Bloomberg Línea — A Eletromidia (ELMD3) fez sua primeira aquisição após a conclusão da OPA (oferta pública de aquisição de ações) da Globo Comunicação e Participações, dona de 99,26% do capital, no final de abril.
A líder nacional de mídia externa (OOH, out of home) assinou contrato para a compra da operação da americana Clear Channel no Brasil, terceira maior do setor no país, por R$ 80 milhões, segundo comunicado da empresa divulgado nesta quarta-feira (7).
O negócio é visto como complementar à atuação da Eletromidia na vertical de ruas e no segmento de mobiliário urbano.
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O Grupo Globo, fundado pela família Marinho há 100 anos, planeja usar a infraestrutura da Eletromidia para diversificar receitas com contratos de telas no espaço público, como abrigos de pontos de ônibus, estações de metrô, aeroportos e rodoviárias, além de áreas privadas, como elevadores de prédios e shoppings.
A transação de compra da Clear Channel no Brasil está sujeita à aprovação pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Até lá as empresas permanecerão independentes e operaram no curso normal dos negócios, segundo o comunicado.
A Eletromidia tem 64% do mercado de telas digitais no Brasil, seguida pela francesa JCDecaux (19%) e pela Clear Channel Outdoor (5%), segundo dados do IVC citados por relatório do Bank of America e documentos da Eletromidia.
Esse mercado conta ainda com empresas menores que detêm, juntas, 12%: Neooh, do Grupo UOL, Kallas Mídia, OOH Brasil, KM Mídia, RV Digital, além dos negócios de mídia de duas operadoras de shopping, a Allos (ALOS3), dona da Helloo, e a Multiplan (MULT3).
Com o negócio anunciado hoje, a Globo amplia, por meio da Eletromidia, sua atuação principalmente no mercado publicitário do Rio de Janeiro, onde a Clear Channel atua.
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As telas da empresa americana chegam ao portfólio no momento em que a Eletromidia assume um relevante contrato.
No ano passado, a Eletromidia ganhou concorrência da Prefeitura do Rio de Janeiro para a concessão de mobiliário urbano de uso público, com o direito de explorar a publicidade em 4.000 abrigos de pontos de ônibus e em 500 relógios urbanos no prazo de 20 anos, com início das operações marcado para 2027 e conclusão em março de 2047.
Os dois lotes do contrato foram fixados em valores de R$ 456,6 milhões e R$ 430 milhões, destinados à manutenção, retrofit e instalação de sistemas de painéis de informação urbana, segundo laudo da OPA, elaborado pelo Bank of America, enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“A Eletromidia não considerou a renovação da concessão do Rio de Janeiro dado que ainda está em fase pré-operacional e existe pouca visibilidade sobre as dinâmicas que irão guiar a renovação do contrato de concessão de concessão”, citou a equipe do BofA no laudo.
Papel da Eletromidia na nova aposta da Globo
A Eletromidia vai contribuir também para o projeto da Globo da TV 3.0, rebatizada de DTV+, novo padrão de transmissão do sinal, via aplicativo, capaz de alcançar uma segmentação maior tanto de geografia como perfil de público, com promessa de maior assertividade na entrega de conteúdo.
No mês passado, os altos executivos da TV Globo apresentaram seu projeto de DTV+ a autoridades, como o ministro Sidônio Palmeira, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. O evento, realizado em um estúdio da Globo na zona oeste do Rio de Janeiro, marcou a inauguração de duas estações experimentais na cidade.
Uma tela da Eletromidia foi exibida durante a cerimônia em demonstrações de uso de anúncios da Globo, como a estreia do filme Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano, na plataforma de streaming do grupo, o Globoplay.
Executivos destacaram a estratégia de ampliar o alcance de seus pacotes publicitários oferecidos ao mercado utilizando o portfólio da Eletromidia.
Na Globo, ainda se aguarda a formalização das regras do novo negócio. A regulamentação da DTV+ pelo governo federal sofreu atraso após troca do ministro das Comunicações no mês passado.
O texto pode indicar fontes de financiamento para a implantação do projeto pelo setor de radiodifusão, segundo disse Raymundo Barros, diretor de tecnologia da Globo, aos jornalistas durante o lançamento das estações experimentais de DTV+.
A previsão é que o lançamento comercial da DTV+ ocorra em 2026, de olho na Copa do Mundo Fifa, quando os brasileiros costumam trocar de aparelho de TV. A nova tecnologia exige modelos mais modernos.
Fechamento de capital
O fechamento de capital da Eletromidia exigiu do conglomerado da família Marinho recursos do próprio caixa. A Globo pagou R$ 30,71 por ação na OPA da Eletromidia no leilão realizado no dia 30 de abril. Com isso, passou a deter 99,26% do capital da empresa.
Há ainda 1.067.043 ações em circulação, ou seja, 0,74% do capital. Já começou a correr um prazo de três meses para os acionistas remanescentes que desejarem vender seus papeis pelo mesmo preço pago na OPA. A Globo tem ainda a opção de aprovar um resgate compulsório, o que depende da convocação de uma assembleia geral extraordinária para deliberar sobre o tema.
Com a efetivação da OPA, a Eletromidia deixará de ser listada no segmento especial da B3 do Novo Mercado, prosseguindo com atos necessários para o cancelamento de seu registro como companhia aberta. A companhia divulga o balanço do primeiro trimestre após o fim do pregão desta quarta-feira.
-- Reportagem atualizada para incluir a fonte dos dados de market share do setor.
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