Bloomberg Línea — Em novo capítulo de uma das disputas empresariais mais acirradas dos últimos anos, os fundadores da Tok&Stok, Régis e Ghislaine Dubrule, desistiram da Oferta Pública de Ações (OPA) que haviam apresentado no fim de fevereiro para tentar assumir o controle do Grupo Toky, empresa que une as operações da Mobly com a rede varejista.
A revogação da oferta foi comunicada na noite de segunda-feira (12) pela Regain Participações e por Paul Dubrule, da mesma família, e informada ao mercado pelo Grupo Toky por meio de fato relevante.
Na correspondência, os Dubrule alegam que a manutenção da cláusula de poison pill no estatuto do Grupo Toky, decidida pela maioria dos acionistas em assembléia no último dia 30 de abril, inviabiliza a oferta.
Isso porque mantêm a exigência de que a oferta pelo controle seja estendida a todos os acionistas minoritários, o que levaria ao pagamento do que descrevem como “valor exorbitante”.
Leia mais: Disputa entre fundadores da Tok&Stok e Mobly amplia incerteza sobre controle do grupo
Os Dubrule também criticam na correspondência o que classificam como campanha dos administradores em buscar permanecer no comando da empresa.
“Esse comportamento reforçou para os Ofertantes a necessidade de buscarem alternativas para assegurar (i) a viabilização da continuidade operacional da Companhia, e (ii) a substituição imediata da atual administração da Companhia, sob pena de a Mobly caminhar para situação de irremediável insolvência”, escrevem os fundadores da Tok&Stok, em alusão à visão que possuem da empresa.
Histórico da disputa
O acordo que envolveu os controladores da Mobly e da Tok&Stok e os principais credores, anunciado ao mercado em agosto de 2024, foi arquitetado para criar condições para a retomada gradual e ordenada da saúde operacional e financeira de uma das varejistas de móveis e decoração mais tradicionais do país, com dívidas de R$ 450 milhões, então como parte de uma nova plataforma integrada.
A nova companhia resultante do M&A, líder de mercado, nasceu com com receitas anuais de R$ 1,6 bilhão e abrangência nacional, com produtos para as classes A, B e C. E previsão de sinergias de até R$ 135 milhões ao ano ao longo de cinco anos, segundo cálculos da Bain & Co.
O acordo estancou riscos então crescentes de uma recuperação judicial que estava no horizonte diante da pressão de despesas financeiras e do vencimento de dívidas a partir deste ano.
A família Dubrule faz referência na correspondência aos sócios fundadores que lideram a empresa desde a sua fundação como Mobly em 2011, Victor Noda, Marcelo Marques e Mario Fernandes, que têm 6,16% do capital do agora Grupo Toky.
Eles estão alinhados com a gestora SPX, que controlava a Tok&Stok por meio de fundos originalmente do Carlyle; a Quartzo Capital, terceira maior acionista; e alguns dos maiores bancos do país, entre os principais credores da rede varejista - Banco do Brasil, Bradesco e Santander.
Nove meses depois do anúncio do acordo, e seis meses após o closing do negócio, no entanto, a empresa resultante que uniu Mobly e Tok&Stok enfrenta uma batalha pelo seu controle iniciada pela família Dubrule.
Régis e Ghislaine Dubrule fundaram a Tok&Stok em 1978 e a transformaram na maior rede de móveis para as classes A/B do país. Eles embolsaram R$ 700 milhões há mais de uma década, em 2012, ao vender o controle e 60% do capital para o fundo americano de private equity Carlyle.
Em correspondência à Mobly em 28 de fevereiro com o anúncio da OPA, e em entrevistas à imprensa, Régis e Ghislaine Dubrule alegam que a retomada do controle é a única alternativa factível para o turnaround da Tok&Stok e da empresa unificada, citando a experiência de ambos no setor.
- Em atualização.
Leia também
Grupo Toky: bastidores da assembleia que rejeitou excluir a cláusula de poison pill