Estatal chinesa vira arma de Pequim para controlar preços de minério de ferro

Em apenas três anos, a trading China Mineral Resources Group (CMRG) se tornou a maior força no mercado de US$ 130 bilhões para importações de minério de ferro

Estoques da CMRG se tornaram semelhantes a uma reserva nacional. (Foto: Alex Kraus/Bloomberg)
Por Katharine Gemmell - Alfred Cang
20 de Junho, 2025 | 03:18 PM

Bloomberg — Apenas três anos após sua fundação, uma trading estatal chinesa tornou-se a maior força no mercado de US$ 130 bilhões para importações de minério de ferro do país.

A ascensão da China Mineral Resources Group (CMRG) permitiu que ela controlasse um dos mercados de commodities mais turbulentos do mundo — levando a volatilidade dos futuros de minério de ferro a uma mínima recorde.

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Ela também passou a exercer influência nas negociações com mineradoras globais, potencialmente alterando o equilíbrio de poder entre a vasta indústria siderúrgica da China e grandes fornecedores como a Rio Tinto e a BHP.

A CMRG está transformando um mercado que tem sido um problema para os líderes chineses há 15 anos. Agora, sua influência é tamanha que seus estoques se tornaram semelhantes a uma reserva nacional, a ser liberada quando as siderúrgicas estão em dificuldades ou acumulada quando os preços estão baixos, de acordo com fontes familiarizadas com suas atividades, que falaram com a Bloomberg News e pediram anonimato para discutir um assunto delicado.

“A existência da CMRG tem como objetivo principal resolver fundamentalmente o problema da dependência excessiva das importações de minério de ferro”, disse Bancy Bai, analista de metais ferrosos da consultoria Horizon Insights. “A empresa estabeleceu estoques de minério de ferro em mais de uma dúzia de grandes portos nacionais”, afirmou ela.

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As autoridades chinesas há muito tentam minimizar as flutuações de mercados que vão desde ações locais e o yuan até commodities essenciais, mas o minério de ferro tem sido um mercado especialmente difícil de administrar.

Como principal matéria-prima para a indústria siderúrgica chinesa de um bilhão de toneladas, os picos de preços sempre ameaçam alimentar a inflação na maior economia da Ásia.

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Desde 2010 — quando um sistema de contratos negociados anualmente foi abandonado por taxas spot flutuantes — autoridades chinesas e executivos de siderúrgicas lamentam o poder de precificação de grandes empresas de minério de ferro como a Rio Tinto, a BHP e a Vale (VALE3).

Durante a disparada de preços da era da pandemia de covid-19 em 2021, por exemplo, o mercado se tornou um alvo importante para intervenção. As autoridades aumentaram os custos de negociação, censuraram pesquisas do setor, incentivaram as vendas de estoque e persuadiram os operadores a interromper especulação “maliciosa”.

Nova força

O governo do presidente Xi Jinping criou a CMRG em 2022 com a missão de remodelar o relacionamento da China com seus fornecedores de minério de ferro, assumindo um papel intermediário em vez de deixar a fragmentada indústria siderúrgica chinesa à mercê de mineradoras e tradings.

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A CMRG agora é a maior trading da commodity, após desbancar outros players, de acordo com participantes do mercado que falaram com a Bloomberg News. Ela também representa mais da metade das siderúrgicas da China com negociações com fornecedores como a Rio Tinto e a BHP, disseram eles.

O comportamento dos preços tem sido excepcionalmente estável nos últimos seis meses. Embora a desaceleração da economia chinesa e a tendência de queda na demanda por aço sejam um dos principais motivos, observadores dizem que a CMRG também teve participação nisso.

“Uma mudança no poder de barganha marginal das mineradoras para as usinas siderúrgicas era inevitável assim que o pico do aço passou na China”, disse Joel Parsons, gestor na Drakewood Prospect Fund, com base em Singapura. “A questão interessante é até que ponto a CMRG pode estar acelerando o processo.”

O minério de ferro é comprado e vendido de diferentes maneiras: no mercado spot para embarques individuais e imediatos, ou por meio de contratos de longo prazo vinculados a preços de referência diários.

Após um início hesitante, a CMRG avançou para o mercado spot e tinha mais de 40 cargas em trânsito em 19 de junho, de acordo com uma planilha de oferta revisada pela Bloomberg. Entre elas, havia produtos da BHP e da Rio Tinto.

A Vale esteve ausente. A empresa brasileira não fechou acordos à vista com a CMRG porque acredita que contratos de longo prazo com usinas chinesas são suficientes, disse uma fonte familiarizada com o assunto.

Até o momento, nenhuma das grandes mineradoras fornece à CMRG por meio de contratos a termo. As negociações para isso continuam, disse recentemente Simon Trott, CEO de minério de ferro da Rio Tinto.

A CMRG, Rio Tinto, BHP e Vale não comentaram.

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