Fleury retoma M&A e compra São Lucas, de SC, um ano após fusão com Pardini

Aquisição nas cidades catarinenses de Itajaí e Balneário Camboriú ocorre no momento em que analistas alertam para desaceleração do crescimento de receitas e cortam projeção para Ebitda

Sede do Grupo Fleury
23 de Abril, 2024 | 09:56 AM

Bloomberg Línea — O Grupo Fleury (FLRY3) retomou as operações de M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês), um ano após concluir a fusão com o mineiro Pardini. A volta às compras mirou cinco laboratórios do grupo catarinense São Lucas em Itajaí e Balneário Camboriú, cidades relevantes para o mercado de saúde voltado a pacientes de alta renda no estado do Sul.

O valor de avaliação (Enterprise Value, EV) do São Lucas foi de R$ 69,8 milhões, com o múltiplo implícito para a transação de 5,4 vezes EV/Ebitda nos últimos 12 meses, segundo fato relevante divulgado na noite de segunda-feira (22).

A receita bruta do São Lucas nos últimos 12 meses encerrados em 30 de setembro de 2023 totalizou R$ 47 milhões.

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O negócio ocorre no momento em que analistas de sell side alertam para uma desaceleração do ritmo das receitas do grupo de medicina diagnóstica, quem tem 25% do capital nas mãos da seguradora do Bradesco (BBDC3), maior acionista.

Há sete dias, o Itaú BBA reduziu suas projeções para o faturamento e o lucro em 2024 e 2025, citando preocupação com a marca Fleury, cujo crescimento médio tem sido de apenas um dígito.

A aquisição permite a entrada do Fleury no mercado B2C de Santa Catarina, onde já atuava desde 2023 como responsável técnico de análises clínicas em um hospital em Joinville. Após a combinação de negócios com o Pardini, passou a administrar também um núcleo técnico operacional em Itajaí dedicado ao mercado B2B.

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“O Grupo São Lucas possui um reconhecimento notável na comunidade médica local e entre seu clientes, além de estar inserido em uma região que se caracterizou como polo de desenvolvimento econômico de Santa Catarina nos últimos anos”, disse a CEO do Fleury, Jeane Tsutsui, no documento.

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A marca São Lucas, criada há 60 anos e que atua em análises clínicas e exames de imagem, será mantida. O Fleury disse que o negócio vai fortalecer sua avenida de crescimento em medicina diagnóstica. O portfólio da empresa nesse segmento totaliza 41 marcas.

“Nossa ambição é a de nos fortalecermos como uma das líderes do setor de saúde do país com soluções e experiências cada vez mais completas, integradas e sustentáveis. Para tanto, a presença em mercados relevantes como Santa Catarina é fundamental para estendermos nossa atuação, ganhar escala e abrir mais um mercado para as soluções de saúde que temos”, avaliou Tsutsui.

Revisão de estimativas

Em recente relatório do Itaú BBA, o analista Vinícius Figueiredo revisou para baixo as projeções de lucro líquido do Fleury em 8% (2024) e 16% (2025), citando a persistência de desafios operacionais, como a alta penetração dos serviços de medicina diagnóstica realizados em domicílio e as potenciais pressões que recaem sobre a rentabilidade da empresa e dos planos de saúde premium no país.

“Devido à mudança de mix, estamos fazendo uma ligeira redução em nossas projeções de Ebitda para 2024 e 2025″, escreveu o analista, que manteve a classificação de “outperform” (acima da média do mercado, equivalente a compra) para a ação, mas revisou para baixo o preço-alvo de 2024, de R$ 23 para R$ 22 – o que implica potencial de alta de 56% em relação à cotação do fechamento de ontem (22).

Figueiredo ressalvou, no entanto, que os desafios enfrentados pelo Fleury são equilibrados por entregas consistentes de resultados, risco mínimo de futuras revisões de lucros e por uma generosa distribuição dos lucros aos investidores e acionistas. Ele estima um rendimento de dividendo (dividend yield) de 9% neste ano. Em 2024, até ontem, o papel acumulava queda de 22% na bolsa brasileira.

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Sobre a aquisição do São Lucas, em outro relatório, o analista disse ser um fato ligeiramente positivo do ponto de vista estratégico (expansão geográfica e impulso na geração de caixa), mas “muito pequeno para mover a agulha”, já que a receita bruta anual de R$ 47 milhões representa 0,6% do faturamento do Fleury no mesmo período. Ele considerou o múltiplo do deal “atrativo” e manteve a classificação de “outperform” para as ações.

Em 2023, o grupo fechou o ano com um nível de alavancagem (dívida líquida/Ebitda) de 1,2x, uma situação que a CEO descreveu à Bloomberg Línea como confortável para capturar oportunidades em linha com a estratégia de construção de um ecossistema de saúde.

No mês passado, o CFO do Fleury, José Antonio Filippo, disse à Bloomberg Línea que o grupo estava prospectando ativos para aquisição. Tsutsui citou, na época, obstáculos à política de M&A.

“Em geral, os donos, fundadores desses ativos menores, regionais, são apegados a valores do passado e não dá para fazer a aquisição”. Em Itajaí, sede do São Lucas, o Fleury conseguiu superar alguma resistência, fincando sua bandeira em Santa Catarina.

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No mercado, há quem veja espaço para novos anúncios de M&A. É o caso dos analistas Samuel Alves e Yan Cesquim, do BTG Pactual (BPAC11). “A aquisição de ontem levanta a questão se há mais movimentos por vir, o que pode sugerir que o fluxo de dividendos pode desacelerar este ano. Vemos o dividend yield de 2024 em cerca de 6%”, cita relatório do banco de investimentos.

O BTG tem classificação “neutra” para as ações do grupo de medicina diagnóstica com preço-alvo de R$ 14,01. “O Fleury é uma das poucas companhias que cobrimos com espaço suficiente em sua estratégia de negócios para explorar essas oportunidades de crescimento inorgânico”, avaliou a dupla de analistas.

Em fevereiro, reportagem da Bloomberg News informou que a Dasa (DASA3) estaria avaliando alternativas estratégicas para seus negócios, incluindo a venda de participação ou controle, e que a Rede D’Or São Luiz seria um dos potenciais interessados. Em março, a CEO e o CFO do Fleury evitaram comentar diretamente a possibilidade de apresentar proposta à dona dos laboratórios Delboni Auriemo, Lavoisier e Salomão Zoppi.

O CFO do Fleury disse apenas que deals maiores, de impacto transformacional, como foi a combinação de negócios com Pardini, levam tempo, pois requerem muita negociação. Já Dasa se manifestou dizendo que não estava formalmente negociando venda de fatia ou controle da companhia.

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Já o Goldman Sachs melhorou hoje sua recomendação de neutra para compra de FLRY3, com preço-alvo de R$ 19, com justificativa de que os desafios operacionais já foram incorporados nos números do consenso de mercado e que o grupo está bem posicionado no ambiente competitivo e nas perspectivas do setor, favorecido pela captura de sinergias com a integração de Pardini e novos movimentos de M&A

Atualiza às 16h20 com novos comentários de analistas

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.