Embraer: como o novo perfil da carteira de pedidos deve impactar os seus negócios

Contratos recentes para a família de jatos E195-E2 com companhias como a Latam Airlines, a sueca SAS e a americana Avelo sinalizam novas perspectivas à fabricante brasileira, o que deve dar impulso extra para as ações, segundo analistas

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06 de Outubro, 2025 | 05:00 AM

Bloomberg Línea — Nos últimos meses, a Embraer tem conduzido uma relevante e estratégica expansão de sua carteira de encomendas de aeronaves, que não se restringe ao número de pedidos mas inclui novos perfis de clientes.

Essa transformação em curso deve representar impulso extra para os papéis da companhia, que subiram cerca de 360% em dois anos, e atrair novos contratos, segundo analistas consultados pela Bloomberg Línea.

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A fabricante brasileira de aeronaves (EMBR3) atingiu uma carteira de pedidos de US$ 29,7 bilhões ao final do segundo trimestre, o maior nível já registrado em sua história.

Na aviação comercial, o backlog do período alcançou US$ 13,1 bilhões, maior montante em oito anos. Em defesa e segurança, o valor foi de US$ 4,3 bilhões.

No último dia 22 de setembro, a companhia anunciou um pedido da Latam Airlines (LTM) que prevê até 74 aeronaves, incluindo 24 entregas firmes e 50 opções adicionais de compra.

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O executivo do setor de aviação Dany Oliveira ressaltou que as negociações para a compra da primeira frota da Embraer pelo grupo de controle chileno vêm acontecendo há muitos anos.

“A decisão sobre a compra e a composição da frota é um processo estratégico complexo influenciado por uma série de fatores, incluindo custos e financiamento, condições e dinâmica de mercado, questões operacionais e eficiência, além de tecnologia e sustentabilidade”, disse o especialista.

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Segundo a Latam, a nova família E195-E2 integrará a frota que atualmente é composta por 362 aeronaves, dos quais 283 Airbus narrow-bodies (“fuselagem estreita”, com um corredor), usadas em voos de curta a média distância; três Airbus wide-bodies (grande porte, com fuselagem larga para acomodar dois corredores e capacidade de operar rotas transcontinentais) em leasing de curto prazo; 56 Boeing (BA) wide-bodies e 20 cargueiros Boeing.

Oliveira apontou que a segunda geração da família E-Jets da Embraer compete com as aeronaves A220 e A319, da Airbus, e os 737-700 MAX da Boeing.

Tem capacidade para transportar até 146 passageiros em configuração com classe única - na Azul, a opção é por 136 passageiros, e na KML, por 132.

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A escolha pela Embraer ocorre em momento em que a cadeia aeronáutica enfrenta disrupções que acontecem desde o início da guerra na Ucrânia, o que levou à falta de insumos e peças e atrasos nas rotas de entregas.

Nesse contexto, executivos da Latam já vinham mantinham conversas com a Embraer para diversificar a frota.

Analistas do Santander (SANB11) destacam que a Latam segue ampliando o guidance de capacidade de oferta de assentos, ainda que os problemas de fornecimento da cadeia persistam.

“Essa compra de aeronaves pode ter sido um passo necessário para a aérea continuar expandindo a capacidade de voos de curta distância [domésticos e regionais]”, escreveram em relatório recente.

Os analistas acrescentaram, porém, que uma vez que os jatos E2 exigirão novos pilotos e tripulantes, bem como serviço próprio de manutenção, a nova capacidade de oferta deve implicar em custos mais altos em comparação à frota de aeronaves de corredor único da Airbus, em que a Latam já possui economias de escala.

Isso porque, quando uma companhia aérea trabalha apenas com uma fabricante de aeronaves, a manutenção fica restrita somente a esse tipo de equipamento. Do ponto de vista econômico, uma frota padronizada reduz custos.

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Desde o início da pandemia até meados de 2024, analistas do mercado de aviação demonstravam preocupação em relação à qualidade dos pedidos da carteira da Embraer, que se concentravam em companhias aéreas de menor porte ou até mesmo pouco conhecidas.

Principalmente a partir deste ano, a fabricante brasileira tem acumulado pedidos considerados mais relevantes. Um deles veio da All Nippon Airways (ANA), dona da AirJapan, que encomendou 15 jatos E190-E2 com opções para mais cinco aeronaves.

Em junho deste ano, a Embraer recebeu um pedido firme da SkyWest, uma das empresas de arrendamento mais importantes do mundo, para 60 aeronaves, com direitos de compra para 50 jatos adicionais. Segundo a Embraer, a SkyWest é a maior proprietária e operadora de E-Jets do mundo.

No mês seguinte, a Scandinavian Airlines (SAS) firmou um acordo para adquirir 45 jatos E195-E2, com direitos de compra para 10 aeronaves adicionais, configurando a maior encomenda da SAS diretamente a um fabricante desde 1996.

Já a Avelo, companhia aérea low cost dos Estados Unidos, fez um pedido firme de 50 jatos E195-E2 neste ano, com direitos de compra para mais 50. De acordo com a Embraer, a companhia será a primeira aérea norte-americana a operar um E195-E2, “estabelecendo um marco significativo para o programa”. As aeronaves complementam a frota de Boeing 737NGs da companhia.

Apesar do avanço já expressivo neste ano, a carteira da Embraer tem potencial para crescer ainda mais, segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

“O grande destaque da carteira foram os pedidos recentes da família E2, tanto nos Estados Unidos quanto da Latam, uma vez que o backlog estava muito concentrado em pedidos de E1. Com essas novas vendas de E2, um novo horizonte se abre para a Embraer”, disse o analista.

Ele acrescentou que, desde a pandemia, o mercado enxergou uma melhora na carteira da fabricante brasileira, e que ainda é possível que haja movimentos de companhias aéreas que adquiram jatos de menor porte como os da Embraer.

Os analistas do Santander destacaram em relatório que a Latam será a primeira operadora de E2 em um país andino e que o contrato, além de trazer um cliente totalmente novo para a Embraer, reduz riscos para o cronograma de entregas da fabricante brasileira em 2026.

Isso é relevante “especialmente considerando as dificuldades relacionadas aos motores dos jatos E1 e o processo de recuperação judicial em andamento do único operador brasileiro de E-Jets”, em referência à Azul (AZUL4).

Defesa e segurança

Arbetman ressaltou que outro grande destaque da Embraer tem sido o segmento de defesa, com contratos recentes anunciados com países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). “Nos últimos anos, a carteira de defesa tem sido um sucesso, pois temos visto a abertura de novos mercados.”

Em janeiro, a Embraer anunciou que a Força Aérea Uruguaia (FAU) e o Ministério da Defesa Nacional (MDN) converteram opções de compra de cinco aeronaves A-29 Super Tucano em pedidos firmes. Em abril, a Suécia se comprometeu a adquirir quatro aeronaves multimissão C-390 Millennium.

Já a Lituânia, membro da OTAN, anunciou em junho a seleção do C-390 Millennium, o que abre caminho para a aquisição de três unidades do modelo. O Panamá assinou contrato para a aquisição de quatro aeronaves A-29 Super Tucano logo em seguida.

No mês passado, Portugal anunciou o aditamento ao atual contrato para a aquisição da sexta aeronave KC-390 Millennium e a inclusão de dez novas opções de compra para potenciais aquisições por parte de futuras nações parceiras.

Ainda em setembro, a Embraer e a empresa privada SNC, dos EUA, anunciaram um acordo firmado para a venda de uma aeronave A-29 Super Tucano. A transação antecede uma encomenda que será feita por meio do programa do governo norte-americano Foreign Military Sales (Vendas Militares Estrangeiras).

Desde o início do ano, os papéis da Embraer subiram cerca de 33%. Em 12 meses, os ganhos se aproximam de 67%. Na visão de Arbetman, a valorização se deve, em parte, ao desempenho da companhia nos últimos meses, mas principalmente em relação ao futuro da fabricante.

“A Embraer também tem um ‘pé’ na EVE (EVEX), que conta com uma carteira robusta de pedidos e que ainda está em desenvolvimento. Os anúncios [de contratos] da nova família E2 só estão começando, são boas notícias”, afirmou. “Mas o mercado e a própria companhia esperam por mais”, acrescentou.

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