Durou oito meses: Reag sai da bolsa diante de crise de confiança com operação da PF

Empresa fecha capital meses depois de entrar na bolsa brasileira por meio de IPO reverso no fim de janeiro; crise abalou o grupo após ser alvo da Operação Carbono Oculto, que investiga esquema de lavagem de dinheiro do crime organizado

Sócios e executivos da Reag participam da cerimônia de abertura simbólica do pregão da B3 com o toque de sirene, na sede da bolsa em São Paulo, em 28 de janeiro de 2025 (Foto: Cauê Diniz/Divulgação)
08 de Outubro, 2025 | 02:49 PM

Bloomberg Línea — A Reag Capital Holding deixou oficialmente a B3, segundo fato relevante divulgado na noite de terça-feira (7). A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) aprovou o cancelamento do registro da empresa. A passagem pela bolsa brasileiro durou oito meses e dez dias.

A saída ocorre em meio a uma severa crise de confiança. Em 28 de agosto, a gestora foi alvo da Operação Carbono Oculto, uma ação da Polícia Federal, da Receita Federal e do Ministério Público de São Paulo que investiga lavagem de dinheiro no setor de combustíveis.

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A Reag teve sua sede alvo de busca e apreensão na região da Faria Lima, em São Paulo. A empresa negou participação em atividades ilegais e afirmou que vários fundos citados por investigadores nunca estiveram sob sua gestão e que estava colaborando com as autoridades.

O objetivo da operação era desarticular um esquema bilionário de fraudes e lavagem de dinheiro ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital), segundo as autoridades. De acordo com as investigações, cerca de 40 fundos de investimento teriam sido usados para esconder dinheiro de origem criminosa.

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Em comunicado, a Reag alegou que o fechamento de capital faz parte de uma “estratégia de simplificação societária” após as vendas recentes. Na prática, a decisão reflete a impossibilidade de continuar como companhia aberta após o escândalo.

Como empresa fechada, a Reag não precisa mais prestar contas ao mercado. Também perde o acesso à captação de recursos na bolsa.

A empresa estreou na bolsa brasileira em 28 de janeiro em uma operação de “IPO reverso”, depois de o grupo financeiro adquirir o controle da plataforma de serviços Getninjas, que já tinha ações negociadas desde 2021.

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O colapso

A operação contra o crime ordanizado abalou a confiança de investidores no grupo. As ações da Reag caíram 17% no dia da ação das autoridades. A agência Fitch colocou a nota de crédito da empresa em observação negativa.

O conselho consultivo foi extinto depois que todos os membros renunciaram de uma vez. João Carlos Mansur, fundador da Reag, vendeu o controle da gestora.

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Um grupo de executivos da própria empresa, liderado pelo CEO Dario Tanure, comprou 87% da Reag. Foi uma tentativa de conter os danos.

A empresa também negociou a venda da Ciabrasf, administradora de R$ 340 bilhões em fundos, para a B100, dona da corretora Planner.

Desmonte

Às vésperas do fechamento de capital, o grupo acelerou o desmonte de suas operações. No último dia 4 de outubro, três dias antes do anúncio oficial, a Reag fez uma venda interna, da subsidiária para a controladora, com pagamento atrelado à performance futura das empresas, como parte da reestruturação pós-crise.

A Reag Specialty Finance, a Reag Jus e a Reag Portfolio Solutions foram vendidas para a Reag Asset Management, controladora da companhia. O pagamento será feito em 60 parcelas mensais baseadas em percentual da receita de cada empresa, segundo fato relevante de segunda-feira (6).

As vendas fazem parte da reorganização societária necessária para concluir a mudança de controle anunciada em setembro. A Reag está, na prática, desmontando toda a estrutura que construiu nos últimos anos.

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