‘Guerra dos cofrinhos’ chega à conta global em aposta da Wise com Genial

Ricardo Amaral, country manager da fintech britânica no Brasil, diz a jornalistas que Brasil se tornou hub para expansão pela América Latina, o que pode incluir a Argentina: número de funcionários no país vai dobrar de 350 para 700

The entrance to the headquarters of Wise Plc in the Shoreditch district of London, UK, on Wednesday, March 26, 2025. The new headquarters of payments company Wise has been put up for sale by the developer behind the project, the latest sign that sellers are becoming more confident in a London office market recovery. Photographer: Betty Laura Zapata/Bloomberg
03 de Julho, 2025 | 06:19 PM

Bloomberg Línea — O Brasil se tornou um hub para a expansão da fintech global Wise na América Latina, com desenvolvimento de produtos e inovação tecnológica.

“Vamos dobrar o quadro de funcionários até o final do ano, de 350 para 700. O Brasil é rico em talentos em tecnologia para o desenvolvimento das fintechs”, disse Ricardo Amaral, novo Country Manager da Wise no Brasil e líder de banking da plataforma para a América Latina.

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Presente no país desde 2016, a fintech britânica (antes conhecida como TransferWise) tem parcerias com grandes instituições, de incumbentes como Itaú Unibanco (ITUB4) a bancos digitais como o Nubank (NU), que contratam a plataforma para a oferta de serviços de transferências cross-border.

Agora, dá um novo passo com uma parceria com a Genial Investimentos, em iniciativa que pretende atrair mais aportes para o trio de moedas fortes (dólar, euro e libra esterlina) com um novo produto, disse o executivo.

O produto em questão tem saldo atrelado à variação cambial (veja mais abaixo), em uma espécie de conta remunerada com moedas estrangeiras.

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Trata-se de um novo capítulo da “guerra dos cofrinhos” que acontece no mercado doméstico, em que diferentes players apostam em contas em reais remuneradas para reforçar a atração de clientes e a captação de recursos.

“A possibilidade de obter retorno sobre saldos em moeda estrangeira tem sido a solicitação mais frequente dos clientes da Wise no Brasil”, disse o executivo.

A Wise enfrenta players como Revolut, Nomad, C6 Bank, Inter, Avenue (Itaú), BTG Pactual e XP, entre outros, na disputa por recursos de brasileiros no exterior em contas globais ou para produtos específicos como investimentos.

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Há também uma conjuntura favorável para o crescimento da plataforma, segundo o executivo: o novo cenário cambial, com a valorização do real.

Leia mais: Guerra dos cofrinhos: Nubank e Mercado Livre acirram disputa por clientes

É uma realidade que tem sido explorada não só pela Wise como com outros players que operam contas globais ou serviços de câmbio, por meio de “ofertas” e até notificações no celular de clientes com avisos como “aproveite a queda do dólar”.

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Nesta semana, a divisa americana caiu ao menor nível (R$ 5,42) desde agosto do ano passado.

O real liderou a valorização (13%) entre as moedas da América Latina no primeiro semestre.

O movimento de queda do dólar comercial, que chegou a alcançar a cotação máxima histórica de R$ 6,32 em dezembro, ocorre também em um dos períodos de alta temporada de viagens internacionais.

A demanda pela moeda dos EUA está aquecida devido ao período de férias escolares no Brasil e ao verão no hemisfério Norte.

“Viagens, gastos internacionais e diversificação de patrimônio são necessidades dos clientes”, afirmou o executivo, que foi anunciado para o cargo em maio e anteriormente foi VP da Western Union para o Brasil.

Com o novo produto de investimento denominado “Rende +”, usuários da plataforma da Wise terão como aplicar seus recursos em até três moedas (dólar, euro e libra), que serão corrigidos pela variação cambial.

“O cliente pode guardar o dinheiro em moeda forte e se proteger da variação cambial. Os rendimentos variam de acordo com a moeda do saldo aplicado em dólar, euros ou libras. Não existe requisito de valor mínimo, e o cliente pode ativar ou desativar quando quiser”, disse Amaral.

Há riscos, no entanto, de perda do patrimônio em caso de desvalorização cambial.

O executivo destacou ainda que o novo produto oferece acesso imediato aos valores investidos, ou seja, permite que o cliente continue a enviar recursos ou a gastar enquanto continua em rendimento.

Leia mais: Wise estuda mudar listagem de Londres para NY em busca de liquidez para acionistas

“O diferencial, a nosso ver, é ser uma solução para o cliente com acesso aos fundos de maneira imediata, com flexibilidade na hora de usar e com total controle”, disse o country manager da Wise.

Segundo ele, pesquisas internas mostraram que 68% dos clientes convertem seu dinheiro apenas quando necessário ou quando a taxa de câmbio está favorável, mantendo os saldos como “economia” no meio tempo.

Outro dado é que 88% dos usuários convertem valores de reais para outra moeda antes de gastarem o dinheiro, o que reforça a demanda por algum rendimento do saldo nesse período de “espera” em divisa estrangeira.

Ricardo Amaral, country manager da Wise, foi anunciado para o cargo em maio

Acordo com Genial e Argentina na mira

Para viabilizar o novo produto, a Wise procurou um parceiro para atender exigências regulatórias. No Brasil, a fintech britânica possui licenças para atuar como corretora de câmbio e IP (instituição de pagamento), sem aval para oferta de produtos de investimento.

“A Genial possui licença para fazer a intermediação e os reportes regulatórios”, afirmou Amaral, sem revelar detalhes do acordo, como a remuneração pela oferta de produtos.

Ele explicou a diferença da parceria com a Genial em relação aos acordos comerciais com o Itaú Unibanco e Nubank, em andamento desde março deste ano e abril de 2024, respectivamente.

“O Nubank contrata a Wise para fazer a sua conta global. Já a parceria com o Itaú é um meio de o banco aproveitar nossa capilaridade em 160 países e a instantaneidade para transferências internacionais”, disse.

A Wise registrou crescimento anual de 50% na emissão de cartões nos 12 meses até junho e alcançou mais de 3 milhões de cartões no Brasil.

“Estamos crescendo muito no Brasil, que está se transformando em novo hub da Wise para a expansão programada na América Latina em termos de tecnologia e produtos”, disse o Country Manager.

Leia mais: Dólar fraco impulsiona moedas latino-americanas no 1º semestre; real lidera ganhos

Em janeiro, a fintech chegou ao México. E já mira o mercado da Argentina, onde o governo Milei suspendeu recentemente controles cambiais que perduravam havia anos.

“Vemos oportunidades na Argentina, onde se abriu a possibilidade de os cidadãos terem contas em outras moedas”, disse Amaral.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.