Bloomberg Línea — A Revo, operadora de voos de helicópteros com um modelo de reserva de assentos, decidiu acelerar os investimentos em frota, equipes e infraestrutura terrestre para acompanhar o que descreve como “forte demanda” por serviços de mobilidade aérea urbana em São Paulo.
A empresa controlada pelo grupo português Omni Helicopters International (OHI) opera três helicópteros bimotores e planeja expandir para cinco aeronaves em 2026, antecipando aportes para que a capacidade de oferta consiga atender a demanda.
Na principal rota da empresa no Brasil, que conecta a região da Faria Lima ao Aeroporto Internacional de Guarulhos em 10 minutos de voo compartilhado, a tarifa subiu recentemente de R$ 2.500 para R$ 2.750, como reflexo do crescimento da ordem de 10% na demanda neste ano.
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O trajeto de carro em geral ultrapassa uma hora devido aos congestionamentos e pode chegar a duas horas ou mais em momentos de pico de trânsito.
A frota atual da operadora de voos compartilhados de helicóptero inclui um Airbus H135 de 5 lugares e dois Airbus H155 de 8 lugares. Os modelos das novas aeronaves adicionais não foram divulgados.
A plataforma de mobilidade aérea urbana oferece um serviço que descreve como “porta a porta”: carro com motorista para buscar o cliente em casa, transporte de bagagem e voo de helicóptero até o destino.
João Welsh, CEO da Revo, disse em entrevista à Bloomberg Línea que a estratégia de preços é alinhada com o comportamento do mercado.
“Tem havido um aumento na demanda e nós vamos ajustando o valor cobrado com base nisso”, explicou o CEO.
A maior demanda por voos executivos urbanos reflete um mercado em expansão no país. A aviação de negócios registrou uma expansão de 9,1% em 12 meses, segundo a Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral), com dados da Anac.
A frota brasileira de helicópteros somava 1.633 aeronaves em agosto. O país possui 1.505 helipontos cadastrados, com 63% no Sudeste.
Como estratégia de marketing em anos anteriores, a companhia destacava que o preço variava conforme o horário e as parcerias corporativas.
O executivo disse que custos operacionais estão conforme o previsto. “O combustível não tem tido assim grande variação.”
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A procura cresceu em parte impulsionada pelas novas estratégias de bancos com cartões de crédito premium, que incluíram em alguns casos voos da Revo até o aeroporto de Guarulhos entre seus benefícios para clientes de alta renda.
Neste ano, a Revo fechou, por exemplo, um acordo comercial com o Bradesco, que adquiriu um “lote” específico de assentos para distribuir com portadores de seu cartão premium.
“Nós estamos preparados para resolver um problema [de mobilidade] para clientes de bancos e agregar valor em um mercado [de cartões para a alta renda] saturado.”
Welsh disse que conversa regularmente com o conselho e os acionistas da Revo para antecipar investimentos.
“A tendência é continuar assim, pois nós estamos vendo uma forte demanda.”
A Revo antecipou aportes em múltiplas frentes. “Hoje estamos investindo não só em aeronaves mas também do lado terrestre”, disse Welsh. “Nós estamos apostando muito na formação de pessoas, para trazer cada vez mais talento jovem.”
Nova operação com eVTOLs
A empresa se reorganizou para preparar a operação dos chamados eVTOLs (aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical), com modelos já encomendados à Eve, empresa da Embraer, com início de entrega previsto para o final de 2027.
“Hoje a Revo quase que tem dois departamentos”, afirmou Welsh: um para continuar com a operação atual com helicópteros e outro para lançar voos com a nova tecnologia.
O grupo OHI foi fundado em Portugal nos anos 1990, com atuação então no combate de incêndios florestais. Expandiu para o Brasil no início dos anos 2000 com foco em operações offshore para atividades em petróleo e gás.
No Brasil, além da Revo, o OHI é representado pela OTA (Omni Táxi Aéreo), líder do segmento de transporte de helicópteros para o setor de oil & gas.
A Revo, lançada em agosto de 2023, representa a aposta do grupo na mobilidade urbana de alta renda em São Paulo, considerada a cidade com a maior frota de helicópteros do mundo, com mais de 400 unidades.
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Em junho, durante o Paris Air Show, a Revo anunciou um contrato de até US$ 250 milhões com a Eve para aquisição de até 50 aeronaves eVTOL. Welsh disse que o acordo foi além de quantidade e preço.
A Revo mantém reuniões semanais com executivos da Eve e da Embraer sobre treinamento de pilotos e mecânicos, manutenção, performance, infraestrutura e rotas.
“Hoje não é um papel, não é um sonho. Trata-se de um projeto que ‘arrancou’ e se prepara para entrar em operação”, afirmou Welsh, executivo português com mais de duas décadas de experiência em aviação.
Cerca de dez unidades devem ser destinadas para a Revo na primeira entrega.
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Ele explicou que a escolha pela Eve considerou fatores que vão além da tecnologia. “Nós somos um player com 25 anos de operação e sabemos que manter as aeronaves em condições adequadas de voar é muito importante.”
Welsh destacou que a Embraer se diferencia no mercado global pelo suporte no pós-venda.
“Hoje a única fabricante do segmento que tem um programa de asas [referente aos sistemas de assistência e manutenção] é a Embraer, é a Eve.”
Outros fabricantes de eVTOL avançam ainda na fase de desenvolvimento, como as americanas Beta, Archer e Joby.
Segundo Welsh, a Beta tem foco na certificação da FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA), enquanto a Eve prioriza a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
“Para nós é importante o DNA brasileiro”, afirmou Welsh.
Segundo ele, as certificações de Anac, FAA e EASA (Agência de Segurança da Aviação da União Europeia) seguem critérios alinhados, enquanto a China adota parâmetros próprios. “Eles assumem um pouco mais de risco, tal como fizeram com os carros.”
A operação com eVTOL pode reduzir custos para a empresa depois de consumir elevado considerado mais investimento na fase inicial.
Welsh citou a perspectiva de redução de 30% no médio e no longo prazo. “E talvez o novo modelo possa permitir outras classes de serviço.”
Concorrência e principais rotas
Welsh disse que não identifica ameaças diretas ao negócio da Revo no Brasil no momento. “Não vemos ninguém fazendo o mesmo que nós.”
O executivo apontou como um dos argumentos a complexidade do projeto.
“A parte do voo é um pequeno componente da operação. Toda o restante é bastante complexo”. Além disso, Welsh disse que há barreiras de entrada de capital. “É um investimento elevado para começar a voar em uma base regular.”
A Revo opera com até quatro áreas de pouso e decolagem na região da Faria Lima, segundo o CEO.
O heliponto do International Plaza II, no cruzamento entre as avenidas Faria Lima e Juscelino Kubitschek, é a base mais movimentada.
O heliponto do Pátio Victor Malzoni, complexo corporativo que abriga as sedes do BTG Pactual e do Google Brasil, entre outras empresas, também é uma das principais bases de operação da Revo no corredor financeiro, bem como os do Brascan Century Plaza, do edifício B32 e do Edifício Palladio.
Na marginal Pinheiros, o heliponto do edifício Continental Tower, no complexo multiuso Cidade Jardim - sede de grupos como JHSF e Hypera Pharma -, também é utilizado.
A Revo ampliou operações ainda em Alphaville, no heliponto do Brascan Century Plaza Green Valley.
A empresa avalia a abertura de uma operação na região da avenida Paulista ainda neste ano.
Há rotas frequentes também para o interior.
Da capital à Fazenda Boa Vista, da JHSF, conhecida como “cidade dos bilionários”, o trajeto de helicóptero leva cerca de 30 minutos até o heliponto do condomínio de luxo em Porto Feliz e pode custar em torno de R$ 5.000.
A rota da região da Faria Lima até o Catarina Airport, voltado à aviação executiva, em São Roque, é a terceira mais movimentada.
A Revo também tem uma rota que conecta o Condomínio Quinta da Baroneza II, em Bragança Paulista, onde assumiu a gestão do heliponto e construiu um lounge.
E também explora a rota temporária para o autódromo de Interlagos no período do GP de São Paulo de Fórmula 1, neste ano entre os dias 5 a 9 de novembro.
Segundo o site da companhia, o transporte de um passageiro em voo compartilhado sai por R$ 4.100 no dia da corrida, entre o edifício B32 e o autódromo.
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