Bloomberg Línea — A Embraer (EMBR3) acredita ter bons argumentos para conquistar o retorno da tarifa zero para exportação de aeronaves para os Estados Unidos.
A política de tarifa zero para a compra de aeronaves faz parte de um acordo no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) desde meados da década de 1980, no qual os Estados Unidos eram signatários.
Porém, com o “tarifaço” de Donald Trump, a fabricante brasileira de aeronaves passou a ter incidência de 10% de alíquota.
Segundo o CEO Francisco Gomes Neto, a companhia sinalizou ao governo dos Estados Unidos a possibilidade de uma nova linha de produção do KC-390, do segmento de defesa, em solo norte-americano.
“Temos sinalizado a oportunidade de montar localmente o KC-390. Seria um investimento muito grande, da ordem de meio bilhão de dólares, que poderia gerar 2.000 empregos adicionais nos Estados Unidos”, disse o executivo em teleconferência de resultados nesta terça-feira (5).
A companhia esclarece que, inicialmente, a negociação é para a venda do KC-390 para a Força Aérea dos Estados Unidos. A partir disso, a produção da aeronave poderia ser localizada em solo americano.
A companhia já havia anunciado um investimento de outros US$ 500 milhões nos Estados Unidos. O aporte será destinado para ampliar a capacidade de produção no segmento de aviação executiva em Melbourne, na Flórida.
A cifra também inclui a ampliação da capacidade de produção em Dallas, no Texas, para aviões comerciais.
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“Esses investimentos são base para poder apoiar o retorno da tarifa zero, porque esses [recursos] foram definidos, aprovados e calculados com base em um determinado volume de negócios nos Estados Unidos”, disse Gomes Neto.
O CEO acrescentou que, uma vez com tarifas que antes não existiam para a aviação, as vendas da companhia vão recuar.
“Primeiro nós vamos comprar menos equipamentos americanos e produzir menos aviões. E, cada vez que produzimos menos, isso gera menos empregos nos Estados Unidos.”
Segundo o executivo, as tarifas limitam a capacidade de investimento no futuro, o que é importante para o mercado americano.
“Por isso que insisto na tese da robustez econômica, porque a tarifa para a Embraer não prejudica só a companhia, mas também o mercado americano.”
Gomes ressaltou que a maior parte dos investimentos da companhia ainda é no Brasil.
O CFO da Embraer, Antonio Carlos Garcia, esclareceu que, na prática, a tarifa de 10% para a companhia foi mitigada devido ao grande conteúdo local dos produtos comercializados com os Estados Unidos.
“Vamos continuar fazendo estudos de produção, mais colaboração com empresas americanas. O país é um mercado muito importante para a Embraer e vamos continuar tendo uma forte presença nos Estados Unidos”, disse.
Gomes salientou que a companhia tem trabalhado em negociações tanto do lado do governo americano quanto das autoridades brasileiras. “Continuamos trabalhando para levar nosso caso econômico [para os EUA], mostrando as vantagens que o país terá, para buscarmos a alíquota zero dos últimos 45 anos”, disse.
A Embraer estima, até o momento, um impacto das tarifas americanas -- se a alíquota de 10% for mantida -- da ordem de US$ 65 milhões no ano. Desse montante, 20% já foi percebido no primeiro semestre. O restante deve afetar os resultados do terceiro e quarto trimestres.
“A boa notícia é que mitigamos boa parte dos custos com outras reduções”, diz Garcia.
Resultados no segundo trimestre
No segundo trimestre, o lucro líquido atribuível aos acionistas da Embraer somou R$ 448,9 milhões, queda de 13% ano contra ano. No critério ajustado, houve prejuízo de R$ 53,4 milhões no período, ante resultado positivo R$ 415,7 milhões um ano antes.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado alcançou R$ 1,39 bilhão no segundo trimestre, aumento de 40% sobre igual intervalo de 2024.
Já a receita totalizou R$ 10,3 bilhões de abril a junho, recorde histórico para um segundo trimestre, o que representou um avanço de 30,9% na comparação anual.
Segundo relatório do Itaú BBA, a Embraer reportou resultados positivos no trimestre, sustentados por preços melhores do que o esperado na divisão executiva, combinados com margens robustas no segmento e na divisão de defesa.
“O desempenho positivo do segundo trimestre, somado à confiança da empresa de que as tarifas de importação dos Estados Unidos poderiam ser reduzidas de 10% para 0%, pode sustentar um segundo semestre melhor do que o esperado”, diz o relatório.
Executivos da Embraer reiteraram as estimativas para 2025, com entregas na aviação comercial entre 77 e 85 aeronaves e, na executiva, entre 145 e 155 unidades.
A companhia também confirmou manutenção do guidance de receita para o ano, entre US$ 7 bilhões e US$ 7,5 bilhões, com margem Ebit ajustada entre 7,5% e 8,3%, além de fluxo de caixa livre ajustado de US$ 200 milhões ou maior para o ano.
Eles reforçaram que estão otimistas com as negociações com os Estados Unidos, maior mercado para a companhia, mas que preferem ser conservadores nas estimativas.
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