Bloomberg Línea — O Grupo Fleury já contabiliza ganhos de produtividade e eficiência com a adoção da IA (Inteligência Artificial) em sua operação.
A companhia de medicina diagnóstica (FLRY3), que tem o Bradesco como um dos seus principais acionistas, já possui mais de 50 soluções que adotam IA.
“Reduzimos em 50% o tempo de aquisição de imagem de ressonância magnética usando IA. Com o mesmo equipamento, faço o dobro de exames”, disse Jeane Tsutsui, CEO da companhia, em entrevista à Bloomberg Línea.
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O Fleury tem o maior parque de equipamentos da América Latina para realização de ressonância magnética.
“Mais de 1.500 casos de maior gravidade são detectados precocemente graças ao uso de IA. Estamos na vanguarda da medicina de saúde. Buscamos trazer avanços de forma recorrente”, disse Tsutsui.
Nessa área, a utilização de tecnologias de IA não substitui totalmente o trabalho humano nem compromete os rígidos protocolos de segurança do setor, mas tem se tornado uma nova ferramenta aos profissionais.
Mundialmente, a área de diagnósticos já conta com exemplos disruptivos, como é o caso da Neko Health, startup fundada por Daniel Ek, cofundador do Spotify, que opera na Suécia e no Reino Unido.
Essa empresa adota a tecnologia de escaneamento corporal 3D com uso de IA para identificar, por exemplo, câncer de pele, fatores de risco para AVC e doenças cardíacas.
“A jornada de saúde está cada vez mais ficando mais digital. A inovação é muito importante. Em 2024, o Fleury lançou dois centros de inovação. É uma alavanca de eficiência e ganho de rentabilidade”, disse a executiva, que também é médica.
A área de atendimento móvel, por sua vez, tem usado IA para reduzir o tempo de deslocamento de equipes na coleta nas residências dos clientes.
“Conseguimos mais conforto e eficiência usando IA para a roteirização do atendimento móvel, hoje equivalente a 8% das receitas do grupo”, afirmou a CEO.
Mercado global de US$ 84 bi
O mercado global de diagnósticos avançados superou US$ 84 bilhões em 2024, impulsionado principalmente por IA, genômica e soluções baseadas em dados em tempo real, segundo o presidente do conselho do Fleury, Marcio Mendes, citando dados de pesquisas da Mordor Intelligence.
“Investimos em modelos preditivos e no uso responsável de inteligência artificial para acelerar e qualificar diagnósticos, além de liderar em medicina genômica com foco em evitar tratamentos desnecessários e melhorar os desfechos clínicos”, escreveu Mendes no LinkedIn no último dia 29 de maio.
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A operação do grupo conecta mais de 2.200 cidades por meio de uma rede logística nacional, com suporte também a laboratórios que atendem o SUS (Sistema Único de Saúde), segundo o chairman.
“Se há algo que esse movimento global nos mostra é que a tecnologia só gera impacto real quando aplicada com propósito. O futuro da saúde será transformado não apenas pela inovação mas pela capacidade de torná-la acessível, integrada e centrada no paciente”, escreveu Mendes.
Agenda de M&A
Ao mesmo tempo em que avança na frente de tecnologia aplicada à operação, o Fleury segue com uma agenda de expansão inorgânica.
Nesta quarta-feira (11), depois do fechamento do mercado, o grupo anunciou que acertou a compra de 100% da Hemolab Laboratório de Patologia Clínica, rede que atua com análises clínicas, patologia clínica e vacinação e que conta com 15 unidades de atendimento em nove municípios em Minas Gerais.
O negócio foi acertado com enterprise value (EV) de R$ 39,5 milhões, com múltiplo implícito para a aquisição de 4,7x EV/Ebitda - e de 3,4x EV/Ebitda pós-sinergias.
Com a aquisição, o Fleury reforça mais uma vez sua atuação em Minas Gerais, que teve um grande salto com a aquisição do Hermes Pardini em 2022.
Retorno sobre o capital
Mesmo com o peso dos investimentos em tecnologia, o Fleury tem mantido o crescimento do retorno sobre o capital investido. No primeiro trimestre, houve alta do indicador pelo oitavo trimestre consecutivo mesmo em um cenário de taxa Selic (14,75% ao ano) no maior patamar em quase 20 anos.
O ROIC (Retorno sobre Investimento de Capital) da companhia atingiu 16,9% no primeiro trimestre, em expansão desde o primeiro trimestre de 2023 (aumento de 3,20 pontos percentuais no período).
“Temos consistência e disciplina na alocação de capital”, disse a CEO.
O grupo segue também com foco no controle de despesas, a fim de aumentar a eficiência e preservar sua margem Ebitda. Entre janeiro e março, o Fleury contabilizou um lucro líquido de R$ 179,3 milhões, alta anual de 6,7%.
A receita bruta alcançou R$ 2,188 bilhões no primeiro trimestre, um avanço anual de 6,5%.
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Para o analista Gustavo Miele, do Goldman Sachs, a companhia tem mantido sua alavancagem financeira sob controle, com uma relação dívida líquida/Ebitda de 1x, enquanto a receita líquida cresceu 5,8% em relação ao ano anterior, em linha com as expectativas.
Ele observou, por outro lado, pontos de atenção.
“O crescimento da marca premium da Fleury desacelerou para 5,7% [em 12 meses] em relação ao ano anterior, após um crescimento anormalmente forte no trimestre anterior”, escreveu Miele em relatório divulgado no dia 9 de maio.
No dia 29 de maio, ele rebaixou na recomendação de compra (adotada desde abril do ano passado) para neutra, alterando o preço-alvo de R$ 16 para R$ 15.
Até a quarta-feira (11), a ação da companhia acumulava valorização acima de 6% no ano, com queda da ordem de 10% em 12 meses.
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