de moradia por assinatura, vai entrar no mercado de luxo. Um novo projeto no bairro dos Jardins, em São Paulo, será o piloto da marca de alto padrão da empresa, cujo objetivo é se tornar uma bandeira capaz de rivalizar com hotéis na disputa por empreendimentos mistos, que combinam diferentes usos como residencial, comercial e de hotelaria.

O projeto inicial é o H Bela Cintra, que será lançado ainda neste mês de maio, com previsão de entrega para 2027, segundo informação antecipada à Bloomberg Línea. A diária no empreendimento deverá custar a partir de R$ 780 – o dobro dos R$ 390 cobrados, em média, nos empreendimentos da Housi na região.

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Ainda assim, será mais em conta do que se hospedar em um hotel de alto padrão da região, com preços médios de R$ 1.300, segundo Alexandre Frankel, CEO da Housi.

“Existe uma grande demanda de pessoas que buscam uma experiência premium, enquanto, do outro lado, há uma base hoteleira antiquada [na região]. Vamos conseguir oferecer uma experiência superior por um preço 40% menor”, afirmou Frankel em entrevista à Bloomberg Línea.

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O empreendimento será lançado em parceria com a Vitacon, incorporadora conhecida como uma das pioneiras na tendência de studios em São Paulo (SP).

Alexandre fundou a Vitacon em 2009 em parceria com seu irmão Ariel Frankel. Ele deixou a empresa como executivo em 2019 para fundar a Housi.

A proptech inicialmente operava condomínios de apartamentos compactos, erguidos por incorporadoras parceiras, mas se reinventou na pandemia para oferecer um modelo de licenciamento que funciona como uma franquia para o setor.

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Alexandre Frankel, CEO da Housi

Atualmente são cerca de 650 incorporadoras e construtoras parceiras em 200 cidades, localizadas principalmente fora dos grandes centros urbanos – a Vitacon representa 3% da base da Housi.

Em sua maioria, as incorporadoras parceiras são de menor porte e utilizam o pacote da startup como uma alavanca para ganhar escala.

O modelo da proptech entrega aos moradores apartamentos mobiliados que contam com soluções de gestão e serviços digitais e automatizados. Para os incorporadores, a parceria começa no planejamento do lançamento e passa por estratégias de marketing e gestão do condomínio após a entrega.

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“Era uma demanda muito forte dos nossos clientes a criação de uma bandeira forte de alto padrão para empreendimentos de múltiplo uso que ajudasse a gerar valor para todo o projeto”, afirmou o empreendedor. A ideia é replicar a força que marcas de hotelaria costumam trazer a esses empreendimentos.

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O primeiro projeto da Housi no segmento de alto padrão será um projeto 100% residencial e tem expectativa de R$ 120 milhões em valor geral de vendas (VGV).

O empreendimento terá 94 unidades com metragens que vão de 26 m² a 70 m² e deve contar com amenidades como spa, carros de luxo compartilhados, serviços de segurança executiva e concierge disponível 24 horas.

Frankel diz que há uma “intersecção” do modelo de negócios com a hotelaria, mas que o foco permanece no residencial flexível.

“Vamos continuar a oferecer o modelo de moradia por assinatura mesmo nos empreendimentos de luxo, com possibilidade de permanência mais longa que a hotelaria.”

A projeção da Housi é alcançar um faturamento de R$ 690 milhões neste ano – pouco mais de duas vezes o alcançado em 2024. E o segmento de luxo deve representar cerca de 5% desse montante.

Frankel não abre o número de projetos de luxo no pipeline, mas disse que tem estudado oportunidades de projetos futuros especialmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Além dos parceiros atuais, a expectativa é alcançar mais de 50 novas incorporadoras com a nova frente de negócios.

Estudantes e terceira idade no radar

A segmentação da Housi conta ainda com outras duas frentes além do alto padrão. A proptech tem investido em soluções focadas em públicos específicos, como estudantes e terceira idade.

Para os estudantes, o modelo prevê apartamentos menores com preço mais acessível, além de amenidades voltadas a esse público, como bibliotecas e transporte de van até a faculdade.

Já o chamado público sênior contaria com adaptações como barras de segurança, elevadores maiores e acesso a cadeirantes.

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As vertentes são ainda incipientes: a de estudantes não chega a 5% da base, enquanto a segmentação para idosos ainda está em fase de estudos.

“Criamos modelos que atendam necessidades específicas. Isso gera mais retorno e um diferencial competitivo tremendo. Quando o público tem múltiplas opções, ele com certeza vai escolher aquela que mais está adaptada ao que precisa”, disse Frankel.

A Housi tem ainda planos de expandir suas operações internacionalmente, ancorada em uma rodada de US$ 10 milhões levantada em fevereiro de 2024 – a segunda da história da proptech, que havia recebido apenas um aporte inicial, de R$ 50 milhões.

Os estudos se concentram nos mercados dos Estados Unidos e da Europa, especialmente em Portugal. O CEO reforçou que o plano é entrar em novos países com todas as segmentações, inclusive o alto padrão. A expectativa é iniciar a expansão internacional nos próximos 12 meses.

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Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.