De olho em demanda por praticidade, Unilever entra no mercado de refeições prontas

Presidente da Unilever Alimentos no Brasil, Rodrigo Visentini diz à Bloomberg Línea que a estratégia passa por parcerias com as empresas Vapza e Prato Fino para avançar na categoria associada à marca Knorr com pratos em diferentes faixas de preços

Signage for Unilever Plc at the company's headquarters in Rotterdam, Netherlands, on Tuesday, Feb. 8, 2022. Unilever Chief Executive Officer Alan Jope is facing growing pressure to accelerate a revamp of the company as shareholder discontent gains ground in light of the failed bid to buy GlaxoSmithKline Plc's consumer-health unit. Photographer: Peter Boer/Bloomberg
26 de Novembro, 2025 | 06:31 AM

Bloomberg Línea — A Unilever Alimentos decidiu ingressar no mercado brasileiro de refeições prontas com a marca Knorr por meio de parcerias com duas empresas da região Sul do país: a Vapza, do Paraná, e a Prato Fino, do Rio Grande do Sul.

A estratégia marca uma mudança no modelo de negócios da companhia, que opta por colaborações em vez de aquisições ou produção própria para expandir categorias associadas à marca Knorr.

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“Acredito bastante que, para entrar em uma nova categoria como essa, é melhor aproveitar empresas especializadas que tenham o know-how do que gastar recursos com uma compra sem a certeza de que vai funcionar”, disse Rodrigo Visentini, presidente da Unilever Alimentos no Brasil, à Bloomberg Línea.

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A Vapza atua com tecnologia de cocção a vácuo, enquanto a Prato Fino detém tecnologia para o preparo de arroz sem conservantes.

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Segundo Visentini, a empresa do Rio Grande do Sul tem “a planta mais moderna da América Latina para beneficiamento de arroz”, enquanto a Vapza é “uma das pioneiras em alimentos embalados a vácuo”.

O mercado global de comidas prontas movimenta estimados 130 bilhões de euros, mas no Brasil ainda é “um pouco subdesenvolvido”, segundo o executivo, há mais de três anos no comando da unidade de negócios.

A Unilever já atua nessa categoria em países como Inglaterra e Alemanha e também na Ásia, mas ainda não havia entrado na América Latina.

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Segundo o executivo, a estratégia é regional e será expandida para México e Argentina com outros parceiros.

No Brasil, uma das cinco maiores operações da Unilever no mundo, as duas parcerias têm posicionamentos de preço distintos.

Os produtos da Vapza custam entre R$ 35 e R$ 45, enquanto a linha com Prato Fino fica na faixa de R$ 8 a R$ 9, de entrada. “São desembolsos diferentes e ocasiões de consumo e momentos bastante diferentes”, disse Visentini.

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A produção e a distribuição ficam com os parceiros.

A Vapza investiu em capacidade e adaptação de equipamentos em sua planta em Castro, no Paraná, enquanto a Prato Fino produz em São Borja, no Rio Grande do Sul. A Unilever entra com branding awareness e tecnologia de sabor.

A empresa testou modelos semelhantes anteriormente.

Há parceria ativa com a Cepera para molho de tomate Knorr e com a Bonduelle para vegetais. “Testamos algumas coisas antes para chegar a esse modelo. Agora consideramos a Vapza e a Prato Fino mais maduras”, explicou.

Os canais de distribuição prioritários são conveniência, varejo (supermercados, mas não hipermercados) e e-commerce, incluindo aplicativos de delivery e marketplaces. O executivo espera atingir o breakeven dessa frente “em pouquíssimos meses”.

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A categoria de caldos Knorr “ganhou participação de mercado” nos últimos meses, embora tenha enfrentado desafios no último ano. As margens de refeições prontas são “mais atrativas” que as de produtos tradicionais, explicou.

Para garantir espaço nas gôndolas, a empresa realizou o que Visentini classificou como “uma limpeza de portfólio de itens que não estavam performando bem”, com apresentação de dados aos varejistas. “Nós, como indústria, estamos levando fluxo para vocês”, costuma argumentar o executivo nas negociações.

Rodrigo Visentini, presidente da Unilever Alimentos no Brasil

Demanda por praticidade

A Unilever Alimentos não estabeleceu uma meta de market share para a categoria. “Muito mais do que ter uma participação específica, pensamos em fazer crescer o mercado de comidas prontas”, disse o executivo.

O executivo apontou para mudanças de comportamento, como o hábito de “comer mais dentro do lar”, que cresceu após a pandemia, “seja com pedido de delivery ou cozinhando”.

No segundo caso, há uma ressalva: o hábito de cozinhar “ainda é relevante”, mas há “uma parcela na população que não tem tempo”.

A companhia identifica uma demanda crescente por produtos que combinem praticidade e saudabilidade, mas avalia que “ainda não existe uma alternativa viável” no mercado brasileiro.

Visentini disse que não há discussão com a Prato Fino sobre eventual participação acionária. Com a Vapza, “depende do sucesso do negócio”, mas “ainda não há nada definido para onde vai o tipo de contrato”. As empresas estão “na fase de experimentação e inovação”.

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As parcerias não alteram o guidance de crescimento da Unilever Alimentos para 2025. “É uma avenida de crescimento global, que nós chamamos de mini-meals na Unilever”, disse.

A estratégia faz parte de três verticais da empresa: condimentos (maioneses e molhos), cooking aids (preparos como Knorr e Maizena) e mini-meals.

Visentini afirmou que a Unilever Alimentos “tem sido um motor de crescimento” da operação brasileira nos últimos três anos.

“Hellmann’s cresce em ritmo de dois dígitos. De cada dez lares do Brasil, nove têm maionese e sete são Hellmann’s”. A marca dobrou de tamanho nos últimos três anos.

O executivo reconheceu a pressão inflacionária e a migração de consumidores para marcas próprias, mais acessíveis em preços, mas disse que “o consumidor brasileiro busca marcas em que eles confiam e amam”, citando o posicionamento de destaque de Hellmann’s em pesquisas de Top of Mind.

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