Bloomberg Línea — A Hapvida (HAPV3) enfrenta uma onda de rebaixamentos de recomendações de analistas de bancos depois que divulgou resultados do terceiro trimestre com diferentes “surpresas negativas”, com aumento de sinistralidade, crescimento limitado de beneficiários e fluxo de caixa livre negativo.
As ações caíram mais de 45% ao longo da sessão desta quinta-feira (13), depois da divulgação dos números na noite de quarta-feira (12). No fechamento, a queda foi de 41,48%, para R$ 19,13. Neste ano, a queda passou a cerca de 40%.
Analistas do Bank of America e do JPMorgan rebaixaram a recomendação de compra para neutra, reduzindo os preços-alvo para R$ 35 e R$ 39, respectivamente.
O time de equity research do BB Investimentos adotou movimento similar, com preço-alvo de R$ 50.
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Analistas do BTG Pactual mantiveram a recomendação de compra, mas cortaram o preço-alvo para a ação de R$ 67 para R$ 50.
O lucro ajustado da operadora ficou em R$ 0,22 por ação no trimestre, queda de 38% na comparação anual e 60% abaixo do consenso da Bloomberg.
O Ebitda ajustado recuou 36% no período, como reflexo de crescimento limitado de beneficiários, ticket médio abaixo do previsto e custos médicos mais altos.
Analistas citaram alta rotatividade de clientes, concorrência acirrada em São Paulo e margens pressionadas por investimentos estruturais.
A preocupação renovada de analistas e investidores com as perspectivas da operadora de saúde acontece em um momento de piora do sentimento, depois de breve recuperação nos meses de julho e agosto deste ano.
Em agosto, a Squadra, gestora com participação de 5,15% na companhia, segundo informações do terminal da Bloomberg, disse em carta a investidores ter cometido erros centrais na avaliação do investimento e reconheceu que o capital investido provavelmente não seria recuperado em sua totalidade.
A equipe do BTG Pactual destacou em relatório que o Ebitda ajustado de R$ 613 milhões resultou em margem de 7,9%, o menor patamar em três anos. A análise apontou que 65% do desvio nas estimativas veio de despesas gerais e administrativas elevadas, principalmente provisões para contingências.
Como resultado, o banco revisou suas projeções de forma substancial: as estimativas de Ebitda para 2026 caíram 18,3%, de R$ 4,59 bilhões para R$ 3,75 bilhões, enquanto o lucro líquido projetado recuou 41,3%.
A sinistralidade caixa de 75,2% contrariou o padrão sazonal de melhora no terceiro trimestre, marcando alta de 140 pontos base na comparação anual e de 130 pontos base em relação ao trimestre imediatamente anterior.
Diversos fatores contribuíram para esse resultado: a expansão da oferta de serviços e a ampliação das agendas médicas elevaram os custos, os picos de viroses no Norte e Nordeste se estenderam para o trimestre, e um inverno mais longo e seco no Sul e Sudeste aumentou a incidência de síndromes respiratórias.
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Além disso, a recente expansão da rede própria adicionou estruturas em fase inicial de operação, que operam com custos mais elevados.
No front operacional, a adição líquida de 13.000 vidas representou menos de 30% das 44 mil estimadas pelo BTG Pactual.
Embora a área corporativa tenha apresentado adição de 65.000 vidas, houve perdas líquidas nas regiões Sul e em São Paulo e no Rio de Janeiro, refletindo um ambiente mais competitivo.
O fluxo de caixa livre ficou negativo em R$ 52 milhões, em contraste com os R$ 471 milhões positivos do mesmo período de 2024.
Squadra: debilidades nos controles internos
A Squadra afirmou, na carta a investidores em agosto, ter subestimado os desafios trazidos pelas aquisições, incluindo a complexidade das integrações e as debilidades nos controles internos.
A gestora considerou que a fusão da Hapvida com a NotreDame Intermédica ocorreu em momento desfavorável: após 2020, quando as margens foram infladas pela suspensão de cirurgias eletivas na pandemia.
O retorno da demanda reprimida e a ampliação da cobertura obrigatória para Transtorno do Espectro Autista elevaram custos médicos acentuadamente.
A Squadra disse que a operação original da Hapvida, concentrada no Nordeste e no Norte, mostrou resiliência com seu modelo verticalizado de baixo custo. Mas o desempenho consolidado foi impactado pelas aquisições, que elevaram o endividamento e aumentaram a complexidade de gestão.
A gestora faz referência à citação de Warren Buffett sobre ‘descobrir quem estava nadando pelado quando a maré baixa’.
Apesar dos erros reconhecidos, a Squadra disse naquele momento que havia aumentado a exposição à ação da Hapvida e considerava que, aos preços atuais (em agosto), o ativo oferecia relação risco-retorno atraente, avaliando que a fase mais difícil da integração havia ficado para trás.
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