Bloomberg Línea Brasil — No disputado mercado de plataformas de delivery no Brasil, os motociclistas não tiveram até aqui muito o que comemorar. Os anúncios de investimentos bilionários focaram na redução de taxas para bares e restaurantes e na potencial queda do valor médio dos pratos, em torno de 20% para os consumidores.
Mas isso também começa a mudar.
O primeiro comunicado direcionado à categoria dos entregadores parte da 99Food, divisão de negócios da 99 que tem previsão para começar a operar no próximo mês. O primeiro mercado será Goiânia, capital do estado de Goiás.
A plataforma controlada pela chinesa DiDi, uma gigante de tecnologia, anuncia nesta terça-feira (20) ao mercado que irá garantir o valor mínimo de R$ 250,00 para os motociclistas que realizarem 20 corridas por dia, incluindo 15 na modalidade “Moto” ou “Entrega” e cinco de delivery de comida.
Não há, segundo a empresa, prazo para a duração da medida nem limitação do número de entregadores com direito ao pagamento.
“Nós garantimos que eles terão R$ 250. E, se fizerem mais corridas e pegarem as nossas promoções, ganham ainda mais”, afirmou Luis Gamper, diretor sênior de Logística da 99 no Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.
“Outra vantagem é que, se esse motorista tiver conta na 99Pay, recebe o valor no mesmo dia. Não é como costuma funciona no mercado de forma geral, em que que precisa esperar por uma semana para receber”, disse o executivo.
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A plataforma da 99 conta hoje com uma base de mais de 700 mil motociclistas que atuam em mais de 3.300 cidades brasileiras, segundo dados internos. Hoje, esses profissionais trabalham com entregas e com o transporte de pessoas.
O próximo passo da 99 é trazê-los para a divisão de Food, para integrá-los ao ecossistema de mobilidade, que começou a ser criado em 2020, mesmo ano em que abriu a operação de entregas. A de moto começou em 2022.
Segundo o executivo, a combinação entre as diferentes modalidades oferecidas na plataforma vai gerar previsibilidade de ganhos aos motociclistas.
“Calculamos que essa organização permitirá que tenham ganhos 50% maiores do que os oferecidos pela concorrência”, afirmou.
De acordo com pesquisa recente do setor realizada pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), a pedido da Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia), os entregadores recebem entre R$ 1.980,00 e R$ 3.039,00 por jornada mensal com 40 horas semanais. A variação dos valores se deve aos períodos de ociosidade, calculados por intervalos de 10% a 30%.
Para efeito de comparação, os entregadores que baterem a meta diária estabelecida pela 99 poderiam chegar a R$ 5.000,00, contando com os cinco dias úteis da semana.
“É uma promoção, mas é uma promoção a longo prazo. Os nossos números indicam que, conforme evoluirmos no mercado, basicamente serão assim os valores”, disse Gamper.
Os motociclistas que baterem a meta de viagens, mas não chegarem ao pagamento mínimo prometido pela plataforma, terão o valor complementado pela 99.
“A nossa estratégia não é dar um pagamento muito absurdo aos motociclistas agora e depois reduzir o ganho absoluto deles. A ideia é que, com o nosso ecossistema, ele consiga ganhar os valores citados e consiga sustentar isso ao trabalhar com as três categorias: food, entrega e moto”, afirmou o executivo.
Desde que a 99 comunicou o retorno ao mercado de entrega de refeições no Brasil há um mês, com investimento na casa de R$ 1 bilhão, esse é o segundo anúncio em que revela um pouco da estratégia para competir no setor, dominado pelo iFood, e com novas entrantes, como a chinesa Meituan.
O primeiro anúncio foi a decisão de isentar taxas e comissões para restaurantes, bares e lanchonetes de todo o país que entrarem na plataforma até 30 de junho, por um período de dois anos.
A plataforma também coloca no mercado um modelo de preço fixo de entrega, de acordo com a quilometragem, e não com o valor do pedido.
“O que nós queremos primeiro é ganhar escala. Para fazer isso, precisamos atrair todos os principais restaurantes, principais consumidores e principais motociclistas que já operam conosco em outros negócios”, disse Gamper.
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A capacidade de conectar essa cadeia pode ser definidora do sucesso do negócio. O executivo chegou a liderar por alguns meses a primeira empreitada da 99 no delivery de comida no Brasil, lançada em 2019 e encerrada em 2022.
Naquele momento, contou Gamper, a companhia decidiu encerrar o serviço diante do ambiente competitivo e “restritivo” do mercado, em referência a contratos de exclusividade detidos pelo iFood - e depois derrubados por decisão do Cade, o órgão federal de defesa da concorrência no Brasil.
Pesou também a própria estratégia da DiDi, que tinha acabado de entrar em delivery de comida no México.
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Com a consolidação da divisão de automóveis, a 99 focou em crescer a operação sob duas rodas ao longo dos últimos anos, com a formação de uma base com motociclistas em mais de 3.300 cidades do país.
Nos últimos anos, a unidade mexicana de entrega de refeições, sob o nome DiDiFood, também prosperou e se tornou a principal plataforma na segunda maior economia da América Latina .
O retorno da 99Food procura conectar esses vários pontos para integrar o ecossistema e gerar novas experiências para um número de usuários que soma milhões. Por trás da nova operação estão “centenas” de pessoas, segundo Gamper, incluindo profissionais chineses, mexicanos e brasileiros.
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